São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS / INDÚSTRIA

Otimismo ainda se mantém, diz Fiesp

Pesquisa mostra que planos para produção, investimentos e emprego neste ano não se alteraram por conta da crise nas Bolsas

Para economista da entidade, nervosismo do mercado ainda não chegou à economia real e projetos só serão adiados se consumo cair

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Consulta feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) entre os dias 15 e 22 deste mês com cerca de 36 grandes empresas de nove setores industriais mostra que os planos para produção, investimentos e emprego neste ano não se alteraram por conta da crise nas Bolsas internacionais -e que atingiu a Bolsa brasileira- em razão do temor de uma recessão nos Estados Unidos.
"O tom de otimismo do empresariado paulista, que existia no final do ano passado, não mudou neste início de ano. A economia real se move a partir de fatos concretos. Ninguém está abortando projetos de investimento porque a Bolsa caiu. A demanda continua forte. Se o consumo cair e a inadimplência subir, aí, sim, os projetos de investimento poderão ser adiados", afirma André Rebelo, economista da Fiesp.
Na primeira quinzena deste mês, as vendas de veículos no mercado interno subiram 35,5% em comparação com o mesmo período de 2007, segundo a Fenabrave. O desempenho do setor automobilístico é um indicador do ritmo de atividade do país.
O comércio paulista mantém no início do mês o mesmo desempenho de dezembro de 2007. As consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), indicador das vendas a prazo, subiram 6,9% na primeira quinzena sobre igual período do ano passado, e as ao Usecheque, termômetro das vendas à vista, 8,8%, no mesmo período.
"Aí está a chave da explicação de os empresários continuarem otimistas. O nervosismo do mercado financeiro ainda não chegou ao mundo real. Pode demorar a vir ou não vir. E a boa notícia é que a taxa de câmbio continua comportada. Isso dá tranqüilidade para a gestão da política monetária. Se ela continuar confortável, pode ser que muitas empresas saiam da confusão sem registrar grandes perdas."
Na avaliação de Rebelo, é claro que, se 25% da economia mundial -a dos EUA- diminui as compras, "sobrará para todo mundo. Mas, se o Brasil crescer um ponto percentual a menos, em vez de 5,3%, 4,3%, ainda terá um desempenho bom. Este ano está tranqüilo".
Paulo Godoy, presidente da Abdib, associação que reúne a indústria de infra-estrutura do país, diz que os empresários estão "acompanhando com atenção" o que está acontecendo no mercado de ações. "Somos, no momento, observadores. Por enquanto, nada mudou nos planos de investimento das indústrias. Mesmo porque, na área em que atuamos, os projetos são de longa maturação. Não vi ninguém cancelando encomenda e investimento. Em todas as crises existe um lado negativo e um de oportunidades."
O que os empresários tentam imaginar, segundo Godoy, é qual seria o tamanho da recessão norte-americana. "Algumas pessoas acreditam que essa recessão pode ter impacto nos preços das commodities no mercado internacional. Mas ainda é cedo para fazer previsões. É claro que, imediatamente, quem planejava fazer operações na Bolsa para se capitalizar pode adiar os planos. Fora isso, não vejo impacto imediato nas empresas. O país está numa situação econômica bem mais confortável."
Para ele, o país deve, neste momento, pensar o quanto é importante ter uma economia sólida para enfrentar com menos riscos as crises externas. É o momento de pensar em mexer "nas estruturas institucionais arcaicas para que, em situações desfavoráveis, possamos ser menos afetados. Temos de trabalhar para nossa economia ser mais eficiente".
Na avaliação de Júlio Gomes de Almeida, consultor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), "é muito cedo para falar em impacto da crise nas empresas brasileiras". Mas uma das preocupações é a influência no crédito -que tem sido o principal instrumento de crescimento do país-, que pode ficar mais difícil e mais caro.


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