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Custo do crédito sobe e preocupa governo
Juros de financiamentos a pessoas físicas atingiram média de 60% ao ano em novembro, maior patamar em três anos
Equipe econômica estuda medidas que reduzam o custo dos empréstimos
para não comprometer
o crescimento em 2009
SHEILA D'AMORIM
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de pouco mais de dois
meses tentando administrar os
impactos negativos da crise financeira externa na economia
brasileira, o governo mudou o
foco de suas preocupações. Em
vez da oferta de crédito, agora é
o custo dos empréstimos o alvo
das medidas em discussão.
Segundo levantamento do
Banco Central, o custo médio
de um empréstimo bancário
chegou a 45% ao ano neste começo de mês, se considerada a
média dos contratos firmados
entre os dias 1º e 12 de novembro. Em outubro, essa taxa estava em 42,9% ao ano e, em setembro, em 40,4%.
A pedido do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a equipe
econômica começou a mapear
medidas que podem ser adotadas nessa área, mas, segundo a
Folha apurou, já se sabe que o
problema é bem mais difícil de
ser contornado do que o da falta de liquidez, que dominou as
atenções até agora.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir
Lopes, a escalada dos juros não
deve ser interrompida enquanto as turbulências nos mercados globais não diminuírem.
A alta é mais pronunciada
nos financiamentos a pessoas
físicas. Nessa modalidade, a taxa média praticada pelos bancos, que estava em 54,8% ao
ano em outubro, já chegou a
59,8% neste começo de mês, nível mais alto registrado pelas
estatísticas do BC em três anos.
Para o governo, apesar de o
volume de dinheiro em circulação não ter sido totalmente restabelecido e de o crédito ter diminuído o ritmo de crescimento, a situação irá se acomodar
gradualmente. No entanto, se a
oferta for restabelecida num
patamar mais baixo, mas a demanda cair por causa do custo,
isso causará problemas para o
crescimento em 2009.
O ponto central para a equipe
econômica é como fazer cair o
valor cobrado nos empréstimos. Esse custo subiu nos últimos meses, reflexo não só do
agravamento da crise financeira mas também da elevação da
taxa básica de juros, a Selic.
"Spread" elevado
A equação passa pelo
"spread" das transações bancárias: a diferença entre o custo
que uma instituição tem para
captar dinheiro e o valor cobrado no empréstimo ao cliente. Aí
estão embutidos o lucro da
operação, os impostos pagos,
exigências feitas pelo governo,
como recolhimento compulsório (parcela do depósitos que fica parada no Banco Central), o
risco calculado para os clientes
e os custos administrativos.
Em setembro, o "spread" médio estava em 26,4 pontos percentuais. Isso significa que, dos
40,4% ao ano cobrados nos empréstimos, 26,4 pontos percentuais ficavam com os bancos.
Em outubro, o "spread" havia
subido para 28,4 pontos percentuais e neste começo de mês
está em 30,5 pontos.
"Esse movimento é reflexo
do maior conservadorismo das
instituições financeiras", afirma Lopes.
Ou seja, com receio de que a
crise afete a capacidade de pagamento de seus devedores, os
bancos estariam se antecipando a eventuais perdas e aumentando os juros.
Os presidente dos bancos federais, entre eles a Caixa Econômica e o Banco do Brasil,
tentaram explicar ao presidente Lula, na semana passada, que
a alta recente nesses "spreads"
é fruto do maior risco com a crise financeira global e também
das elevações dos juros promovidas pelo BC neste ano.
Não convenceram e saíram
do encontro com a ordem de
melhorarem sua eficiência administrativa para poderem, a
partir da mesma taxa Selic e de
um risco menor, pelo menos,
não cobrar mais caro nas operações. Afinal, uma parte importante do "spread", o recolhimento compulsório, foi reduzido significativamente nos últimos dois meses.
Lula está convencido de que
os bancos federais têm obrigação de liderar o movimento para brecar a alta do custo final
dos empréstimos. Por isso, ele
cobrou mais eficiência administrativa das duas instituições.
BB e Caixa estão reavaliando
metas de cortes de gastos, o que
inclui de pessoal a material de
escritório e cafezinho.
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