São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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Nasdaq atrai o investidor da Dow Jones

RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local



Uma nova surpresa na economia norte-americana está desafiando os analistas. Pelos métodos tradicionais de avaliação, o preço das ações nos EUA estava inflado e a recente queda nas cotações seria motivo de alívio. Sem sustos nem crises, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, deslizou quase 15% desde o início do ano.
Em tese, essa queda seria suficiente para promover o que os especialistas chamam de "aterrissagem suave". O problema é que enquanto um índice baixa a altitude, outro ganha velocidade de cruzeiro. Desde o início do ano, o Nasdaq, índice das empresas de alta tecnologia, subiu 14%, segundo a consultoria Economática.
"Ainda não houve a correção no preço das ações que se esperava. Boa parte da queda do Dow Jones se deve a uma mudança dos investidores, trocando ações de empresas tradicionais por outras de alta tecnologia", diz o economista Edmar Bacha, que dirige o escritório do banco BBA em Nova York.
As ações de empresas de informática, telecomunicações e outros ramos de tecnologia avançada são também as que estão com os valores mais inflados. Mesmo as recentes altas nos juros não foram capazes de abater a fé dos investidores no que se convencionou chamar de "nova economia".
"O índice Dow Jones já caiu, refletindo a preocupação dos investidores com o futuro da economia. Mas os papéis de empresas de tecnologia e o crescimento econômico continuam surpreendendo os analistas e, por enquanto, não há o menor sinal de aterrissagem", diz Odair Abate, economista-chefe do Lloyds Bank.
Os Estados Unidos estão desafiando os manuais econômicos com forte crescimento econômico desde 1983 - só interrompido em dois semestres, em 1991 e 1992. No chão das fábricas, há hiperatividade. O país cresce a mais de 6% ao ano e o Fed (banco central dos EUA) vem subindo os juros para frear o crescimento e impedir a alta da inflação.
"Como não há, por enquanto, forte pressão por alta dos preços, pode-se imaginar que uma alta gradual dos juros possa gerar uma aterrissagem suave, com uma redução do crescimento, sem crise. Mas o que vai ocorrer no mercado acionário é imprevisível", diz o economista José Júlio Senna, da consultoria MCM.
Para o Brasil, é fundamental que a economia dos EUA baixe de ritmo sem pânico entre investidores ou recessão. Um cenário de instabilidade internacional poderia provocar fuga de dólares, pressionar a cotação da moeda norte-americana, alimentar a inflação e impedir a queda dos juros.
"As ações brasileiras demonstraram uma resistência incrível, subindo 6,6% desde o início do ano, mesmo com a queda do Dow Jones. É um sinal de confiança no país. Nesse novo cenário, a preocupação passa a ser o Nasdaq, que reflete melhor a expectativa quanto ao futuro da economia dos EUA", diz Octavio de Barros, economista-chefe do BBV.


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