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Ações da Vale resistem à pressão de Lula
Papéis da companhia acumulam alta de mais de 60% neste ano; valorização mais do que compensa as perdas com a crise
Para analistas, o mercado ignora a pressão política sobre a gestão da Vale
e se pauta pelos bons fundamentos da empresa
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Pressionada pelo governo
Lula e alvo de rumores sobre
mudanças em sua diretoria, a
Vale vê suas ações resistirem ao
noticiário negativo, que, em tese, poderia afetar o desempenho da mineradora no mercado
financeiro. Ao contrário: os papéis só fazem subir e já mais do
que compensaram a perda de
mais de 30% acumulada no final do ano passado por causa da
crise financeira internacional.
Neste ano, as ações PNA
(preferenciais, de maior liquidez) já subiram quase 65%. As
ordinárias avançaram 57%.
Nos dois casos, mais do que
compensaram o desempenho
gerado pela crise, detonada em
15 de setembro de 2008 com a
quebra do Lehman Brothers.
No período, os papéis da companhia somam altas de 31% e
27%, respectivamente.
Para analistas, o mercado ignora completamente as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a atual
gestão da mineradora -a qual
cobra mais investimento e um
posicionamento mais nacionalista. Também não repercute a
tentativa -abortada, por enquanto- do empresário Eike
Batista de comprar uma fatia
da mineradora.
"Tudo isso é jogo político. O
mercado está muito mais atento ao desempenho da Vale, que
melhorou muito. A economia
reagiu. A China compra volumes recordes de minério. O lucro do terceiro trimestre deve
crescer bem. É isso o que importa", avalia Pedro Galdi, analista da SLW.
Na visão de Antonio Emílio
Ruiz, do Banco do Brasil, o
mercado se pauta muito mais
pelos "fundamentos" da empresa do que por essa "pressão
política".
Apesar do bom desempenho
neste ano, a Vale foi das empresas mais castigadas pela crise e
os papéis ainda acumulam uma
alta menor do que a do Ibovespa desde 15 de setembro. No
período, o índice soma uma valorização de 38%.
Embora o governo tenha influência sobre a companhia,
Ruiz não acredita numa mudança imediata na direção da
empresa -comandada por Roger Agnelli, da cota do acionista
Bradesco.
Há, porém, um desconforto
entre analistas na ofensiva do
Planalto. Muitos preferem não
se identificar ou para evitar polêmica ou por seus bancos terem negócios com a Vale. Mas
eles veem uma pressão descabida sobre uma empresa privada. Lembram que a Previ,
maior acionista da minerada, é
uma entidade privada, dos funcionários do Banco do Brasil, e
não uma estatal.
Se o executivo fosse tirado
agora da presidência da Vale,
diz, "pegaria muito mal" para o
governo, pois a ingerência na
companhia seria evidente.
Mesmo que indiretamente, o
governo mantém presença na
Vale por meio dos controladores Previ, fundo de pensão do
Banco do Brasil, e BNDES. A
Previ é a maior acionista.
Siderurgia
Dentre as queixas do governo, estão as demissões e o corte
de investimentos após a crise.
Outro alvo de críticas é o fato de
a empresa não investir pesado
na siderurgia.
Exportadora de minério bruto, a Vale lucra bem mais ao investir apenas em mineração,
cujas margens são melhores do
que as da siderurgia, segundo
Ruiz, do BB.
"O papel da Vale é e sempre
foi o de fomentar a siderurgia.
Trazer investidores e ter uma
participação minoritária nas
usinas. Depois que ela cativa o
cliente [a siderúrgica], vende a
participação. Esse é o melhor
modelo para a Vale. Siderurgia
não é o foco", diz Galdi.
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