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CRISE NOS MERCADOS / FÓRUM DE DAVOS
BC estuda aprimorar medidas contra riscos
Meirelles defende também revisão das regras para instituições internacionais
Presidente do Banco Central
afirma ser importante agir
preventivamente para "o
país não ter problema agora
nem nos próximos anos"
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS
O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles,
revelou ontem que estuda o
aprimoramento de medidas
preventivas para evitar problemas como os que ocorreram no
mercado de crédito nos Estados Unidos.
"Seriam regras que propiciariam uma correta alocação do
capital em relação aos riscos
efetivamente corridos nas operações de crédito. Essa é uma
grande lição dessa crise toda:
avaliar os diversos riscos que os
bancos estão correndo e alocar
capitais de forma que, quanto
mais riscos, mais capital alocado; menos riscos, menos capital
alocado." Meirelles disse que
ainda não há nada decidido.
Para o presidente do BC, é
importante agir preventivamente, "melhorar as regras para o país não ter problema agora nem nos próximos anos".
Ainda mais quando o Brasil, diferentemente de outros países,
disse, pode se dedicar a pensar
a médio e a longo prazos.
"Não temos problemas de
curto prazo nem estamos resolvendo problemas do passado.
Não temos 'subprime" [empréstimos a pessoas com histórico de inadimplência], e instituições brasileiras não têm em
seus ativos papéis relacionados
ao 'subprime" americano."
Meirelles defendeu ainda
uma revisão das regras internacionais para instituições financeiras, de modo a evitar problemas como os enfrentados no
setor de crédito nos Estados
Unidos. Elas podem abreviar o
processo nos EUA, segundo ele,
mas nem tudo, porém, pode ser
antecipado.
"O processo de precificação
dos ativos vai demandar um
certo tempo."
Bancos centrais
Meirelles, que será presidente do G-20 neste ano, foi convidado a presidir um encontro
em Davos sobre a crise com
presidentes dos principais bancos centrais, dentre eles, Jean-Claude Trichet, do BC europeu,
alguns ministros da Fazenda e
agências multilaterais.
"Um trabalho regulatório deve ser feito, principalmente relativo à correta alocação de capital pelas instituições financeiras nas operações de crédito", disse.
"Enfatizou-se [na reunião] a
questão da transparência das
operações. No curto prazo, medidas que favoreçam a liquidez
e que permitam uma abreviação do processo de precificação
de todos esses ativos."
Quanto às agências de classificação de risco, que referendaram operações de altíssimo risco, alguns participantes consideraram, segundo Meirelles,
que se está colocando muita
responsabilidade sobre elas.
"As agências de "rating" também estão aprendendo, como
todos. Investidores deveriam
fazer mais sua lição de casa."
"Subprime"
Meirelles, que, na qualidade
de alto executivo do BankBoston, nos EUA, até o final da década de 90, acompanhou o início da criação de novas operações no mercado de crédito,
disse que elas tiveram "um lado
bom: propiciaram novas fontes
de empréstimo a custos mais
baratos. Mas, agora, vimos as limitações desse processo".
Basiléia
O presidente do BC disse que
não tem dúvidas de que uma
das razões da crise foi o fato de
Basiléia 2 (veja abaixo) não estar sendo totalmente aplicada,
principalmente nos Estados
Unidos. Trichet havia feito a
mesma observação em participação anterior no Fórum.
"Pessoalmente acho que já
cabem alguns aperfeiçoamentos [em Basiléia 2]. Como, por
exemplo, discutir até que ponto
20% das linhas de crédito, como base para o cálculo de capital [que o banco teria de alocar],
são suficientes ou não."
A reunião, porém, não foi
conclusiva, segundo ele.
Meirelles afirmou que as regras a serem aprimoradas no
Brasil não são necessariamente
de Basiléia 2.
"Podemos nos adiantar em
coisas que achamos que Basiléia 2 não tem e que deveríamos
colocar."
Volatilidade
"A volatilidade, não vou definir nível, pode permanecer, diminuir, depois voltar um pouco. Num processo de precificação de ativos, podem surgir dados novos."
A correção em curso nos
mercados, segundo ele, só vai
começar a passar quando cair a
venda de imóveis nos EUA. "A
partir daí, teremos uma visão
mais clara do sistema."
Balanços nos EUA
Com relação a ativos relacionados nos balanços divulgados
pelos bancos americanos, Meirelles afirma que não são necessariamente duvidosos.
"São verdadeiros em razão
do que se conhece neste momento. Esses preços podem
mudar. Se continuarem a cair,
vão afetar os preços dos papéis
financeiros."
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