São Paulo, sábado, 26 de dezembro de 2009

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Exportador traz mais dólar e segura real

Empresas elevam entrada de dólares no final de ano, o que pressiona cotação da moeda americana

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Principais críticos do real sobrevalorizado, os exportadores brasileiros estão trazendo mais dólares para o país neste fim de ano, o que está compensando, em parte, a redução na entrada de dinheiro no mercado financeiro por causa do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) implantado em outubro.
Esse movimento se deve, principalmente, à necessidade de recursos para despesas de fim de ano e à alta na cotação do dólar nas últimas semanas.
Segundo dados do Banco Central, nos últimos dois meses, essas empresas trouxeram praticamente todos os dólares das exportações brasileiras para o país. Isso representa uma mudança em relação ao movimento registrado até setembro, quando parte desse dinheiro estava sendo deixado lá fora.
Há três anos, o BC começou a flexibilizar as regras cambiais de forma a permitir que parte dos dólares das exportações ficasse depositada em bancos no exterior. O objetivo da medida era reduzir a entrada de moeda estrangeira no país, fator que vinha pressionando a cotação do dólar para baixo e afetando as vendas externas do Brasil.
Em 2008, ano em que a entrada de capital externo bateu recorde, essa obrigação foi totalmente eliminada.
Antes, o dinheiro das exportações tinha um prazo para voltar ao país, obedecendo a uma regra criada há mais de 50 anos, quando o problema era a falta de moeda estrangeira no país, não o excesso.
Na época, mesmo uma empresa que precisava pagar um compromisso lá fora era obrigada a fazer uma operação para converter o dinheiro para reais e depois enviá-lo novamente para o exterior.
Neste ano, o fluxo dos dólares das exportações para o país tem acompanhado, principalmente, a cotação da moeda norte-americana. No começo do ano, a falta de recursos para o setor e a alta do dólar levou essas empresas a trazerem para o país US$ 3,6 bilhões além do valor efetivamente exportado. Parte dessa diferença se deve aos contratos de adiantamento de exportações, um instrumento utilizado para financiar essas empresas.
Nos quatro meses seguintes, com a normalização do crédito ao exportador e a queda na cotação da moeda, que ameaçou voltar ao patamar de R$ 1,60, cerca de US$ 12 bilhões em exportações físicas ficaram no exterior.
Os números do BC mostram que, nos últimos dois anos, US$ 18 bilhões em exportações não foram trazidos para o país. Somente neste ano, foram R$ 7,3 bilhões. Isso representa pouco mais de 5% das vendas brasileiras nesse período.
Esse valor ganha importância, no entanto, quando comparado ao saldo de dólares que entraram no país neste ano, de US$ 26 bilhões, o que representa um alívio na pressão que esse fluxo vem exercendo sobre a taxa de câmbio.
Para o gerente da Fair Corretora, Mario Batisttel, essa entrada de recursos tem sido compensada pelo aumento das importações e pela atuação dos bancos na compra de moeda.
"Apesar dos exportadores estarem trazendo mais dinheiro, o volume que os importadores estão mandando para fora é maior. Sem isso, a moeda estaria um pouco mais cara, haveria um pouco mais de procura por dólar", afirmou.
Para o economista João Medeiros, da corretora de câmbio Pioneer, mesmo com um câmbio mais atrativo, os exportadores devem continuar mantendo um volume mínimo de recursos lá fora. Segundo ele, esse volume de recursos está concentrado junto aos grandes exportadores, que têm alto volume de despesas no exterior e não vão inundar o mercado com esses dólares de uma hora para outra.
"Nos dias em que o dólar sobe por aqui, os exportadores aproveitam para vender o câmbio e ganhar um pouco mais de reais. Mas essas grandes empresas têm a sua programação financeira, e ninguém vai vender dólar por impulso."


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