São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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BENJAMIN STEINBRUCH

A arma da coesão


Em momentos críticos como agora, a economia elimina vagas por razões objetivas, não por maldade do empregador

A RAPIDEZ da proliferação da crise econômica lá fora e aqui é uma das características mais impressionantes do momento. Três meses atrás, embora já estivesse previsto o desaquecimento da economia, qualquer analista apostaria que 2008 seria um ano espetacular em matéria de criação de empregos no Brasil.
Os números divulgados na semana passada mostram a rápida inversão de tendência. Nos últimos dois meses do ano, 695 mil empregos com carteira assinada foram extintos.
Dezembro, sazonalmente, é um mês de contratações de mão-de-obra temporária. Por isso, a taxa de desemprego geral ainda caiu, para 6,8% da força de trabalho. Mas dezembro é sempre ruim para o emprego formal, com muitas demissões. Mesmo assim, o volume de cortes surpreendeu, porque foi o maior desde o início do levantamento, em 1999, e porque atingiu todos os setores e regiões.
O que fazer? São muito bem-vindas as mobilizações de empresários e trabalhadores para discutir soluções. Há inúmeros mecanismos para combater o desemprego ou atenuar seus efeitos: férias coletivas; reduções de jornada; suspensão temporária de contratos; ampliação do seguro-desemprego; estímulos fiscais; corte de impostos para setores intensivos em mão-de-obra; redução de impostos para ampliar crédito e estimular consumo.
Tudo isso, entretanto, são paliativos. Em momentos críticos como agora, é bom lembrar que a economia passa a eliminar empregos por razões objetivas, não por maldade de empregadores. Empregos não se criam com gritos ou passeatas. Criam-se com investimentos e financiamentos a baixo custo, como os que poderão ser feitos com os recursos de R$ 100 bilhões que o Tesouro vai repassar ao BNDES, uma sábia decisão da semana passada.
Nos últimos oito anos, em artigos semanais nesta página, fiz 266 referências às responsabilidades empresariais e do governo na criação de empregos. Cabe ao empresário atuar com máximo critério para tomar decisões que não coloquem em risco o negócio e garantir, ao mesmo tempo, o maior número possível de empregos. A dolorosa decisão de dispensar mão-de-obra só deve ser tomada quando houver clareza absoluta sobre a sua inevitabilidade.
O pior que poderia ocorrer no país, neste momento, seria a exacerbação de conflitos entre empregados, empregadores e governo. Ameaças de punições não ajudam em nada. Cada parte tem de assumir suas responsabilidades. Ficará marcada, por exemplo, a tardia participação da política monetária no combate à ameaça da recessão -as autoridades levaram mais de quatro meses para se dar conta da gravidade da crise.
O momento é de conciliação em busca de soluções para amenizar os efeitos sociais da queda do emprego. Não há mais dúvida de que a crise global é gravíssima, com recessões nos EUA, na Europa e na Ásia. A Alemanha, segunda maior economia do mundo, prevê a maior contração desde 1949.
As armas para debelar no médio prazo crises como esta não precisam ser inventadas. Estão em qualquer cartilha de economia. São o corte de gastos supérfluos para concentrar recursos em investimentos públicos que absorvem mais mão-de-obra, como a construção, a redução drástica (não de um ponto percentual) nos juros, para estimular consumo e investimentos produtivos, e a ampliação de programas sociais para assistência a desempregados. Internamente, independentemente do que ocorre na economia global, a coesão pode ser uma arma poderosa para implementar essas medidas.


BENJAMIN STEINBRUCH , 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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