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Gasto dos governos terá de ser revisto, diz Banco Mundial
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Para o economista-chefe do
Banco Mundial (Bird) para a
América Latina e o Caribe, Augusto de la Torre, a região está
mais bem preparada do que no
passado para enfrentar a atual
crise financeira, mas adverte de
que se trata de uma "tormenta
cada vez mais violenta".
À Folha, De la Torre afirmou
que os países mais dependentes dos EUA, como México, já
estão sofrendo um duro impacto, enquanto Brasil, Argentina
e outras nações com parceiros
comerciais diversificados sentirão a crise de forma "mitigada
e postergada".
Equatoriano, De la Torre está no Bird desde 1997. Antes,
foi presidente do Banco Central de seu país. Leia, a seguir,
trechos da entrevista concedida por e-mail:
FOLHA - O sr. tem dito que a América Latina está em melhores condições para enfrentar a crise do que no
passado. Por quê?
AUGUSTO DE LA TORRE - Em geral,
a América Latina e do Caribe
(ALC) é agora menos vulnerável aos choques macroeconômicos e financeiros do que no
passado. E isso não é produto
de pura boa sorte, mas obedece
às boas políticas seguidas pelos
países da região na última década e a uma menor dependência
dos fluxos de capitais externos.
Em particular, nos últimos
cinco anos, a ALC registra: a)
uma substancial redução do
risco monetário e de refinanciamento nas carteiras de dívida governamental , junto com
um aprofundamento dos mercados domésticos de dívida em
moeda nacional; b) um incremento das reservas em moeda
estrangeira; c) uma maior flexibilidade nos tipos de câmbio,
como parte de um marco de política monetária mais robusto e
confiável; d) necessidades mais
baixas de financiamento fiscal
e da conta corrente externa, associadas a menores déficits; e)
uma reorientação de maior espaço fiscal para os gastos em
educação, saúde e social. Poderíamos dizer que a América Latina é como um barco mais bem
construído, mas navegando em
meio de uma tormenta cada vez
mais violenta.
FOLHA - Quais devem ser as principais preocupações dos países da região diante da crise?
DE LA TORRE - A capacidade de
responder à deterioração das
condições internacionais dependerá do grau de vulnerabilidade real e financeira. Na frente monetária, a discussão será
sobre a conveniência de passar
a uma política monetária menos restritiva e quando fazê-lo.
A capacidade de relaxar a política monetária para que tenha
um papel contracíclico dependerá não apenas do grau de
avanço na luta contra a inflação
como também, e significativamente, do grau de estresse financeiro e da robustez de largo
prazo da trajetória fiscal.
A política fiscal também enfrentará importantes desafios.
Os países da região terão de administrar seus programas de
gasto fiscal num contexto de
menor arrecadação.
FOLHA - Como administrar a grande dependência da exportação de
commodities?
DE LA TORRE - A redução no preço das mesmas como produto
da desaceleração da economia
global piorará em termos de intercâmbio para a região em geral, pois a América Latina é um
exportador de commodities.
Mais de 90% do PIB e da população regional residem em países que são exportadores primários de commodities, os
quais se verão afetados negativamente pela queda dos preços.
Mas cerca de metade dos países, localizados sobretudo na
América Central e no Caribe,
são importadores primários de
commodities. Para eles, a recente queda dos preços de combustíveis, metais industriais e
cereais será um alívio. Em muitos casos, infelizmente, esse alívio será neutralizado por um
menor fluxo de remessas e o
crescimento econômico estancado. Além disso, a queda no
preço dos alimentos e dos combustíveis ajudará a reduzir as
pressões inflacionárias.
FOLHA - Quase todos os países da
região têm nos EUA seu principal
mercado, e muitos dependem das
remessas dos imigrantes. Quais podem ser os efeitos dessa dependência e o que se pode fazer para mitigar os prejuízos?
DE LA TORRE - O principal será
uma diminuição da demanda
mundial para as exportações da
ALC. Isso se aprofundará para
a região em seu conjunto devido à diminuição nas remessas,
ao enfraquecimento do preço
das commodities, ao maior custo do crédito e ao efeito retardado da política pública de contração que os países da ALC
têm seguido, até agora, para aliviar a pressão inflacionária.
Dessa maneira, se prevê que a
desaceleração cíclica na ALC
será mais pronunciada e estará
sujeita a um maior risco de perdas. Em especial, se espera que
o crescimento na ALC diminua
de 5,6%, em 2007, a uma cifra
estimada de 4,6%, em 2008, e a
entre 2,5% e 3,5%, em 2009.
Aqueles países que estão estreitamente unidos à economia
dos EUA, como México e os
países centro-americanos, já
sentem o impacto. Enquanto os
países mais relacionados com
outras regiões, como Argentina, Peru e Brasil, verão um impacto mitigado e postergado,
sempre e quando o crescimento chinês continue sendo forte.
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