São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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Remessas crescem, e contas externas têm 1º déficit sob Lula

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agravamento da crise financeira e a desaceleração da economia observada nos últimos meses não foram suficientes para frear o crescimento das remessas de lucros ao exterior feitas por multinacionais estrangeiras instaladas no Brasil. Segundo o Banco Central, essas operações responderam pela saída de US$ 3,146 bilhões do país em dezembro, o dobro do valor registrado em novembro.
Com isso, as remessas feitas ao longo de 2008 atingiram o valor recorde de US$ 33,875 bilhões -alta de 51% ante 2007. Os setores automotivo, metalúrgico e financeiro -que estão entre os mais afetados pela recente crise- foram os que mais enviaram recursos para suas matrizes no ano passado.
Esse movimento foi um dos principais fatores a explicarem a piora nas contas externas ocorrida em 2008. A conta de transações correntes -que considera o fluxo de bens e serviços entre o Brasil e outros países- teve um déficit de US$ 28,3 bilhões, valor que corresponde a 1,78% do PIB do período. Foi o pior resultado desde 2001, quando essa proporção ficou em 4,19%, e o primeiro déficit do governo Lula.
Para 2009, a projeção oficial é a de um déficit de US$ 25 bilhões, ou 1,75% do PIB. Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a expectativa é que a alta do dólar ocorrida nos últimos meses ajude a manter o equilíbrio das contas externas.
Com o real desvalorizado, o lucro em dólar das empresas instaladas no Brasil tende a cair, o que, em tese, ajuda a reduzir o volume de remessas.
Para a economista-chefe do banco ING, Zeina Latif, a situação das contas externas como um todo não deve ser fonte de grandes preocupações neste ano, ainda que possa haver piora em alguns itens específicos, como a balança comercial. "O país vai continuar crescendo mais que o resto do mundo, fazendo com que as importações cresçam mais que as exportações. Então o saldo da balança deve continuar encolhendo."
Em 2007, a balança comercial teve superávit de US$ 40 bilhões. No ano passado, o saldo caiu para US$ 24,7 bilhões, e, para este ano, o BC projeta US$ 14 bilhões.
Na avaliação de Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, as remessas de lucros e dividendos ao exterior também devem perder força neste ano, o que ajudaria a compensar o menor saldo comercial.
"A situação [de 2008] obrigou as multinacionais a rasparem o fundo do tacho para mandar dinheiro para as matrizes. Provavelmente isso não vai se repetir."
Quando consideradas todas as entradas e saídas de capital externo registradas em 2008 -exportações, importações, investimentos estrangeiros, empréstimos externos, gastos com viagens internacionais, entre outros itens-, o saldo apurado pelo BC no balanço de pagamentos foi positivo em US$ 2,969 bilhões, forte queda em relação ao superávit de US$ 87,484 bilhões de 2007.
O resultado daquele ano, porém, havia sido inflado pelas elevadas compras de dólares feitas pelo Banco Central no mercado de câmbio, que são computadas como ingresso de recursos nas contas externas.


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