São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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Depoimentos à PF têm contradições

da Reportagem Local

Os depoimentos à Polícia Federal de Hebe Romano, relatora da fusão Brahma-Antarctica, do ex-deputado Airton Soares e de supostos envolvidos no esquema de suborno de conselheiros do Cade têm contradições, negligências e versões que parecem histórias da carochinha. A Folha obteve 18 relatos e cruzou as versões:
1) O presidente do Cade, Gesner de Oliveira, disse à PF que advertiu Hebe por ela não ter tomado nota oficial da data e do teor da conversa com Airton Soares, da qual nasceu a história do suborno. Hebe não sabe precisar quando ocorreu o encontro que a deixou ""apreensiva". Diz que foi entre 10 e 15 de dezembro de 99.
A Kaiser acusa a conselheira de ter demorado a avisá-la. Logo após a conversa com Soares, Hebe contou o fato a Neide Teresinha Malard, advogada da AmBev. Hebe e Neide disseram à polícia que têm uma amizade antiga.
Após avisar Neide, Hebe se reuniu com a direção da AmBev, em São Paulo, em 5 de janeiro. Nesse dia, pediu para falar reservadamente com Marcel Telles, co-presidente da empresa. Telles, que deu a informação à PF, disse que a conselheira mencionou a suposta tentativa de suborno.
Em 21 de janeiro, cerca de 40 dias após a conversa com Airton Soares, Hebe se reuniu com a direção da Kaiser, em São Paulo.
Presidente da Kaiser, Humberto Pandolpho disse à PF que ela não fez menção ao nome de sua empresa ao relatar sua conversa com Soares. Afirma que chegou a perguntar à conselheira se a Kaiser havia sido citada.
Karla Margarida Santos, procuradora do Cade que acompanhou Hebe na reunião com a Kaiser, diz que a conselheira declarou: ""Pelo jeito que a pessoa falou, parece que a proposta partiu de vocês". A procuradora conta ainda que Pandolpho disse: ""Não admito um negócio desses".
2) Em depoimento à PF, em 15 de fevereiro, Airton Soares, que advogava para Abradisa (Associação Brasileira dos Distribuidores da Antarctica), não disse claramente ter falado de tentativa de suborno. Teria ido relatar a Hebe que dois advogados estariam tentando tomar-lhe a representação jurídica da Abradisa no Cade.
No entanto, em carta à Kaiser, datada de 2 de fevereiro, diz que foi alertar Hebe de que ""tinha tomado conhecimento através de um cliente de que dois advogados apregoavam poder obter resultado favorável no Cade".
3) Advogado da AmBev, Carlos Francisco de Magalhães disse à Polícia Federal que, em 36 anos de profissão, ""nunca ouviu falar de honorários advocatícios contratados no valor de R$ 20 milhões".
Esse valor, que teria sido pedido por um dos supostos subornadores para advogar no Cade, surgiu nas versões do presidente da Abradisa, Ataíde Guerreiro, e do advogado Marco Antonio Campos Sales. Este, ao lado do auditor fiscal Márcio Pugliese, é um dos supostos corruptores citados pela conselheira Hebe Romano.
Guerreiro, Sales e Pugliese se encontraram em São Paulo e negaram ter articulado eventual suborno. Pugliese teria se retirado após falarem de cervejas e de arte. Campos Sales teria se oferecido para advogar para a Abradisa no lugar de Airton Soares. Detalhe: pediu os R$ 20 milhões (R$ 50 mil para cada um dos cerca de 400 associados da Abradisa).
O pagamento para toda a equipe jurídica da AmBev, segundo o advogado da empresa, ""não atinge o valor de um ou dois milhões de reais". Nas palavras de Magalhães, o pleito da Abradisa, interessada em manter a distribuição de cerveja terceirizada e independente, é ""muito mais simples" do que o da AmBev. (KA)


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