São Paulo, domingo, 26 de outubro de 2008

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Colapso na Bolsa ameaça renda de aposentados

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Enquanto mexe com o cotidiano da população americana, a crise econômica do país ameaça também seu futuro, com perdas em fundos de aposentadoria que passam dos US$ 2 trilhões neste ano, segundo dados do governo.
Trabalhadores que tinham grande parte dos ativos aplicados em ações, de olho em uma aposentadoria mais gorda, optam agora por opções mais seguras, ainda que de menor rendimento. "Já perdi 25% em ativos desde o final do ano passado. A maior parte das perdas aconteceu no último mês, de forma muito rápida", diz o designer americano Robert Salpeter, de 73 anos, que, apesar de ter se aposentado oficialmente aos 62 anos no sistema público de Seguridade Social, decidiu continuar trabalhando e juntando dinheiro para incrementar a aposentadoria privada, da qual também já usufrui.
"Falei com meu corretor e mudamos os investimentos. Eu aplicava 50% em ações e 50% em renda fixa. Agora meu dinheiro está 94% em renda fixa e 6% em ações. Tenho uma filha na universidade e não posso arriscar mais nada", diz ele, que, temendo tempos difíceis, decidiu não viajar no fim do ano e suspendeu os jantares em restaurantes. Sua mulher, Regina, faz piada sobre as perdas financeiras: "Estamos nos divorciando: eu e meu dinheiro."
A idade para aposentadoria integral pelo sistema de Seguridade Social é 65 anos. Salpeter quis se aposentar aos 62 porque na época tinha outra filha na universidade e precisava começar a receber. A média do benefício pelo sistema público é de US$ 1.100 por mês.
Para fundos privados de aposentadoria, o governo proporciona vantagens tarifárias -algo que também acontece em poupanças dedicadas a pagamento de anuidades universitárias, por exemplo.
Foi em um desses fundos abençoados pelo governo que Diane Ventura, 54, queimou 10% do montante poupado ao longo da vida profissional.
"Como todo mundo nos EUA, estou mudando agora para uma aplicação mais conservadora, para parar de perder dinheiro. Vamos esperar a crise passar. Até lá, evito gastar com ingressos de cinema, teatro, shows, restaurantes, essas coisas", diz ela, na turma dos americanos que, por temerem a recessão, acabam colaborando com ela ao consumirem menos.
Para piorar a situação, o sistema de Seguridade Social está prestes a explodir. A previsão é que o orçamento comece a sangrar nos próximos anos, quando as crianças nascidas no pós-guerra (quando houve explosão de natalidade) chegarão à idade de aposentadoria integral.


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