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Multa será repassada, afirma OceanAir
Para German Efromovich, ao punir empresas com aumento de tarifa, governo quer controlar o mercado, "o que não é bom"
Empresário diz que companhia não incorporou a BRA e reforça que somente fez acordo para transportar os passageiros
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
Da janela de seu escritório,
de onde se avista todos os pontos de embarque e desembarque no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o dono da OceanAir, German Efromovich, controla todas as saídas e
chegadas de aeronaves. "Aqui
faço as minhas estatísticas."
A OceanAir ainda não teve
sua participação no mercado
aumentada. As últimas prévias
da Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) não teriam incluído os cerca de 12 mil passageiros que Efromovich diz ter
transportado da BRA, que pediu cancelamento de seus vôos.
Dono de uma empresa de
energia que adquiriu a companhia aérea colombiana Avianca, Efromovich está às vésperas
de fazer mais um investimento
bilionário na aviação de ambos
os países. Enquanto olha para a
movimentação dos aviões em
Congonhas, faz contas e anuncia: chegaremos a 10% do mercado brasileiro em 2008.
A OceanAir nasceu como
uma empresa de táxi aéreo para
atender companhias de petróleo na bacia de Campos. Hoje é
a quinta maior em fatia de mercado, com 2,8% dos vôos domésticos, segundo a Anac.
Efromovich é dono do conglomerado Synergy Group,
com negócios nas áreas de petróleo e aviação.
FOLHA - A OceanAir foi acionada
para cobrir a operação da BRA. Mas,
mesmo assim, a participação da sua
companhia não aumentou. Por quê?
GERMAN EFROMOVICH - Que fique
bem claro: não incorporamos a
BRA. Fizemos acordo com o sócio brasileiro para transportar
os passageiros. Estamos na fase
final de negociação para ficarmos com cinco Boeing 737, dois
dos quais já operam em nossas
linhas, e três 767, porque não tínhamos condições de atender
os clientes da BRA operando
com nossas aeronaves. Até janeiro cobriremos vôos para
Cancun, no México, charters
para a Europa, parte dos vôos
regulares feitos pela BRA. Até
novembro, a Anac não tinha incluído nas estatísticas da OceanAir os 12 mil passageiros que
transportamos da BRA. Por isso as prévias não refletem nosso crescimento.
FOLHA - Afinal, quanto a OceanAir
poderá crescer?
EFROMOVICH - Até o momento
devemos ter crescido entre 1%
e 2% com os passageiros da
BRA. Estamos investindo US$
5 bilhões na compra de cem
aviões, simuladores de vôos e
peças de reposição. Metade
dessa frota ficará no Brasil. A
outra, irá para a Colômbia, onde operamos com a Avianca.
Queremos chegar em 2008
com 10% do mercado nacional.
FOLHA - Por que investir na aviação
comercial da Colômbia?
EFROMOVICH - O Synergy [grupo
de Efromovich a que pertencem suas companhias aéreas]
já investia em petróleo lá. Aí
apareceu a oportunidade de
comprar a Avianca, em processo de falência na corte americana. Disputamos com a Continental e vencemos. Mantivemos os funcionários e estamos
pagando um passivo de US$
320 milhões em impostos atrasados. Parcelamos as dívidas,
oferecendo aos credores ganhos extras caso a companhia
obtivesse lucro ao retornar às
atividades. Foi bem diferente
do que fizeram com a Varig.
Usaram o que deveria ser processo de recuperação judicial
para blindar calote e criar uma
empresa sem passivo. Poucos
investidores estrangeiros foram beneficiados. O caso da
Varig foi crime de lesa-pátria.
FOLHA - O sr. está dizendo que investimentos estrangeiros no setor
atrapalham?
EFROMOVICH - Investimento estrangeiro não é solução nem
salva companhia alguma. Entendo que se aproveitaram de
uma oportunidade para obter
lucro imediato sem se importar
com trabalhadores e passageiros. Compra e revenda imediata da Varig provaram isso.
FOLHA- Isso se repetiu com a BRA?
EFROMOVICH - Sim. Entraram
com um conjunto de bancos e
investidores estrangeiros com
objetivos puramente especulativos. Investiram muito dinheiro e, de repente, decidiram que
o negócio não era mais negócio.
Pararam de colocar dinheiro na
operação e deixaram de cumprir suas obrigações com os
credores. Isso não é quebrar, é
abandonar o barco.
FOLHA - Qual seria a solução?
EFROMOVICH - Deveria existir
uma lei obrigando os controladores a honrar com obrigações
financeiras. Não é aceitável que
os sócios de uma companhia
com saúde financeira decidam
abandoná-la de forma irresponsável, deixando pessoas que
compraram passagens e pacotes de viagem no chão e funcionários desempregados.
Mas vocês voavam no Peru e saíram.
EFROMOVICH - Decidimos parar,
mas transportamos todos os
passageiros, pagamos todos os
funcionários, avisados com
quatro meses de antecedência.
Planejamos a saída e cumprimos todas as obrigações tributárias. Por meio da embaixada
do Brasil em Lima, o presidente
Alan Garcia nos agradeceu pela
maneira decente com que interrompemos as atividades e
nos convidou a voltar a voar
com apoio governamental.
FOLHA -O governo decidiu que as empresas terão de pagar aos passageiros
caso os vôos atrasem. O sr. concorda?
EFROMOVICH - O governo está
tentando controlar o mercado,
isso não é bom. O mercado se
auto-regula. Liberaram o dólar
e ele não disparou. O papel do
Estado é apenas criar mecanismos para que o mercado cresça.
A cobrança de taxas e multas
por permanência nos aeroportos em outros países não resolveu o problema. No Brasil, estão penalizando as aéreas pela falta de infra-estrutura dos aeroportos. Com essa taxa vão
deslocar o problema de São
Paulo para outros lugares.
FOLHA - As multas aumentarão o
preço dos bilhetes?
EFROMOVICH - Não tenha dúvida. Esse é um custo operacional
e será repassado para os preços.
A cobrança da multa é um equívoco porque as aéreas pagarão
para continuar em solo. É mais
barato do que mandar passageiros para hotel, pagar traslado e refeições.
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