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CRISE NOS MERCADOS / INDÚSTRIA
Otimismo ainda se mantém, diz Fiesp
Pesquisa mostra que planos para produção, investimentos e emprego neste ano não se alteraram por conta da crise nas Bolsas
Para economista da entidade,
nervosismo do mercado
ainda não chegou à economia
real e projetos só serão
adiados se consumo cair
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Consulta feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) entre os dias
15 e 22 deste mês com cerca de
36 grandes empresas de nove
setores industriais mostra que
os planos para produção, investimentos e emprego neste ano
não se alteraram por conta da
crise nas Bolsas internacionais
-e que atingiu a Bolsa brasileira- em razão do temor de uma
recessão nos Estados Unidos.
"O tom de otimismo do empresariado paulista, que existia
no final do ano passado, não
mudou neste início de ano. A
economia real se move a partir
de fatos concretos. Ninguém
está abortando projetos de investimento porque a Bolsa
caiu. A demanda continua forte. Se o consumo cair e a inadimplência subir, aí, sim, os
projetos de investimento poderão ser adiados", afirma André
Rebelo, economista da Fiesp.
Na primeira quinzena deste
mês, as vendas de veículos no
mercado interno subiram
35,5% em comparação com o
mesmo período de 2007, segundo a Fenabrave. O desempenho do setor automobilístico
é um indicador do ritmo de atividade do país.
O comércio paulista mantém
no início do mês o mesmo desempenho de dezembro de
2007. As consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito),
indicador das vendas a prazo,
subiram 6,9% na primeira
quinzena sobre igual período
do ano passado, e as ao Usecheque, termômetro das vendas à
vista, 8,8%, no mesmo período.
"Aí está a chave da explicação
de os empresários continuarem otimistas. O nervosismo
do mercado financeiro ainda
não chegou ao mundo real. Pode demorar a vir ou não vir. E a
boa notícia é que a taxa de câmbio continua comportada. Isso
dá tranqüilidade para a gestão
da política monetária. Se ela
continuar confortável, pode ser
que muitas empresas saiam da
confusão sem registrar grandes
perdas."
Na avaliação de Rebelo, é claro que, se 25% da economia
mundial -a dos EUA- diminui
as compras, "sobrará para todo
mundo. Mas, se o Brasil crescer
um ponto percentual a menos,
em vez de 5,3%, 4,3%, ainda terá um desempenho bom. Este
ano está tranqüilo".
Paulo Godoy, presidente da
Abdib, associação que reúne a
indústria de infra-estrutura do
país, diz que os empresários estão "acompanhando com atenção" o que está acontecendo no
mercado de ações. "Somos, no
momento, observadores. Por
enquanto, nada mudou nos planos de investimento das indústrias. Mesmo porque, na área
em que atuamos, os projetos
são de longa maturação. Não vi
ninguém cancelando encomenda e investimento. Em todas as crises existe um lado negativo e um de oportunidades."
O que os empresários tentam
imaginar, segundo Godoy, é
qual seria o tamanho da recessão norte-americana. "Algumas pessoas acreditam que essa recessão pode ter impacto
nos preços das commodities no
mercado internacional. Mas
ainda é cedo para fazer previsões. É claro que, imediatamente, quem planejava fazer
operações na Bolsa para se capitalizar pode adiar os planos.
Fora isso, não vejo impacto
imediato nas empresas. O país
está numa situação econômica
bem mais confortável."
Para ele, o país deve, neste
momento, pensar o quanto é
importante ter uma economia
sólida para enfrentar com menos riscos as crises externas. É
o momento de pensar em mexer "nas estruturas institucionais arcaicas para que, em situações desfavoráveis, possamos ser menos afetados. Temos de trabalhar para nossa
economia ser mais eficiente".
Na avaliação de Júlio Gomes
de Almeida, consultor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), "é muito cedo para
falar em impacto da crise nas
empresas brasileiras". Mas
uma das preocupações é a influência no crédito -que tem
sido o principal instrumento de
crescimento do país-, que pode ficar mais difícil e mais caro.
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