São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

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Multa será repassada, afirma OceanAir

Para German Efromovich, ao punir empresas com aumento de tarifa, governo quer controlar o mercado, "o que não é bom"

Empresário diz que companhia não incorporou a BRA e reforça que somente fez acordo para transportar os passageiros

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

Da janela de seu escritório, de onde se avista todos os pontos de embarque e desembarque no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o dono da OceanAir, German Efromovich, controla todas as saídas e chegadas de aeronaves. "Aqui faço as minhas estatísticas."
A OceanAir ainda não teve sua participação no mercado aumentada. As últimas prévias da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não teriam incluído os cerca de 12 mil passageiros que Efromovich diz ter transportado da BRA, que pediu cancelamento de seus vôos.
Dono de uma empresa de energia que adquiriu a companhia aérea colombiana Avianca, Efromovich está às vésperas de fazer mais um investimento bilionário na aviação de ambos os países. Enquanto olha para a movimentação dos aviões em Congonhas, faz contas e anuncia: chegaremos a 10% do mercado brasileiro em 2008.
A OceanAir nasceu como uma empresa de táxi aéreo para atender companhias de petróleo na bacia de Campos. Hoje é a quinta maior em fatia de mercado, com 2,8% dos vôos domésticos, segundo a Anac. Efromovich é dono do conglomerado Synergy Group, com negócios nas áreas de petróleo e aviação.  

FOLHA - A OceanAir foi acionada para cobrir a operação da BRA. Mas, mesmo assim, a participação da sua companhia não aumentou. Por quê?
GERMAN EFROMOVICH
- Que fique bem claro: não incorporamos a BRA. Fizemos acordo com o sócio brasileiro para transportar os passageiros. Estamos na fase final de negociação para ficarmos com cinco Boeing 737, dois dos quais já operam em nossas linhas, e três 767, porque não tínhamos condições de atender os clientes da BRA operando com nossas aeronaves. Até janeiro cobriremos vôos para Cancun, no México, charters para a Europa, parte dos vôos regulares feitos pela BRA. Até novembro, a Anac não tinha incluído nas estatísticas da OceanAir os 12 mil passageiros que transportamos da BRA. Por isso as prévias não refletem nosso crescimento.

FOLHA - Afinal, quanto a OceanAir poderá crescer?
EFROMOVICH
- Até o momento devemos ter crescido entre 1% e 2% com os passageiros da BRA. Estamos investindo US$ 5 bilhões na compra de cem aviões, simuladores de vôos e peças de reposição. Metade dessa frota ficará no Brasil. A outra, irá para a Colômbia, onde operamos com a Avianca. Queremos chegar em 2008 com 10% do mercado nacional.

FOLHA - Por que investir na aviação comercial da Colômbia?
EFROMOVICH
- O Synergy [grupo de Efromovich a que pertencem suas companhias aéreas] já investia em petróleo lá. Aí apareceu a oportunidade de comprar a Avianca, em processo de falência na corte americana. Disputamos com a Continental e vencemos. Mantivemos os funcionários e estamos pagando um passivo de US$ 320 milhões em impostos atrasados. Parcelamos as dívidas, oferecendo aos credores ganhos extras caso a companhia obtivesse lucro ao retornar às atividades. Foi bem diferente do que fizeram com a Varig. Usaram o que deveria ser processo de recuperação judicial para blindar calote e criar uma empresa sem passivo. Poucos investidores estrangeiros foram beneficiados. O caso da Varig foi crime de lesa-pátria.

FOLHA - O sr. está dizendo que investimentos estrangeiros no setor atrapalham?
EFROMOVICH
- Investimento estrangeiro não é solução nem salva companhia alguma. Entendo que se aproveitaram de uma oportunidade para obter lucro imediato sem se importar com trabalhadores e passageiros. Compra e revenda imediata da Varig provaram isso.

FOLHA- Isso se repetiu com a BRA?
EFROMOVICH
- Sim. Entraram com um conjunto de bancos e investidores estrangeiros com objetivos puramente especulativos. Investiram muito dinheiro e, de repente, decidiram que o negócio não era mais negócio. Pararam de colocar dinheiro na operação e deixaram de cumprir suas obrigações com os credores. Isso não é quebrar, é abandonar o barco.

FOLHA - Qual seria a solução?
EFROMOVICH
- Deveria existir uma lei obrigando os controladores a honrar com obrigações financeiras. Não é aceitável que os sócios de uma companhia com saúde financeira decidam abandoná-la de forma irresponsável, deixando pessoas que compraram passagens e pacotes de viagem no chão e funcionários desempregados.

Mas vocês voavam no Peru e saíram.
EFROMOVICH
- Decidimos parar, mas transportamos todos os passageiros, pagamos todos os funcionários, avisados com quatro meses de antecedência. Planejamos a saída e cumprimos todas as obrigações tributárias. Por meio da embaixada do Brasil em Lima, o presidente Alan Garcia nos agradeceu pela maneira decente com que interrompemos as atividades e nos convidou a voltar a voar com apoio governamental.

FOLHA -O governo decidiu que as empresas terão de pagar aos passageiros caso os vôos atrasem. O sr. concorda?
EFROMOVICH
- O governo está tentando controlar o mercado, isso não é bom. O mercado se auto-regula. Liberaram o dólar e ele não disparou. O papel do Estado é apenas criar mecanismos para que o mercado cresça. A cobrança de taxas e multas por permanência nos aeroportos em outros países não resolveu o problema. No Brasil, estão penalizando as aéreas pela falta de infra-estrutura dos aeroportos. Com essa taxa vão deslocar o problema de São Paulo para outros lugares.

FOLHA - As multas aumentarão o preço dos bilhetes?
EFROMOVICH
- Não tenha dúvida. Esse é um custo operacional e será repassado para os preços. A cobrança da multa é um equívoco porque as aéreas pagarão para continuar em solo. É mais barato do que mandar passageiros para hotel, pagar traslado e refeições.


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