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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Relatório do BC, em geral técnico, abre exceção para pedir o apoio da sociedade no combate aos aumentos

Ata do Copom vira manifesto antiinflação

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de aumentar os juros básicos da economia e anunciar medidas recessivas para tentar conter a inflação, o Banco Central espera agora poder contar com o apoio da população para evitar uma disparada dos preços.
A expectativa de uma maior participação da sociedade foi expressa na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
O documento, que em geral se restringe a aspectos técnicos referentes à condução da política monetária, abre, pela primeira vez, exceção para pedir o apoio das pessoas no combate à inflação.
"O Copom avalia que, além dos efeitos diretos da política monetária, também são importantes outras ações de política econômica do governo e a reação da sociedade contra a inflação, para propiciar um recuo mais significativo da variação dos preços", diz o documento divulgado ontem.
Mais adiante, o texto completa: "A experiência brasileira evidencia como tem sido importante o empenho da sociedade para a manutenção da estabilidade de preços como elemento fundamental de uma estratégia de desenvolvimento".
Na história recente do país, um dos casos mais famosos da participação da sociedade na luta contra a inflação se deu durante o governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990). Na época, o Plano Cruzado determinou o tabelamento de preços, e as pessoas -chamadas de "fiscais do Sarney"- eram incentivadas a denunciar eventuais remarcações.

Como agir?
A ata da reunião do Copom não diz, de forma direta, qual seria o papel da sociedade no combate à inflação, mas traz implícita a idéia de que as pessoas devam pesquisar e buscar os menores preços na hora das compras. O BC dá conselho semelhante às pessoas que buscam fugir dos juros altos cobrados pelos bancos. A dica é buscar, sempre que possível, aquele que pratica as taxas mais baixas.
Desde o início do ano, o BC adotou uma série de medidas para tentar conter a disparada dos preços. A principal preocupação é que a forte alta da inflação contamine os índices deste ano, criando o que o BC chama de "inércia inflacionária".
Essa inércia poderia ser explicada pela possibilidade de as pessoas se "acostumarem" a uma inflação elevada e colaborarem para que ela continue alta. Esse tipo de comportamento é comum em épocas de hiperinflação.
"Há riscos de a inflação manter-se em patamares elevados, na medida em que a inflação corrente mostra sinais de resistência. Devido a mecanismos inerciais de formação de preços na economia brasileira, a inflação mais alta de 2002 tem se refletido em inflação ainda elevada neste início de ano", diz o documento.
Para tentar conter essa inércia, o BC aumentou os juros em duas oportunidades. A taxa Selic, que no início do ano estava em 25% ao ano, está hoje em 26,5%.


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