São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Lula inaugura gasoduto ocioso da Petrobras

Termelétricas de Manaus e região não fizeram a conversão para consumo do gás natural, e distribuidora não concluiu rede

Ligação Urucu-Manaus, a ser inaugurada hoje, deve ficar subutilizada até o fim de 2010 devido à falta de adaptação e infraestrutura

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

KATIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA EM MANAUS

O gasoduto Urucu-Manaus, da Petrobras, a ser inaugurado hoje pelo presidente Lula, ficará subutilizado pelo menos até setembro de 2010. A Folha apurou que as termelétricas não fizeram a conversão de seus sistemas de geração a diesel para o gás natural.
Tampouco foi concluída a rede de tubulação da Cigás (Companhia de Gás do Amazonas), que levará o produto do gasoduto às termelétricas. A Cigás é uma empresa de capital misto, controlada pelo Estado do Amazonas, e tem concessão para distribuir 5,5 milhões de metros cúbicos/dia, por 20 anos.
Com 661 km de extensão, o gasoduto foi construído para levar gás natural da região petrolífera de Urucu até Manaus. O objetivo é substituir o consumo de óleo por gás natural nas termelétricas que atendem a cidade e mais sete municípios.
Sete termelétricas de Manaus deveriam estar prontas para receber o gás: Aparecida e Mauá (da Eletrobrás); e cinco usinas privadas (Tambaqui, Jaraqui, Ponta Negra, Manauara e Cristiano Rocha). Nenhuma concluiu a conversão de seus sistemas. Também não estão preparadas as usinas dos demais municípios atendidos.
Segundo informações de executivos envolvidos no empreendimento, de início, o gasoduto só abastecerá a refinaria Reman, da própria Petrobras, instalada em Manaus. A previsão é que as termelétricas comecem os testes para uso do gás natural em julho e que só a partir de setembro de 2010 passem a substituir, efetivamente, o óleo pelo gás natural.
O presidente da Thermes Participações (acionista das usinas Tambaqui e Jaraqui), Athos Rache Filho, disse que um dos motivos para a demora na conversão é o descasamento entre os contratos que as térmicas possuem com a Amazonas Energia (empresa da Eletrobras, que compra a energia produzida por elas) e com a distribuidora Cigás.
Segundo o executivo, na eventualidade de faltar gás, as usinas seriam punidas pela Amazonas Energia e não poderiam repassar os custos da punição para a Cigás. Os contratos estão sendo repactuados.
A Folha apurou que o custo final de construção do gasoduto Urucu-Manaus ficará em torno de R$ 5 bilhões, um acréscimo de 108% em relação ao valor orçado no início do projeto, em 2006.
O encarecimento repercutirá no custo do gás. A previsão é que o uso do gás natural pelas termelétricas não resultará em redução de preço da energia ao consumidor final.
A previsão inicial era que o gasoduto custaria R$ 2,4 bilhões. Em março de 2008, a previsão já estava em R$ 3,5 bilhões. O último cálculo, de junho deste ano, era de R$ 4,8 bilhões, com previsão de mais gastos no final da obra. Além disso, houve atraso de um ano e oito meses nos trabalhos.
A Cigás atrasou ainda mais na implantação dos dutos para levar o gás do gasoduto às termelétricas. Uma das causas alegadas é que a empreiteira responsável pela obra contratou uma outra empresa para importar os tubos da China e estes foram retidos na alfândega pela Receita. O contrato com a empreiteira foi anulado.

Gasoduto
O primeiro trecho do gasoduto, de 279 km, foi entregue ao consórcio da Gasam, formado por OAS e Etesco. O contrato foi assinado no valor de R$ 342 milhões, em julho de 2006 e subiu para R$ 583 milhões.
O segundo trecho, de 196 km, foi entregue ao consórcio Andrade Gutierrez e Carioca Engenharia. É considerado o trajeto mais complicado da obra. O contrato, de R$ 666 milhões, sofreu aditivos de 84,5%.
O terceiro trecho, de 186 km, entre Anamã e Manaus, foi o único que não teve aumento de preço. O contrato com o consórcio Camargo Corrêa e Skanska Brazil, foi assinado em 2007 a R$ 428 milhões.


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