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Política de "colcha de retalhos" é ineficiente
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O governo decidiu estender a
vigência e promover novas desonerações tributárias nos últimos dias. Automóveis flex, móveis, material de construção e
algumas mais. Sem dúvida, reduzir a carga tributária, e não
aumentar gastos, é a melhor
forma de fazer política fiscal
anticíclica. Nesse sentido, nossos gestores de política econômica parecem estar mais bem
direcionados do que os dos países desenvolvidos, principalmente os americanos. Bom para o Brasil e ruim para os Estados Unidos.
Entretanto, em um país que
tem uma estrutura tributária
extremamente complicada e
pouco eficiente e uma situação
fiscal ainda não totalmente estabilizada, com uma relação divida líquida/PIB na casa dos
45%, adotar uma política de desoneração tributária apenas
para favorecer setores específicos é um risco.
Se, por um lado, a desoneração de tributos gera queda dos
preços dos bens e, dessa forma,
aumenta a demanda, por outro
diminui a arrecadação de tributos e, dado o total de despesas,
eleva o deficit fiscal do governo.
À medida que as desonerações são implementadas, a receita tributária diminui e o espaço para novas desonerações
é reduzido. Como resultado, a
possibilidade de fazer desonerações que favoreçam a economia como um todo também diminui.
Ou seja, é difícil entender por
que, em lugar de aproveitar a
aparente folga orçamentária
hoje existente para promover
uma redução dos impostos sobre a folha de salários, por
exemplo, que gera redução da
informalidade, aumento do
emprego, aumento do salário
real e ganhos de produtividade
e de competitividade para a
economia como um todo, o governo continua adotando uma
política tipo "colcha de retalhos" que somente favorece alguns setores e torna o sistema
tributário brasileiro ainda mais
caótico e pouco eficiente.
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO é prof. do Departamento de Economia da PUC-RJ e economista da
Opus Gestão de Recursos.
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