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Perdas de energia superam uma hidrelétrica
Provocadas por ineficiência das concessionárias ou furto, representaram R$ 4,7 bi em 2007, pagos pelos consumidores
Números são de auditoria
sobre o setor elétrico feita
pelo TCU; entre 2003 e 2007,
as perdas comerciais e as
técnicas aumentaram 15%
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Provocadas por ineficiência
das concessionárias ou furto, as
perdas do setor elétrico somaram, no ano passado, quase três
vezes a energia a ser gerada pela usina de Santo Antônio, a
primeira hidrelétrica do complexo do rio Madeira (RO), que
começa a ser construída na
Amazônia.
Os números são de auditoria
sobre o setor elétrico feita pelo
TCU (Tribunal de Contas da
União). Repassadas aos usuários nas tarifas de luz, essas
perdas representaram, no ano
passado, uma conta bilionária:
R$ 4,7 bilhões foram pagos pelos consumidores. "Um certo
nível de perdas é inevitável,
mas, certamente, é gerenciável
e passível de regulação", diz o
relatório a que a Folha teve
acesso.
Chamou a atenção dos auditores a tendência de crescimento nas perdas, um sinal de
ineficácia do sistema. Entre
2003 e 2007, segundo o tribunal, as perdas comerciais e técnicas aumentaram 15%, num
ritmo mais acelerado do que o
crescimento registrado na
oferta de energia no período.
No ano passado, as perdas
técnicas -vinculadas à manutenção e à qualidade dos equipamentos usados na transmissão e na distribuição- representaram o volume de energia
suficiente para abastecer por
um ano três Estados: Bahia,
Pernambuco e Ceará juntos,
com 11,6 milhões de consumidores. Já as perdas comerciais
são equivalentes à energia que
abastece os 6,2 milhões de consumidores de Minas Gerais.
Em 2008, as perdas serão
ainda maiores, disse à Folha o
presidente da Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica),
Jerson Kelman, que confirma
os números da auditoria do
TCU. "A perda é enorme."
Ele insiste, porém, em que
não há soluções simples para o
problema. O combate às perdas
pressupõe investimentos por
parte das concessionárias e,
consequentemente, também
significam custo para os usuários. "Teoricamente, poderia se
reduzir as perdas a quase zero,
mas isso custa, o assunto não é
simples", alega.
A auditoria do TCU mostra
que as perdas comerciais, embora com um peso menor na
conta final, são as que mais
cresceram. Supostamente, essas perdas estão associadas a
questões sociais, como a pobreza e a violência.
Áreas de risco no Rio de Janeiro respondem, por exemplo,
por 37% das perdas comerciais
das duas concessionárias que
atendem o Estado.
Mas o relatório registra, com
base em relatório da concessionária Ampla, que o furto de
energia no Estado envolve até
igrejas católicas ou evangélicas,
polícia, escolas, a residência de
um juiz, a residência de um
prefeito, restaurantes, hotéis,
padarias e condomínios horizontais de classe alta.
A regulação defendida pela
Aneel e apoiada pelo TCU prevê a fixação de metas que levam
em conta o grau de desordem
social da área de concessão, ingredientes como a desigualdade de renda, o número de domicílios em favelas e o grau de
violência. Na combinação desses critérios, o Rio de Janeiro
perde para dois outros Estados:
Pará e Amazonas.
Por ora, TCU e Aneel apontam a instalação de medidores
eletrônicos como a principal
alternativa disponível para
conter o furto de energia.
Parte das 64 concessionárias
de energia ainda usa os chamados relógios, uma tecnologia de
mais de cem anos, embora a
tecnologia da medição centralizada esteja disponível no Brasil há mais de uma década.
Apesar do custo das perdas
nas tarifas de energia, o TCU
apurou que apenas 7,6% da
parcela da receita anual das
concessionárias destinada à
pesquisa foi aplicada em projetos de combate às perdas.
"Além disso, não há aferição da
efetividade desses projetos",
anota a auditoria.
Diferentemente do que sugeriram os técnicos do tribunal, o
relator Benjamin Zimler não
fixou prazo para que a Aneel
apresente plano com metas para a redução das perdas.
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