|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Depoimentos à PF têm contradições
da Reportagem Local
Os depoimentos à Polícia Federal de Hebe Romano, relatora da
fusão Brahma-Antarctica, do ex-deputado Airton Soares e de supostos envolvidos no esquema de
suborno de conselheiros do Cade
têm contradições, negligências e
versões que parecem histórias da
carochinha. A Folha obteve 18 relatos e cruzou as versões:
1) O presidente do Cade, Gesner
de Oliveira, disse à PF que advertiu Hebe por ela não ter tomado
nota oficial da data e do teor da
conversa com Airton Soares, da
qual nasceu a história do suborno. Hebe não sabe precisar quando ocorreu o encontro que a deixou ""apreensiva". Diz que foi entre 10 e 15 de dezembro de 99.
A Kaiser acusa a conselheira de
ter demorado a avisá-la. Logo
após a conversa com Soares, Hebe
contou o fato a Neide Teresinha
Malard, advogada da AmBev. Hebe e Neide disseram à polícia que
têm uma amizade antiga.
Após avisar Neide, Hebe se reuniu com a direção da AmBev, em
São Paulo, em 5 de janeiro. Nesse
dia, pediu para falar reservadamente com Marcel Telles, co-presidente da empresa. Telles, que
deu a informação à PF, disse que a
conselheira mencionou a suposta
tentativa de suborno.
Em 21 de janeiro, cerca de 40
dias após a conversa com Airton
Soares, Hebe se reuniu com a direção da Kaiser, em São Paulo.
Presidente da Kaiser, Humberto Pandolpho disse à PF que ela
não fez menção ao nome de sua
empresa ao relatar sua conversa
com Soares. Afirma que chegou a
perguntar à conselheira se a Kaiser havia sido citada.
Karla Margarida Santos, procuradora do Cade que acompanhou
Hebe na reunião com a Kaiser, diz
que a conselheira declarou: ""Pelo
jeito que a pessoa falou, parece
que a proposta partiu de vocês". A
procuradora conta ainda que
Pandolpho disse: ""Não admito
um negócio desses".
2) Em depoimento à PF, em 15
de fevereiro, Airton Soares, que
advogava para Abradisa (Associação Brasileira dos Distribuidores da Antarctica), não disse claramente ter falado de tentativa de
suborno. Teria ido relatar a Hebe
que dois advogados estariam tentando tomar-lhe a representação
jurídica da Abradisa no Cade.
No entanto, em carta à Kaiser,
datada de 2 de fevereiro, diz que
foi alertar Hebe de que ""tinha tomado conhecimento através de
um cliente de que dois advogados
apregoavam poder obter resultado favorável no Cade".
3) Advogado da AmBev, Carlos
Francisco de Magalhães disse à
Polícia Federal que, em 36 anos de
profissão, ""nunca ouviu falar de
honorários advocatícios contratados no valor de R$ 20 milhões".
Esse valor, que teria sido pedido
por um dos supostos subornadores para advogar no Cade, surgiu
nas versões do presidente da
Abradisa, Ataíde Guerreiro, e do
advogado Marco Antonio Campos Sales. Este, ao lado do auditor
fiscal Márcio Pugliese, é um dos
supostos corruptores citados pela
conselheira Hebe Romano.
Guerreiro, Sales e Pugliese se
encontraram em São Paulo e negaram ter articulado eventual suborno. Pugliese teria se retirado
após falarem de cervejas e de arte.
Campos Sales teria se oferecido
para advogar para a Abradisa no
lugar de Airton Soares. Detalhe:
pediu os R$ 20 milhões (R$ 50 mil
para cada um dos cerca de 400 associados da Abradisa).
O pagamento para toda a equipe jurídica da AmBev, segundo o
advogado da empresa, ""não atinge o valor de um ou dois milhões
de reais". Nas palavras de Magalhães, o pleito da Abradisa, interessada em manter a distribuição
de cerveja terceirizada e independente, é ""muito mais simples" do
que o da AmBev.
(KA)
Texto Anterior: Guerra da cerveja: Kaiser quer afastar conselheira do Cade Próximo Texto: Coca-Cola é pivô na troca de acusações Índice
|