São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2000


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MERCADO

Desvalorização das ações da empresa de Internet e da parceira Time Warner deixa acionistas intrigados

AOL encolhe na Bolsa após megafusão

MARCIO AITH
de Washington

Desde que a AOL (American Online) e a Time Warner juntaram-se no que era a maior fusão do mundo dos negócios ao ser anunciada, em 10 de janeiro passado, os valores de mercado das duas companhias flutuaram tanto que os investidores começaram a refletir se a lógica da operação, baseada na imagem do pequeno peixe comendo o tubarão, fazia ou não sentido.
No dia do anúncio, o negócio, medido pelo preço das ações no mercado, valia US$ 160 bilhões. Pouco tempo depois, ainda na euforia criada pelo maior conglomerado de mídia do mundo, o valor da fusão chegou a US$ 190 bilhões.
Parecia uma tendência sem volta, até que vários fatores, incluindo preocupações de investidores com a viabilização prática da fusão de um ícone da nova tecnologia com uma empresa tradicional, fizeram o seu valor despencar, chegando a US$ 119 bilhões no começo de fevereiro. Hoje, está em torno de US$ 140 bilhões.
A simples desvalorização das ações não indica que as duas companhias perderam dinheiro nem que a fusão, ainda não formalizada, foi um mau negócio. Tanto que, na última semana, a Merril Lynch e o Credit Suisse First Boston aconselharam seus clientes a comprar os títulos da AOL, considerando-os baixos demais para as características da empresa e para seu potencial de crescimento.
O problema real é que as ações da AOL e as da Time variam de forma diferente e, se não tiram o mérito da fusão, fazem os investidores pensarem. O motivo é simples. Embora a AOL faturasse US$ 22 bilhões a menos que a Time, foi ela e não a gigante da mídia a líder no negócio.
A tradicional Time Warner, com dívidas crescentes e sem perspectivas de expansão, aceitou submeter-se ao comando da AOL porque apostou na percepção do mercado de que, por princípio, as companhias de Internet valem mais que as tradicionais porque têm maior potencial de crescimento. A Time Warner seria uma empresa "pesada". A AOL, versátil e moderna, teria um crescimento certo. É por isso que valeria mais.
Quase 50 dias depois, essa lógica, que já não era muito apreciada pelos economistas tradicionais, que viam uma "bolha" no boom das empresas de Internet, passou a ser questionada com mais força.
Do dia 10 de janeiro até a última sexta-feira, as ações da AOL caíram 19,2%. As da Time Warner também caíram, mas numa proporção menor.
Normalmente, as ações de uma companhia que adquire outra numa fusão tendem a cair, enquanto as da empresa incorporada fazem o sentido inverso. Mas, devido às circunstâncias inovadoras do negócio, até um comportamento previsível envolve fatores novos.
O primeiro, levantado pelos investidores da Time Warner, é se, daqui a um ano, eles irão se arrepender da proporção da troca de ações que aceitaram em janeiro com base numa percepção que contraria indicadores tradicionais como faturamento e ativos.
Já os investidores da AOL, embora percam dinheiro quando suas ações se desvalorizam, ficam felizes com o fato de a companhia ter negociado a fusão quando seus títulos estavam valendo mais.
A troca das ações entre AOL e Time Warner ainda não foi feita, aguardando autorização de órgãos reguladores, mas a proporção já foi definida. Portanto, cada vez que as ações da AOL se desvalorizam, seus investidores ficam com a sensação de que pagaram menos pela Time Warner.


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