São Paulo, domingo, 27 de janeiro de 2008

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Acusado de fraude de US$ 7,2 bi é detido

Operador do Société Générale é apontado como o responsável pelo maior esquema fraudulento da histórica bancária

Caso suscitou críticas à atuação do banco francês e debates sobre a necessidade de controles internos mais rigorosos nas instituições

DA REDAÇÃO
DA FOLHA ONLINE

O operador Jérôme Kerviel, 31, apresentou-se ontem, espontaneamente, à polícia francesa. É o que afirmou Jean-Michel Aldebert, chefe da seção financeira e fiscal de Paris. Segundo Aldebert, Jérôme está disposto a cooperar com as investigações. Ele é acusado de montar uma operação fraudulenta que custou 4,9 bilhões (cerca de US$ 7,16 bilhões) ao banco francês Société Générale, onde trabalhava.
A promotoria de Paris considera o caso, revelado pelo Société Générale na última quinta-feira, a maior fraude da história do setor bancário atribuída a apenas uma pessoa.
De acordo com fontes judiciais, Kerviel foi interrogado ontem na sede da Brigada Financeira da polícia francesa. Ele foi transferido pouco antes das 11h (horário de Brasília) para a sede dessa polícia especializada, em meio a uma reforçada operação de segurança.
Kerviel pode ficar detido no máximo por 24 horas, mas esse prazo pode ser ampliado, segundo informações dadas pela polícia francesa.
Os promotores podem decidir se o colocarão sob investigação oficial, abrindo caminho para potenciais acusações, ou libertá-lo sem nenhuma acusação. Se ele for colocado em investigação, os juízes podem decidir mantê-lo detido ou libertá-lo sob controle judicial.
O operador pode pegar dois anos de prisão por haver entrado no sistema de informática do banco e até cinco anos se confirmado o estelionato.
Kerviel é acusado de ter apostado mais de 50 bilhões em contratos futuros de índices de Bolsas de Valores européias (montante maior do que o valor de mercado do próprio banco), em operações não-autorizadas, e de ter criado posições fictícias de "hedge" (contratos para proteção contra oscilações financeiras) para cobrir os seus rastros.
Para especialistas do mercado, o fato de o esquema ter sido desarmado pode explicar, em parte, a forte queda das Bolsas européias registrada na última segunda-feira, em meio à turbulência com o temor de recessão nos Estados Unidos.
Após a divulgação das perdas bilionárias que o Société Générale atribuiu ao operador, o presidente do BCE (Banco Central Europeu), o francês Jean-Claude Trichet, disse que os bancos precisam "reforçar formidavelmente seus controles internos".
De acordo com Trichet, essa é "a lição que é preciso tirar, como em fraudes anteriores de grande monta" (veja quadro nesta página).
Ontem, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em visita à Índia, pediu mais "transparência" aos mercados financeiros.
O Société afirma que Kerviel montou o esquema de transações fictícias usando os seus conhecimentos de informática para driblar os sistemas de segurança da instituição.
De acordo com o "Financial Times", os executivos do banco foram avisados do esquema pela primeira vez na noite da sexta-feira retrasada, depois de uma denúncia de um outro operador. Os prejuízos acumulados por Kerviel, àquela altura, eram de 1,5 bilhão. Mas, quando o banco tentou desfazer suas posições em aberto, na segunda, a queda global nos mercados de ações levou a uma multiplicação dos prejuízos.
De acordo com o banco, os motivos que teriam levado Kerviel a fazer essas operações são um mistério, já que aparentemente ele não ganhou nada.
Anteontem, a polícia visitou o local no Société Générale em que Kerviel trabalhava e apreendeu arquivos de computador. O lugar em que o operador vivia nos arredores de Paris também foi revistado. A promotoria informou que não foram apreendidos documentos no apartamento. Segundo os vizinhos, Kerviel não aparecia ali havia várias semanas.
O diretor geral do Société Générale, Daniel Bouton, chamou Kerviel de "fraudador" e "terrorista". Porém, desde que o caso foi revelado, as explicações do banco provocaram incredulidade, pois analistas não acreditam que um homem sozinho teria condições de provocar um prejuízo tão grande.
Alguns, inclusive, chegaram a levantar a hipótese de que o banco poderia ter tentado dissimular perdas atribuindo tudo a apenas um corretor.
Bouton se defendeu das acusações em entrevista ao jornal "Le Figaro". "O que aconteceu no Société Générale não tem nada a ver com uma catástrofe que foi produto de nossa estratégia. Isto se assemelha a um incêndio voluntário que teria destruído uma grande fábrica de um grupo industrial", disse.
Sobre as hipóteses de dissimulação foi taxativo: "Isso não faz sentido nem a nível técnico nem a nível contábil".

Na web
Kerviel é descrito como reservado e cordial. Segundo a Reuters, no site de relacionamentos Facebook o perfil de Kerviel mostrava 11 amigos na quinta-feira, dia em que a fraude foi divulgada. Na sexta, só havia um. No entanto, no mesmo site, já foram criadas comunidades relacionadas ao caso, como "Kerviel deveria ganhar o Prêmio Nobel de Economia".


Com agências internacionais


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