São Paulo, terça-feira, 27 de janeiro de 2009

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Investimento direto atinge US$ 45 bi em 2008

Ingressos crescem 30%, batem recorde e superam projeção do BC; operação da CSN infla resultado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ingresso de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil superou as expectativas do governo e chegou a US$ 45 bilhões no ano passado, segundo dados do Banco Central. Trata-se do maior valor já apurado pela série estatística do BC, que começa em 1947, e representa um crescimento de 30% em relação ao recorde anterior, alcançado em 2007.
Relatório divulgado na semana passada pela Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) estimava o fluxo de 2008 em US$ 41,7 bilhões. A projeção do BC era de US$ 40 bilhões.
Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, as estimativas foram superadas devido ao resultado acima do esperado em dezembro, quando o país recebeu US$ 8,1 bilhões em investimentos. Esse valor, porém, foi inflado em US$ 3 bilhões por uma operação feita pela CSN, que fechou a venda de parte de uma de suas subsidiárias do setor de mineração para um consórcio de empresas asiáticas.
Essa negociação envolveu troca de ações, ou seja, a CSN recebeu um pagamento pela venda -contabilizada como investimento estrangeiro-, mas, em troca, também adquiriu participação acionária nesse mesmo grupo de companhias estrangeiras -e, para isso, enviou os recursos para fora.
Por outro lado, Lopes ressalta que, mesmo sem considerar essa operação, o fluxo de investimentos para o Brasil no ano passado seria recorde. Para o funcionário do BC, isso é um sinal de que o país tem condições de atravessar a atual crise com um pouco mais de tranquilidade. "Esse tipo de investidor tem uma perspectiva de longo prazo e vislumbra uma situação melhor para o futuro", diz.
Apesar da importância desse resultado para o equilíbrio das contas externas, os números mostram que hoje em dia o peso que os investimentos estrangeiros têm sobre o comportamento da economia é menor do que foi num passado recente.
Em 2008, os investimentos estrangeiros recebidos pelo Brasil corresponderam a 2,84% do PIB, enquanto em 2001 a proporção era de 4,06%. Para Zeina Latif, economista-chefe do banco ING, isso mostra que a economia brasileira ainda é muito fechada. "A dinâmica do nível de atividade ainda depende muito do mercado interno."
Segundo ela, esse pequeno grau de abertura impediu que o país crescesse mais nos últimos anos, quando o cenário mundial era mais favorável, mas também pode ajudar o país a enfrentar a atual crise com um pouco mais de fôlego.
Para Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos, uma das dúvidas em relação às contas externas neste ano está no fluxo de investimentos estrangeiros no mercado financeiro e na capacidade de empresas brasileiras em voltar a captar empréstimos no exterior. "Ainda não há sinal de normalização disso."
Neste mês, segundo dados parciais, o setor privado conseguiu refinanciar apenas 53% das parcelas da dívida externa que venceram no período. Em dezembro, foram 47%.
Em compensação, o fato de empresas brasileiras estarem sendo obrigadas a quitar seus compromissos no mercado internacional, em vez de refinanciá-los, ajuda a reduzir a dívida externa total do país. Entre setembro e dezembro, esse endividamento caiu de US$ 211 bilhões para US$ 200 bilhões.


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