São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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ENERGIA

Empresas adotam o gás natural boliviano em busca de economia, poder estratégico e cuidado ambiental
Indústrias paulistas se rendem ao gás

CÁTIA LASSALVIA
da Reportagem Local

Empresas paulistas de diversos setores estão se rendendo ao gás natural. O combustível não é novidade, mas o gasoduto Bolívia-Brasil demorou mais de 50 anos para sair do projeto e chegar finalmente ao Estado de São Paulo, abastecendo o maior pólo industrial do país.
"Optei pelo gás pois ele gera uma economia de 30% no custo energético", conta José Luiz Batistella, diretor-superintendente da cerâmica Batistella, de Limeira, que usa o gás natural no lugar do GLP (gás liquefeito de petróleo).
A Batistella foi a primeira empresa brasileira a receber, em novembro, o produto do gasoduto boliviano.
O gás natural é usado para gerar calor nas indústrias. Ele é injetado nas caldeiras e fornos, substituindo principalmente o óleo combustível e o GLP. Em relação ao óleo combustível, possui uma qualidade superior, com preços próximos, segundo seus usuários. Diante do GLP, o gás ganha em custo e se equipara na qualidade.

Decisão estratégica
Para a maior fábrica de Coca-Cola do mundo, situada em Jundiaí, a decisão de usar o gás foi estratégica. "Com ele, ficaremos independentes de qualquer problema com petróleo. Basta abrir a torneira do gás e garantir que nossa produção será constante", diz Santino Orsi, diretor industrial da Panamco Brasil, dona da fábrica de Jundiaí e a maior produtora de Coca-Cola do país.
Para a Copersucar -que possui a Companhia União dos Refinadores de Açúcar e Café-, situada em Limeira, o projeto de conversão dos equipamentos ao gás natural vai abranger as seis caldeiras existentes.
"O custo acabará ficando menor, pois o gás exige uma estrutura industrial muito mais simples do que a usada pelo óleo combustível, que é, além de tudo, corrosivo", afirma Marcelo Monteiro, gerente industrial da Copersucar.

Combustível moderno
O gás natural também é chamado de "gás verde", por ser um combustível limpo e sem prejuízo ao meio ambiente.
Essas qualidades do produto fazem a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, de Piracicaba, aguardar com ansiedade a ligação da fábrica à tubulação do ramal que chega até a cidade.
"Para as indústrias, acho que o gás é um caminho sem volta", diz Paulo Roberto Cardozo, gerente de laminação da empresa em Piracicaba. "O gás é muito limpo e representará um avanço da empresa em relação ao meio ambiente e aos próprios custos de manutenção dos equipamentos", diz Cardozo.

Alegria atrasada
A chegada do gás boliviano ao Estado de São Paulo já estava prevista nos anos 40. Infinitas negociações entre governos e a falta de um sistema de distribuição definido contribuíram para tamanho atraso no projeto, fazendo com que as indústrias buscassem outras alternativas ao combustível.
O gás natural que vem da Bolívia entra no Brasil pelas mãos da Petrobras, chegando ao Mato Grosso do Sul e, depois, atravessando o Estado de São Paulo.
No Estado, a partir dos vários "city-gates" (portas de entrada), o gás passa a ser distribuído pela concessionária paulista -a Comgás, que negocia com cada região o prolongamento de um ramal.
O otimismo em relação à chegada do gás boliviano não atinge só os seus usuários. As empresas que cuidam das instalações mecânicas industriais também estão prevendo crescimento nos negócios. "Por enquanto, estamos fazendo a conversão da Ajinomoto, mas prevemos um trabalho intenso a partir do segundo semestre, quando os ramais do gasoduto forem avançando", diz José Carlos Leonardi, supervisor da Avaf, empresa sediada em Campinas, que ajuda as indústrias a converter seus equipamentos para o uso do gás natural.
"O fornecimento de gás para o Estado de São Paulo tende a crescer muito nos próximos dois anos", diz Leonardi.


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