São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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"Greenspan teria cortado as taxas de juros antes"

Sergio Werlang, ex-diretor do BC, defende ação do Fed

DA REPORTAGEM LOCAL

Sergio Werlang, ex-diretor do BC e diretor do Itaú, vê sinais de normalização nos mercados e defende a atuação do Fed durante a turbulência na semana passada. Para Werlang, o socorro às seguradoras de crédito não teve um peso determinante para acalmar os investidores, mas somou-se a outras ações para controlar o pânico.

 

FOLHA - Qual a sua visão da evolução da crise na semana passada?
SERGIO WERLANG
- O importante é uma normalização da liquidez interbancária. Um sinal claro veio do diferencial entre a Libor [taxa interbancária de Londres] e os Treasuries [títulos do Tesouro dos EUA], que subiu muito em agosto, caiu, voltou a subir, mas que está próximo de novo de um mínimo que já teve. Isso é um sinal de que houve alguma normalização. Além disso, os bancos têm mostrado o que eles têm [de perdas]. Com a troca dos CEOs [presidentes-executivos] de muitos deles, o CEO novo quer mostrar tudo.

FOLHA - Há um movimento de passar tudo a limpo e seguir adiante?
WERLANG
- Exatamente. Agora, estão conseguindo capitalizar as instituições. Além disso, teve a ação do Fed. Não dá para desconsiderar uma queda de juros de 0,75 [ponto]. E têm vindo outras ações que têm ajudado. Está claro que o Fed vai tomar as ações necessárias para que a desaceleração dos EUA seja normal e não exacerbada por uma diminuição da liquidez.

FOLHA - O Fed sinalizou que a crise é grave ao cortar o juro fora de hora? O socorro não estimula a irresponsabilidade dos mercados?
WERLANG
- O Bernanke [Ben Bernanke, presidente do Fed] é muito diferente do Greenspan [Alan Greenspan, antecessor de Bernanke no Fed]. O Greenspan teria cortado o juro já em abril. O Bernanke esperou para fazer em setembro. As perdas já aconteceram. Não é que passou sem que nada acontecesse. Agora você não deve exagerar na punição, que faria com que a economia entrasse em contração. Há necessidade de um ajuste no crescimento da economia americana, mas pela falta de crédito. As recessões por falta de crédito são muito mais prolongadas.

FOLHA - Na semana passada, houve várias tentativas de acalmar os mercados. Por que o socorro às seguradoras foi o mais eficaz?
WERLANG
- Isso [socorro às seguradoras] veio somar. Não é uma medida apenas que resolve. O que o Fed não quer fazer é exagerar a dose.

FOLHA - Como ficará o Brasil?
WERLANG
- O Brasil está numa situação bastante confortável, que depende quase que exclusivamente da gente. Mesmo que uma grande desaceleração no mundo fizesse o preço das commodities ir para trás até 20%, o país ainda passa por isso sem muito problema.


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