São Paulo, Quarta-feira, 27 de Janeiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTIGO

Jovens profissionais para um mundo em crise

ANTONIO JACINTO CALEIRO PALMA e
LUIZ GONZAGA BERTELLI

Se a mudança da política econômica, com a flexibilização do câmbio, traz, por um lado, riscos à estabilidade da moeda, por outro abre novas perspectivas de crescimento para o país. A instabilidade do atual momento econômico, porém, recomenda cautela.
O fim da âncora cambial não alterou o quadro de dificuldade que o Brasil enfrenta, como o alto índice de endividamento interno e externo, e ainda acrescenta o risco da volta da inflação.
A esse quadro veio somar-se o alargamento da banda de juros -cujas taxas já eram as mais altas do mundo-, reforçando previsões bastante sombrias para o nível de produção, consumo e, portanto, emprego, num momento em que as alterações no câmbio pareciam sinalizar, finalmente, uma política de incentivo ao investimento.
A medida aumenta outros riscos tão temíveis quanto o da inflação, como o de instalar a recessão prevista por economistas conceituados como o norte-americano Paul Krugman com a manutenção dos juros nos patamares atuais. Aumentar as taxas em uma economia estagnada pode significar matar o doente com o próprio remédio, punindo o país, ao mesmo tempo em que premia, intencionalmente ou não, o capital especulativo.
A combinação de juros altos, recessão e a falta de um projeto político de desenvolvimento industrial para o Brasil pode ser mortal para as empresas e as consequências serão ainda mais funestas para o emprego do que as que já se viram até agora.
E o agravamento do desemprego não é o único problema com o qual o país deve se preocupar. É preciso, ainda, arranjar ocupação para um contingente de 2 milhões de jovens que entram no mercado de trabalho todos os anos e que deverão enfrentar não apenas o desemprego conjuntural como o desemprego estrutural.
A globalização trouxe uma nova ordem ao mundo do trabalho. Funções e mesmo profissões inteiras desaparecem, engolidas pelas novas tecnologias. Novos patamares de aprendizado, educação e especialização são exigidos. Expectativas sempre crescentes do mercado levam o profissional da virada de século a buscar novos paradigmas de competência.
O governo tomou uma série de providências para minimizar os efeitos da crise sobre o emprego e tornar a legislação trabalhista mais ágil, reduzindo o peso dos encargos sociais que dificultam as contratações formais. A medida provisória baixada em 3 de novembro do ano passado prevê, além da suspensão temporária do contrato de trabalho, o acesso do estudante de nível médio ao estágio remunerado.
Há muito o CIEE está preocupado com a questão, tentando cumprir de forma cada vez mais qualitativa o seu papel de integrar a vida escolar e a experiência do trabalho, preparando os futuros profissionais, capacitando-os a se adequar às novas exigências do mercado e alcançar novos parâmetros de produtividade -palavra-chave para o desenvolvimento acelerado de nosso país, segundo recente relatório do Mackinsey Global Institute, dedicado ao Brasil.
Poderão ser esses 2 milhões de jovens que ingressam anualmente em nosso mercado de trabalho os responsáveis pela elevação dos paradigmas de competência de nossa mão-de-obra e instrumentos fundamentais para o crescimento econômico brasileiro. O CIEE considera, além disso, que essa etapa escolar -o nível médio- é importante e decisiva na escolha de uma carreira. Mais, ainda, enxerga essa solução como uma oportunidade de contribuir para minorar o agravamento do quadro social e econômico que se desenha para este ano.
Além de prepará-los para a realidade profissional e familiarizá-los com as novas técnicas do mundo do trabalho, ao proporcionar a bolsa-auxílio, o CIEE estará contribuindo com esses estudantes para o pagamento de seus estudos, numa época de crise econômica aguda, em que qualquer resíduo complementa de forma significativa a renda familiar.
Não se pode perder de vista, no entanto, o papel educador e formador que exerce o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), ao atuar como elo entre o mundo do saber e o mundo do fazer, e a importância das políticas governamentais, de construir a ponte para a formação do profissional do mundo moderno.
Juntos, iniciativa privada, escolas, governo e CIEE devem propor soluções para auxiliar esses jovens a construir o futuro, a se transformar em profissionais capazes de revolucionar os paradigmas de qualidade e produtividade e a contribuir, assim, para superar os momentos difíceis que as nações menos ricas atravessam dentro do mundo globalizado, promovendo o crescimento econômico do país.


Antonio Jacinto Caleiro Palma, 51, advogado, é presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).



Luiz Gonzaga Bertelli, 63, é diretor da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) e da Associação Comercial de São Paulo e presidente-executivo do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola).



Texto Anterior: Opinião econômica - Paulo Godoy: Um ajuste completo para antecipar 2000
Próximo Texto: Luís Nassif: O pacto capixaba
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.