São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Lula já admite que virou refém de PIB de 5%

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que precisa entregar um crescimento de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2007 para não perder a partir de 2008 o capital político conquistado na reeleição.
Em conversas reservadas, Lula admite que ele próprio criou e caiu numa armadilha ao se comprometer com o crescimento de 5% anual quando discursou no dia em que se reelegeu, 29 de outubro.
Refém da promessa, Lula pressiona fortemente a equipe econômica a elaborar medidas que estimulem a economia.
Ele quer garantir agora condições para que 2007 tenha expansão econômica significativa, mesmo correndo o risco de não repetir o mesmo desempenho no resto do segundo mandato. Ou seja, vale até uma "bolha".
Para Lula, assumir uma agenda "conservadora" de imediato poderia lhe custar caro politicamente.
Uma reforma da Previdência e um ajuste fiscal duro demorariam a resultar em crescimento econômico de 5% e o fariam perder capital político no início do segundo mandato, pois ele não assumiu essas propostas nitidamente na eleição.
O presidente cobrou "ousadia" da equipe econômica porque diz que sempre houve a mesma receita nas conversas com a maioria dos economistas: corte de gastos e reforma da Previdência.
Ele diz reservadamente estar disposto a abraçar essa agenda, ainda que parcialmente, mas reluta em fazê-lo semanas depois de terminada a eleição.
Primeiro, Lula deseja que 2007 seja como 2004, quando o PIB cresceu 4,9% na comparação com o ano anterior.
O presidente está assustado com a previsão de baixo crescimento neste ano. Ele chegou a falar publicamente em uma taxa entre 4% e 5% para 2006.
O governo teme que o ano termine com um PIB crescendo por volta dos 3%, talvez menos.
Ao anunciar um corte de gastos de R$ 500 milhões na sexta, o Ministério do Planejamento reduziu sua previsão de crescimento do PIB para 2006 de 3,7% para 3,2%.
Se em 2007 for repetido um desempenho econômico parecido, Lula acredita que seu discurso de que o país está pronto para crescer desabará politicamente.
E ele correrá o risco de enfraquecimento precoce -terá ainda três anos de governo pela frente.

"Gordura política"
Nas palavras de um auxiliar, Lula quer acumular uma "gordura política", dizendo que o seu esforço resultou numa boa taxa do PIB em 2007 e que, portanto, a taxa é possível.
Então, poderia se dispor a movimentos impopulares na economia.
Obviamente, o presidente não pensa em expansão dos gastos públicos no ritmo de 2006.
Também continuará a priorizar a baixa inflação. Lula acha que agora precisa é "destravar" os investimentos em infra-estrutura no país.


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