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"Greenspan teria cortado as taxas de juros antes"
Sergio Werlang, ex-diretor do BC, defende ação do Fed
DA REPORTAGEM LOCAL
Sergio Werlang, ex-diretor
do BC e diretor do Itaú, vê sinais de normalização nos mercados e defende a atuação do
Fed durante a turbulência na
semana passada. Para Werlang,
o socorro às seguradoras de
crédito não teve um peso determinante para acalmar os investidores, mas somou-se a outras
ações para controlar o pânico.
FOLHA - Qual a sua visão da evolução da crise na semana passada?
SERGIO WERLANG - O importante
é uma normalização da liquidez
interbancária. Um sinal claro
veio do diferencial entre a Libor [taxa interbancária de Londres] e os Treasuries [títulos do
Tesouro dos EUA], que subiu
muito em agosto, caiu, voltou a
subir, mas que está próximo de
novo de um mínimo que já teve.
Isso é um sinal de que houve alguma normalização. Além disso, os bancos têm mostrado o
que eles têm [de perdas]. Com a
troca dos CEOs [presidentes-executivos] de muitos deles, o
CEO novo quer mostrar tudo.
FOLHA - Há um movimento de passar tudo a limpo e seguir adiante?
WERLANG - Exatamente. Agora,
estão conseguindo capitalizar
as instituições. Além disso, teve
a ação do Fed. Não dá para desconsiderar uma queda de juros
de 0,75 [ponto]. E têm vindo
outras ações que têm ajudado.
Está claro que o Fed vai tomar
as ações necessárias para que a
desaceleração dos EUA seja
normal e não exacerbada por
uma diminuição da liquidez.
FOLHA - O Fed sinalizou que a crise
é grave ao cortar o juro fora de hora?
O socorro não estimula a irresponsabilidade dos mercados?
WERLANG - O Bernanke [Ben
Bernanke, presidente do Fed] é
muito diferente do Greenspan
[Alan Greenspan, antecessor
de Bernanke no Fed]. O
Greenspan teria cortado o juro
já em abril. O Bernanke esperou para fazer em setembro. As
perdas já aconteceram. Não é
que passou sem que nada acontecesse. Agora você não deve
exagerar na punição, que faria
com que a economia entrasse
em contração. Há necessidade
de um ajuste no crescimento da
economia americana, mas pela
falta de crédito. As recessões
por falta de crédito são muito
mais prolongadas.
FOLHA - Na semana passada, houve várias tentativas de acalmar os
mercados. Por que o socorro às seguradoras foi o mais eficaz?
WERLANG - Isso [socorro às seguradoras] veio somar. Não é
uma medida apenas que resolve. O que o Fed não quer fazer é
exagerar a dose.
FOLHA - Como ficará o Brasil?
WERLANG - O Brasil está numa
situação bastante confortável,
que depende quase que exclusivamente da gente. Mesmo que
uma grande desaceleração no
mundo fizesse o preço das commodities ir para trás até 20%, o
país ainda passa por isso sem
muito problema.
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