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VINICIUS TORRES FREIRE
Mentes degradadas e engradadas
O Masp atrás das grades é um reflexo de burrices piores e recorrentes do mandarinato "socialite-cultural" paulistano
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COMO FICARIA o Masp atrás das
grades? A direção do recém-assaltado Museu de Arte de
São Paulo pretendia cercar o edifício, uma caixa de concreto de mais
de 70 metros de comprimento, suspensa por quatro pilares.
Não demoraria muito, mendigos
que vivem por ali e fazem do "maior
vão livre do mundo" o seu quarto de
dormir utilizariam as grades como
varal. De sua calçada meio suja e cinzenta, o museu engradado poderia
parecer ainda um estacionamento
da avenida Paulista, a entrada deserta de um quartel ou de um fórum de
justiça, desses feitos com corrupção
(mas o prédio do juiz Lalau não tem
grades). O Masp ficaria ainda mais
integrado à paisagem paulistana.
Grades são reflexos do desespero
particularista (mas compreensível)
diante da ameaça constante de latrocínio e coisas ainda piores. Mas
os prédios mais engradados de São
Paulo, que contam até com milícias,
são assaltados. Além do mais, as
obras dos grandes museus americanos e europeus também são roubadas, marteladas, rasgadas etc.
O problema não está bem aí, em
prédio. Mas, sim, o edifício e a segurança do Masp são esculhambados.
Para começar com exemplo bem
corriqueiro, considere-se o gosto
degradado de quem quer cercar o
museu. É o mesmo de quem emparedou sobrados burgueses das avenidas Pacaembu, Rebouças e Brasil,
alguns até simpáticos, achando que
esses caixotes ficariam mais "modernos" ou comerciais. De quem desenha e constrói prédios "mediterrâneos" ou "neoclássicos", como o
próprio presidente do Masp, o arquiteto da Daslu, um caixote cheio
de penduricalhos "clássicos".
É gente que substituiu o "chá de
caridade" por eventos de "responsabilidade social" (mas promoveu a
expulsão de pobres do centro para a
periferia orbitada por Plutão).
É gente que dá nomes "artísticos"
e "culturais" a bancos e nomes de
bancos para teatros e cinemas, aliás
fazendo marketing com isenção de
impostos e promovendo entretenimento de quinta com dinheiro público. Dinheiro para mostrar acervos, evitar seu saque (como também
ocorre em bibliotecas e igrejas), financiar bolsas, cadeiras e institutos
universitários? Neca, ou quase.
Há museu demais e de menos (por
que todo edifício antigo tem de virar
museu, aliás?). Muito prédio, sigla,
curador, diretor, coquetel e poucas
idéias e pouco espaço para os ótimos
acervos de Masp, MAC e MAM, que
vivem nos porões. Nesse deserto,
João Sayad parece que vai arranjar
um lugar para o MAC.
Os ricos da primeira metade do século 20 fizeram USP, Masp, MAC,
MAM. Óbvio, havia arrivismo, modismo e, inevitável, "socialistismo".
Mas o próprio provincianismo da
elite paulista deu liga a uma comunhão próxima e circunscrita de ricos, intelectuais e artistas. De tal caldo de cultura (ôps) brotou um pouco de civilização na cidade. A elite
de hoje se ocupa mais de fofoca e
disputinhas no mandarinato socialite-cultural, de museus à Osesp.
Quantos doam? Quantos o fazem
em pessoa, e não pela empresa, por
meio da qual se pode reaver o dinheiro com planejamento tributário, isenção fiscal ou repasse para
preços? Qual foi a última grande
obra cultural da elite paulista? Cadê o apreço pela iniciativa privada?
vinit@uol.com.br
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