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Nasdaq atrai
o investidor
da Dow Jones
RICARDO GRINBAUM
da Reportagem Local
Uma nova surpresa na economia norte-americana está
desafiando os analistas. Pelos
métodos tradicionais de avaliação, o preço das ações nos EUA
estava inflado e a recente queda
nas cotações seria motivo de
alívio. Sem sustos nem crises, o
índice Dow Jones, da Bolsa de
Nova York, deslizou quase 15%
desde o início do ano.
Em tese, essa queda seria suficiente para promover o que
os especialistas chamam de
"aterrissagem suave". O problema é que enquanto um índice baixa a altitude, outro ganha
velocidade de cruzeiro. Desde
o início do ano, o Nasdaq, índice das empresas de alta tecnologia, subiu 14%, segundo a
consultoria Economática.
"Ainda não houve a correção
no preço das ações que se esperava. Boa parte da queda do
Dow Jones se deve a uma mudança dos investidores, trocando ações de empresas tradicionais por outras de alta tecnologia", diz o economista Edmar
Bacha, que dirige o escritório
do banco BBA em Nova York.
As ações de empresas de informática, telecomunicações e
outros ramos de tecnologia
avançada são também as que
estão com os valores mais inflados. Mesmo as recentes altas
nos juros não foram capazes de
abater a fé dos investidores no
que se convencionou chamar
de "nova economia".
"O índice Dow Jones já caiu,
refletindo a preocupação dos
investidores com o futuro da
economia. Mas os papéis de
empresas de tecnologia e o
crescimento econômico continuam surpreendendo os analistas e, por enquanto, não há o
menor sinal de aterrissagem",
diz Odair Abate, economista-chefe do Lloyds Bank.
Os Estados Unidos estão desafiando os manuais econômicos com forte crescimento econômico desde 1983 - só interrompido em dois semestres,
em 1991 e 1992. No chão das fábricas, há hiperatividade. O
país cresce a mais de 6% ao ano
e o Fed (banco central dos
EUA) vem subindo os juros para frear o crescimento e impedir a alta da inflação.
"Como não há, por enquanto, forte pressão por alta dos
preços, pode-se imaginar que
uma alta gradual dos juros possa gerar uma aterrissagem suave, com uma redução do crescimento, sem crise. Mas o que
vai ocorrer no mercado acionário é imprevisível", diz o economista José Júlio Senna, da
consultoria MCM.
Para o Brasil, é fundamental
que a economia dos EUA baixe
de ritmo sem pânico entre investidores ou recessão. Um cenário de instabilidade internacional poderia provocar fuga
de dólares, pressionar a cotação da moeda norte-americana, alimentar a inflação e impedir a queda dos juros.
"As ações brasileiras demonstraram uma resistência
incrível, subindo 6,6% desde o
início do ano, mesmo com a
queda do Dow Jones. É um sinal de confiança no país. Nesse
novo cenário, a preocupação
passa a ser o Nasdaq, que reflete melhor a expectativa quanto
ao futuro da economia dos
EUA", diz Octavio de Barros,
economista-chefe do BBV.
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