São Paulo, quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

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Após crise, Merrill Lynch levanta US$ 7,5 bi

Após perda com crise financeira, banco dos EUA vende ativos para fundo do governo de Cingapura e General Electric

Instituição já contabilizou perdas de US$ 8 bi com créditos imobiliários, o que levou à demissão de seu presidente-executivo

DA REPORTAGEM LOCAL

O banco de investimentos dos EUA Merrill Lynch, um dos mais abalados com perdas decorrentes da crise hipotecária americana, anunciou que irá receber aporte de US$ 6,2 bilhões, após negociar a venda de parte de suas ações para um fundo de Cingapura e para a administradora de recursos americana Davis Selected Advisers.
Além disso, o Merrill Lynch vai conseguir outros US$ 1,3 bilhão com a venda de suas operações de intermediação de empréstimos à General Electric Company.
O Temasek, que é um fundo de investimento do governo de Cingapura, vai adquirir US$ 4,4 bilhões em ações do Merrill Lynch neste momento e tem a opção de ficar com mais US$ 600 milhões até o fim de março. A Davis Selected Advisers vai ficar com US$ 1,2 bilhão em ações da instituição.
Segundo o Merrill Lynch, o investimento do Temasek e da Davis não irá representar para nenhum deles participação na gestão da instituição americana. A expectativa é que a operação seja concluída ainda em janeiro.
"É muito positivo que o Merrill Lynch esteja tomando as medidas necessárias para tentar equilibrar seu balanço contábil", afirmou Sean Egan, diretor administrativo da consultoria Egan-Jones Ratings.
No mercado agora especula-se que o Merrill Lynch poderia optar por vender sua participação na agência de notícias e dados financeiros Bloomberg.
A crise que abalou o setor de crédito imobiliário de alto risco dos EUA -o "subprime"- levou o Merrill Lynch a amargar prejuízos de US$ 2,3 bilhões no terceiro trimestre, sendo a maior perda trimestral já apurada pelo banco. Em 2006, o banco teve lucro de US$ 3,1 bilhões no mesmo período. Os títulos e empréstimos vinculados a contratos de crédito "subprime" geraram perdas de aproximadamente US$ 8 bilhões à instituição no período.
As perdas recordes com a crise levaram à saída do presidente-executivo do banco, Stan O'Neal, que foi substituído em novembro por John Thain.
Thain negociou pessoalmente o acordo com o Temasek, segundo o "The New York Times". Ken Charles Feinberg, administrador de portfólio da Davis, afirmou que sua empresa entrou em contato com o Merrill há duas semanas, interrogando-o sobre o interesse de receber investimento externo.

Negociações
O aporte de recursos negociado pelo Merrill Lynch soma-se a operações feitas nas últimas semanas envolvendo grandes bancos que tiveram perdas bilionárias com a crise e fundos da Ásia e do Oriente Médio.
Juntos, Bear Stearns, Citigroup, Morgan Stanley e UBS receberam cerca de US$ 22 bilhões vindos principalmente de investidores da China, de Cingapura e de Abu Dhabi.
Em meados de julho, a crise do setor de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos, desencadeada pela crescente dificuldade de os americanos honrarem suas dívidas imobiliárias, se aprofundou e passou a afetar mais seriamente o mercado financeiro.
A desvalorização de títulos atrelados a essas hipotecas acabou por levar grandes bancos internacionais a sofrerem prejuízos bilionários. Com isso, tiveram de buscar alternativas para levantarem recursos e melhorarem seus balanços.
O primeiro a receber injeção externa de recursos foi o Citigroup, que recebeu US$ 7,5 bilhões de um fundo de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos) no fim de novembro. A operação garantiu ao fundo uma participação de 4,9% no banco, o que fez dele o maior acionista individual do Citigroup. Os prejuízos do banco provocaram a queda de seu então presidente, Charles Prince.
Já o suíço UBS foi o que recebeu o maior aporte de recursos, US$ 11,5 bilhões, o que representou a venda de mais de 10% de suas ações para um fundo do governo de Cingapura e um investidor do Oriente Médio.
Marshall Front, presidente da administradora de recursos Front Barnett Associates, de Chicago, afirma que historicamente era o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) que fazia os socorros de última instância. "Agora estão surgindo os fundos soberanos para ocuparem esse espaço. E isso é um bom sinal", disse Front à agência Reuters.


Com agências internacionais

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