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GUERRA DA CERVEJA
Empresa afirma que Hebe Romano, relatora do processo AmBev, "perdeu a neutralidade"
Kaiser quer afastar conselheira do Cade
Investimos nos últimos cinco anos US$ 1 bilhão, acreditando num país que tinha concorrência.
Agora, vamos ter um monopólio. A concentração se espalha pelo sistema. A AmBev, pelo poder que
terá, manipulará preços. Fusão, só no guaraná
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KENNEDY ALENCAR
FÁBIA PRATES
da Reportagem Local
A Kaiser solicitará amanhã ao
Cade (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) o impedimento da conselheira Hebe Romano para relatar o caso AmBev.
""A conselheira cita levianamente
a empresa numa suposta tentativa de suborno", disse o presidente
da Kaiser, Humberto Pandolpho.
A Folha revelou anteontem que
Hebe, em depoimento à PF (Polícia Federal), disse que o ex-deputado e advogado Airton Soares
contou a ela que a Kaiser estaria
envolvida num esquema de compra de conselheiros que julgarão a
AmBev (fusão da Brahma e Antarctica). Soares era advogado de
distribuidores da Antarctica.
Pandolpho diz que a acusação é
um ""absurdo". Afirma que, nos
depoimentos tomados pela PF,
apenas Hebe menciona a Kaiser.
Para ele, a conselheira perdeu a
neutralidade, pois informou imediatamente a AmBev da conversa
com Soares, enquanto demorou
40 dias para dizê-lo à Kaiser.
A Folha procurou Hebe no Cade e em sua casa anteontem às
18h30. Ontem, às 18h, um familiar
disse que ela viajara. Seguem os
principais trechos da entrevista:
Folha - A conselheira Hebe Romano disse à PF que a Kaiser foi
citada pelo advogado Airton
Soares como envolvida na suposta tentativa de suborno do
Cade. A Kaiser fez isso?
Humberto Pandolpho - É absurdo. Após analisar os depoimentos à Polícia Federal, vê-se
que a conselheira cita a Kaiser levianamente. É indiscutível que ela
não é mais neutra. Pedirei seu impedimento definitivo na segunda-feira (amanhã).
Nos autos da PF, só ela usa o nome da Kaiser. Nos outros depoimentos, ninguém cita. Há inconsistências, como não precisar a
data da conversa sobre suborno.
Uma coisa assim deve ser anotada
oficialmente. Ela fala que teve a
informação entre 10 e 15 de dezembro, avisa uma advogada da
AmBev no mesmo dia, reúne-se
com a direção da AmBev em 5 de
janeiro e só em 21 de janeiro, 40
dias depois, avisa a Kaiser.
Folha - Hebe deu à PF os nomes do auditor fiscal Márcio Pugliese e do advogado Marco Antonio de Campos Sales como supostos subornadores. O sr. os
conhece?
Pandolpho - Nunca estive com
Campos Sales, Pugliese e Soares.
No entanto, recebi uma carta do
Airton Soares dizendo que ele
nunca citou a Kaiser. Se tenho
uma carta dele, se ele vai à Polícia
Federal e testemunha isso, por
que Hebe sai falando da Kaiser?
Folha - Por quê? O sr. crê que a
Abradisa ou a AmBev possam
ter interesse na acusação?
Pandolpho - Não tenho como
afirmar isso. Quero apurar até o
fim para limpar o nome da Kaiser.
Folha - O sr. tem um problema
específico com Hebe ou com os
demais conselheiros do Cade?
Pandolpho - Específico. O cronograma de atividades feito por
ela revela um tratamento diferenciado para a AmBev, como se a
Kaiser estivesse atrapalhando. Pedimos vista do processo, semana
passada, e nos foi negado. Ela disse que tinha de consultar a AmBev e ver o que era confidencial.
Foi repreendida por conselheiros,
dizendo que a decisão cabia a ela.
Folha - A AmBev prometeu diminuir os preços em 5% e desafiou a Kaiser a fazê-lo. Por que o
sr. não aceita o desafio?
Pandolpho - É balela, como
promessa de acabar com enchente. No mercado, a Kaiser é o quarto preço. Os três primeiros são da
AmBev. Eles têm 13 marcas de
cervejas, cada uma com uma posição no mercado. Com o monopólio (a AmBev ficaria com cerca
de 80%), o consumidor, que hoje
dita o preço, não decidirá nada.
Folha - A fusão quebraria a
Kaiser?
Pandolpho - Pode quebrar todo
mundo. Investimos nos últimos
cinco anos US$ 1 bilhão, acreditando num país que tinha concorrência. Agora, vamos ter um monopólio. A concentração se espalha pelo sistema. A AmBev, pelo
poder que terá, manipulará preços. Se querem fusão no guaraná,
tudo bem. Não há monopólio.
Folha - É legítimo que Brahma
e Antarctica queiram se unir
também nas cervejas. Não é o
governo que teria de definir restrições?
Pandolpho - Nos termos dos
relatórios do SDE (Secretaria de
Direito Econômico, do Ministério
da Justiça) e da Seae (Secretaria de
Acompanhamento Econômico,
do Ministério da Fazenda), aceitamos a fusão. Os pareceres recomendam a venda de uma marcas.
Folha - O Ministério do Desenvolvimento, porém, julga a fusão de interesse do país.
Pandolpho - Por esse caminho,
é melhor ter duas multinacionais
verde-amarelas. A Brahma é a
quinta cervejaria do mundo (com
a AmBev, seria a terceira). Se a
Kaiser comprar a Skol, o Brasil teria duas entre as dez maiores.
Folha - A AmBev diz que a Kaiser não tem dinheiro para comprar a Skol, por exemplo. A empresa teve prejuízo em 99?
Pandolpho - Sim. Absorvemos
o custo da variação cambial de janeiro. Um fato interessante: a capacidade de premonição da Brahma. Foi a única empresa que conseguiu prever. Fez hedge (seguro
cambial) em dezembro de 98.
Folha - Se o parecer do Cade
recomendar a venda da Skol, a
Kaiser pretende comprá-la?
Pandolpho - Sim, mas depende
de como for estabelecida a venda.
Folha - Até onde vai a Kaiser
nessa briga com a AmBev?
Pandolpho - Se a decisão ferir a
legislação, vamos à Justiça.
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