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ARTIGO
Jovens profissionais para um mundo em crise
ANTONIO JACINTO CALEIRO PALMA e
LUIZ GONZAGA BERTELLI
Se a mudança da política econômica, com a flexibilização do câmbio, traz, por um lado, riscos à estabilidade da moeda, por outro
abre novas perspectivas de crescimento para o país. A instabilidade
do atual momento econômico, porém, recomenda cautela.
O fim da âncora cambial não alterou o quadro de dificuldade que
o Brasil enfrenta, como o alto índice de endividamento interno e externo, e ainda acrescenta o risco da
volta da inflação.
A esse quadro veio somar-se o
alargamento da banda de juros
-cujas taxas já eram as mais altas
do mundo-, reforçando previsões bastante sombrias para o nível de produção, consumo e, portanto, emprego, num momento
em que as alterações no câmbio
pareciam sinalizar, finalmente,
uma política de incentivo ao investimento.
A medida aumenta outros riscos
tão temíveis quanto o da inflação,
como o de instalar a recessão prevista por economistas conceituados como o norte-americano Paul
Krugman com a manutenção dos
juros nos patamares atuais. Aumentar as taxas em uma economia
estagnada pode significar matar o
doente com o próprio remédio,
punindo o país, ao mesmo tempo
em que premia, intencionalmente
ou não, o capital especulativo.
A combinação de juros altos, recessão e a falta de um projeto político de desenvolvimento industrial
para o Brasil pode ser mortal para
as empresas e as consequências serão ainda mais funestas para o emprego do que as que já se viram até
agora.
E o agravamento do desemprego
não é o único problema com o qual
o país deve se preocupar. É preciso, ainda, arranjar ocupação para
um contingente de 2 milhões de jovens que entram no mercado de
trabalho todos os anos e que deverão enfrentar não apenas o desemprego conjuntural como o desemprego estrutural.
A globalização trouxe uma nova
ordem ao mundo do trabalho.
Funções e mesmo profissões inteiras desaparecem, engolidas pelas
novas tecnologias. Novos patamares de aprendizado, educação e especialização são exigidos. Expectativas sempre crescentes do mercado levam o profissional da virada
de século a buscar novos paradigmas de competência.
O governo tomou uma série de
providências para minimizar os
efeitos da crise sobre o emprego e
tornar a legislação trabalhista mais
ágil, reduzindo o peso dos encargos sociais que dificultam as contratações formais. A medida provisória baixada em 3 de novembro
do ano passado prevê, além da suspensão temporária do contrato de
trabalho, o acesso do estudante de
nível médio ao estágio remunerado.
Há muito o CIEE está preocupado com a questão, tentando cumprir de forma cada vez mais qualitativa o seu papel de integrar a vida
escolar e a experiência do trabalho,
preparando os futuros profissionais, capacitando-os a se adequar
às novas exigências do mercado e
alcançar novos parâmetros de produtividade -palavra-chave para o
desenvolvimento acelerado de
nosso país, segundo recente relatório do Mackinsey Global Institute, dedicado ao Brasil.
Poderão ser esses 2 milhões de
jovens que ingressam anualmente
em nosso mercado de trabalho os
responsáveis pela elevação dos paradigmas de competência de nossa
mão-de-obra e instrumentos fundamentais para o crescimento econômico brasileiro. O CIEE considera, além disso, que essa etapa escolar -o nível médio- é importante e decisiva na escolha de uma
carreira. Mais, ainda, enxerga essa
solução como uma oportunidade
de contribuir para minorar o agravamento do quadro social e econômico que se desenha para este ano.
Além de prepará-los para a realidade profissional e familiarizá-los
com as novas técnicas do mundo
do trabalho, ao proporcionar a
bolsa-auxílio, o CIEE estará contribuindo com esses estudantes
para o pagamento de seus estudos,
numa época de crise econômica
aguda, em que qualquer resíduo
complementa de forma significativa a renda familiar.
Não se pode perder de vista, no
entanto, o papel educador e formador que exerce o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE),
ao atuar como elo entre o mundo
do saber e o mundo do fazer, e a
importância das políticas governamentais, de construir a ponte
para a formação do profissional
do mundo moderno.
Juntos, iniciativa privada, escolas, governo e CIEE devem propor
soluções para auxiliar esses jovens
a construir o futuro, a se transformar em profissionais capazes de
revolucionar os paradigmas de
qualidade e produtividade e a contribuir, assim, para superar os momentos difíceis que as nações menos ricas atravessam dentro do
mundo globalizado, promovendo
o crescimento econômico do país.
Antonio Jacinto Caleiro Palma, 51, advogado,
é presidente do Conselho de Administração do
Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Luiz Gonzaga Bertelli, 63, é diretor da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São
Paulo (Fiesp/Ciesp) e da Associação Comercial
de São Paulo e presidente-executivo do CIEE
(Centro de Integração Empresa-Escola).
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