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Comércio ilegal ganha fôlego com Natal
Um ano após blitze, as lojas funcionam e a oferta de marcas pirateadas cresce, revelando ineficiência das operações
Autoridades dizem que, apesar de venda continuar, repressão já aumentou a arrecadação e tirou país de lista de observação dos EUA
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano após as megaoperações da Receita Federal, da Secretaria da Fazenda paulista e
da Polícia Federal para combater a sonegação e apreender
mercadorias falsificadas e contrabandeadas, o comércio de
produtos ilegais não só continua como se expande nos shoppings populares paulistas, com
aumento na oferta de marcas
pirateadas.
Corredores lotados de consumidores às vésperas das festas de final de ano mostram que
a venda de produtos irregulares
está a todo vapor.
A Folha visitou nesta semana dois centros comerciais da
Paulista, o Stand Center e o
Promocenter, e o shopping 25
de Março e constatou que as
blitze que mobilizaram mais de
mil fiscais no final de 2005 e
neste ano não surtiram efeito.
Catálogos que oferecem CDs
de música falsificados, cópias
"prensadas" para videogames e
DVDs de filmes pirateados
nem sequer são escondidos sob
o balcão, como no passado.
Por que esses produtos são
recolhidos em megaoperações
e voltam às prateleiras assim
que os fiscais deixam os locais?
Para os responsáveis pelo combate ao comércio irregular no
país, são várias as explicações.
É impossível controlar a
fronteira do Brasil. Se os fiscais
identificam uma rota de entrada, os contrabandistas encontram outra. Além disso, há demanda por esses produtos.
Existe ainda uma razão "estrutural" para esse comércio
não perder fôlego. Num país
carente de emprego e renda, a
venda de produtos ilegais é
uma fonte de "sobrevivência".
"O comércio de produtos ilegais virou atividade para muitos. Intensificamos o combate,
mas ele tem de vir acompanhado de programas de geração de
emprego", diz Mauro de Brito,
chefe da Divisão de Repressão
ao Contrabando e Descaminho
da Receita. Ações repressivas
são importantes porque, se o
comerciante perde toneladas
de mercadorias, o negócio deixa de ser tão lucrativo.
As 1.025 operações feitas
neste ano contribuíram para
reduzir a sonegação, diz. De janeiro a setembro, o valor total
das apreensões foi de R$ 602,8
milhões, ou 55% maior que em
igual período de 2005.
"A repressão ao comércio ilegal é uma atividade contínua,
de longo prazo, trabalhosa", diz
José Guilherme Antunes de
Vasconcelos, inspetor da Alfândega do Porto de Santos.
Prova de que resultados positivos são obtidos, diz, é que o
Brasil não está mais na "lista
negra da pirataria", o que fez
com que os EUA revissem a decisão de excluir o país do Sistema Geral de Preferências, que
concede reduções tarifárias.
"O pequeno comércio é a
parte visível de uma organização criminosa responsável pelo
abastecimento dos produtos.
Na 25 de Março, se as mercadorias são levadas, no dia seguinte a organização providencia a
sua reposição. As blitze quebram a espinha do negócio,
mas teriam de ocorrer uma
após a outra", diz Antonio Carlos de Moura Campos, diretor-adjunto da Diretoria Executiva
da Administração Tributária
da Fazenda paulista.
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