São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS / FÓRUM DE DAVOS

BC estuda aprimorar medidas contra riscos

Meirelles defende também revisão das regras para instituições internacionais

Presidente do Banco Central afirma ser importante agir preventivamente para "o país não ter problema agora nem nos próximos anos"

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, revelou ontem que estuda o aprimoramento de medidas preventivas para evitar problemas como os que ocorreram no mercado de crédito nos Estados Unidos.
"Seriam regras que propiciariam uma correta alocação do capital em relação aos riscos efetivamente corridos nas operações de crédito. Essa é uma grande lição dessa crise toda: avaliar os diversos riscos que os bancos estão correndo e alocar capitais de forma que, quanto mais riscos, mais capital alocado; menos riscos, menos capital alocado." Meirelles disse que ainda não há nada decidido.
Para o presidente do BC, é importante agir preventivamente, "melhorar as regras para o país não ter problema agora nem nos próximos anos". Ainda mais quando o Brasil, diferentemente de outros países, disse, pode se dedicar a pensar a médio e a longo prazos.
"Não temos problemas de curto prazo nem estamos resolvendo problemas do passado. Não temos 'subprime" [empréstimos a pessoas com histórico de inadimplência], e instituições brasileiras não têm em seus ativos papéis relacionados ao 'subprime" americano."
Meirelles defendeu ainda uma revisão das regras internacionais para instituições financeiras, de modo a evitar problemas como os enfrentados no setor de crédito nos Estados Unidos. Elas podem abreviar o processo nos EUA, segundo ele, mas nem tudo, porém, pode ser antecipado.
"O processo de precificação dos ativos vai demandar um certo tempo."

Bancos centrais
Meirelles, que será presidente do G-20 neste ano, foi convidado a presidir um encontro em Davos sobre a crise com presidentes dos principais bancos centrais, dentre eles, Jean-Claude Trichet, do BC europeu, alguns ministros da Fazenda e agências multilaterais.
"Um trabalho regulatório deve ser feito, principalmente relativo à correta alocação de capital pelas instituições financeiras nas operações de crédito", disse.
"Enfatizou-se [na reunião] a questão da transparência das operações. No curto prazo, medidas que favoreçam a liquidez e que permitam uma abreviação do processo de precificação de todos esses ativos."
Quanto às agências de classificação de risco, que referendaram operações de altíssimo risco, alguns participantes consideraram, segundo Meirelles, que se está colocando muita responsabilidade sobre elas.
"As agências de "rating" também estão aprendendo, como todos. Investidores deveriam fazer mais sua lição de casa."

"Subprime"
Meirelles, que, na qualidade de alto executivo do BankBoston, nos EUA, até o final da década de 90, acompanhou o início da criação de novas operações no mercado de crédito, disse que elas tiveram "um lado bom: propiciaram novas fontes de empréstimo a custos mais baratos. Mas, agora, vimos as limitações desse processo".

Basiléia
O presidente do BC disse que não tem dúvidas de que uma das razões da crise foi o fato de Basiléia 2 (veja abaixo) não estar sendo totalmente aplicada, principalmente nos Estados Unidos. Trichet havia feito a mesma observação em participação anterior no Fórum.
"Pessoalmente acho que já cabem alguns aperfeiçoamentos [em Basiléia 2]. Como, por exemplo, discutir até que ponto 20% das linhas de crédito, como base para o cálculo de capital [que o banco teria de alocar], são suficientes ou não."
A reunião, porém, não foi conclusiva, segundo ele.
Meirelles afirmou que as regras a serem aprimoradas no Brasil não são necessariamente de Basiléia 2.
"Podemos nos adiantar em coisas que achamos que Basiléia 2 não tem e que deveríamos colocar."

Volatilidade
"A volatilidade, não vou definir nível, pode permanecer, diminuir, depois voltar um pouco. Num processo de precificação de ativos, podem surgir dados novos."
A correção em curso nos mercados, segundo ele, só vai começar a passar quando cair a venda de imóveis nos EUA. "A partir daí, teremos uma visão mais clara do sistema."

Balanços nos EUA
Com relação a ativos relacionados nos balanços divulgados pelos bancos americanos, Meirelles afirma que não são necessariamente duvidosos.
"São verdadeiros em razão do que se conhece neste momento. Esses preços podem mudar. Se continuarem a cair, vão afetar os preços dos papéis financeiros."


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