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Remessas crescem, e contas externas têm 1º déficit sob Lula
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O agravamento da crise financeira e a desaceleração da
economia observada nos últimos meses não foram suficientes para frear o crescimento das
remessas de lucros ao exterior
feitas por multinacionais estrangeiras instaladas no Brasil.
Segundo o Banco Central, essas
operações responderam pela
saída de US$ 3,146 bilhões do
país em dezembro, o dobro do
valor registrado em novembro.
Com isso, as remessas feitas
ao longo de 2008 atingiram o
valor recorde de US$ 33,875 bilhões -alta de 51% ante 2007.
Os setores automotivo, metalúrgico e financeiro -que estão
entre os mais afetados pela recente crise- foram os que mais
enviaram recursos para suas
matrizes no ano passado.
Esse movimento foi um dos
principais fatores a explicarem
a piora nas contas externas
ocorrida em 2008. A conta de
transações correntes -que
considera o fluxo de bens e serviços entre o Brasil e outros
países- teve um déficit de US$
28,3 bilhões, valor que corresponde a 1,78% do PIB do período. Foi o pior resultado desde
2001, quando essa proporção
ficou em 4,19%, e o primeiro
déficit do governo Lula.
Para 2009, a projeção oficial
é a de um déficit de US$ 25 bilhões, ou 1,75% do PIB. Segundo o chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, a expectativa é que a alta do
dólar ocorrida nos últimos meses ajude a manter o equilíbrio
das contas externas.
Com o real desvalorizado, o
lucro em dólar das empresas
instaladas no Brasil tende a
cair, o que, em tese, ajuda a reduzir o volume de remessas.
Para a economista-chefe do
banco ING, Zeina Latif, a situação das contas externas como
um todo não deve ser fonte de
grandes preocupações neste
ano, ainda que possa haver piora em alguns itens específicos,
como a balança comercial. "O
país vai continuar crescendo
mais que o resto do mundo, fazendo com que as importações
cresçam mais que as exportações. Então o saldo da balança
deve continuar encolhendo."
Em 2007, a balança comercial teve superávit de US$ 40
bilhões. No ano passado, o saldo caiu para US$ 24,7 bilhões,
e, para este ano, o BC projeta
US$ 14 bilhões.
Na avaliação de Newton Rosa, economista-chefe da Sul
América Investimentos, as remessas de lucros e dividendos
ao exterior também devem
perder força neste ano, o que
ajudaria a compensar o menor
saldo comercial.
"A situação [de 2008] obrigou as multinacionais a rasparem o fundo do tacho para
mandar dinheiro para as matrizes. Provavelmente isso não vai
se repetir."
Quando consideradas todas
as entradas e saídas de capital
externo registradas em 2008
-exportações, importações,
investimentos estrangeiros,
empréstimos externos, gastos
com viagens internacionais,
entre outros itens-, o saldo
apurado pelo BC no balanço de
pagamentos foi positivo em
US$ 2,969 bilhões, forte queda
em relação ao superávit de US$
87,484 bilhões de 2007.
O resultado daquele ano, porém, havia sido inflado pelas
elevadas compras de dólares
feitas pelo Banco Central no
mercado de câmbio, que são
computadas como ingresso de
recursos nas contas externas.
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