São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Ações da Vale resistem à pressão de Lula

Papéis da companhia acumulam alta de mais de 60% neste ano; valorização mais do que compensa as perdas com a crise

Para analistas, o mercado ignora a pressão política sobre a gestão da Vale e se pauta pelos bons fundamentos da empresa

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Pressionada pelo governo Lula e alvo de rumores sobre mudanças em sua diretoria, a Vale vê suas ações resistirem ao noticiário negativo, que, em tese, poderia afetar o desempenho da mineradora no mercado financeiro. Ao contrário: os papéis só fazem subir e já mais do que compensaram a perda de mais de 30% acumulada no final do ano passado por causa da crise financeira internacional.
Neste ano, as ações PNA (preferenciais, de maior liquidez) já subiram quase 65%. As ordinárias avançaram 57%. Nos dois casos, mais do que compensaram o desempenho gerado pela crise, detonada em 15 de setembro de 2008 com a quebra do Lehman Brothers. No período, os papéis da companhia somam altas de 31% e 27%, respectivamente.
Para analistas, o mercado ignora completamente as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a atual gestão da mineradora -a qual cobra mais investimento e um posicionamento mais nacionalista. Também não repercute a tentativa -abortada, por enquanto- do empresário Eike Batista de comprar uma fatia da mineradora.
"Tudo isso é jogo político. O mercado está muito mais atento ao desempenho da Vale, que melhorou muito. A economia reagiu. A China compra volumes recordes de minério. O lucro do terceiro trimestre deve crescer bem. É isso o que importa", avalia Pedro Galdi, analista da SLW.
Na visão de Antonio Emílio Ruiz, do Banco do Brasil, o mercado se pauta muito mais pelos "fundamentos" da empresa do que por essa "pressão política".
Apesar do bom desempenho neste ano, a Vale foi das empresas mais castigadas pela crise e os papéis ainda acumulam uma alta menor do que a do Ibovespa desde 15 de setembro. No período, o índice soma uma valorização de 38%.
Embora o governo tenha influência sobre a companhia, Ruiz não acredita numa mudança imediata na direção da empresa -comandada por Roger Agnelli, da cota do acionista Bradesco.
Há, porém, um desconforto entre analistas na ofensiva do Planalto. Muitos preferem não se identificar ou para evitar polêmica ou por seus bancos terem negócios com a Vale. Mas eles veem uma pressão descabida sobre uma empresa privada. Lembram que a Previ, maior acionista da minerada, é uma entidade privada, dos funcionários do Banco do Brasil, e não uma estatal.
Se o executivo fosse tirado agora da presidência da Vale, diz, "pegaria muito mal" para o governo, pois a ingerência na companhia seria evidente. Mesmo que indiretamente, o governo mantém presença na Vale por meio dos controladores Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, e BNDES. A Previ é a maior acionista.

Siderurgia
Dentre as queixas do governo, estão as demissões e o corte de investimentos após a crise. Outro alvo de críticas é o fato de a empresa não investir pesado na siderurgia.
Exportadora de minério bruto, a Vale lucra bem mais ao investir apenas em mineração, cujas margens são melhores do que as da siderurgia, segundo Ruiz, do BB.
"O papel da Vale é e sempre foi o de fomentar a siderurgia. Trazer investidores e ter uma participação minoritária nas usinas. Depois que ela cativa o cliente [a siderúrgica], vende a participação. Esse é o melhor modelo para a Vale. Siderurgia não é o foco", diz Galdi.


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