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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Para ministro, efeito dos juros sobre a inflação ainda demora

Meta é frear "bola de neve" da indexação, diz Palocci

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Com o segundo aumento dos juros em menos de dois meses de gestão, o governo Lula mira na indexação, mais do que na inflação pura e simplesmente.
"Se houver indexação, vira bola de neve e escapa do controle", diz o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho.
A inflação transformou-se rapidamente no "grande problema" do governo, avalia Palocci, a ponto de ele ter invertido o discurso tradicional do PT, no diálogo de anteontem com a cúpula da CUT. Disse aos dirigentes sindicais que cabe a eles escolher entre reivindicar aumentos salariais indexados à inflação ou ajudar a combatê-la, sabendo que a inflação é sempre o maior inimigo dos salários.
O fantasma que levou ao segundo aumento dos juros (o primeiro havia sido em janeiro) foi idêntico: a avaliação, baseada em uma série histórica, de que a inflação fica fora de controle sempre que ultrapassa os dois dígitos.
Foi esse argumento que venceu a resistência de Lula ao primeiro aumento dos juros, conforme a Folha informou na época.
Agora, essa preocupação amparada pelas estatísticas foi de novo esgrimida pelo BC para elevar os juros de 25,5% para 26,5%. O efeito sobre os preços, no entanto, não será sentido de imediato, admite Palocci. "Só dentro de quatro, cinco ou seis meses."
Se é assim, fica forte a hipótese de que o governo Lula siga uma política macroeconômica contracionista durante todo o seu primeiro ano, similar, a rigor, ao que foi o segundo mandato de FHC.
"Me dá desespero supor que a política macroeconômica será igual", responde Palocci.
Desfazer essa impressão, no entanto, depende de políticas de apoio ao crescimento, que, conforme o ministro admite, "ainda estão em fase de preparação".
Uma delas: setores que estão exportando muito (com a ajuda de um real muito desvalorizado) já chegam perto do limite, não têm mais para quem vender. O esforço do governo, coordenado com a iniciativa privada, será ampliar o mercado internacional para produtos brasileiros e ao mesmo tempo planejar investimentos em setores que exportam bastante.
Trata-se de "preparar a oportunidade de o Brasil crescer", política que, segundo Palocci, o governo anterior desprezou.
De todo modo, são políticas de efeito a médio prazo. O ministro não dá garantia nenhuma de resultados imediatos. No máximo, acha "possível" que as "oportunidades de o Brasil crescer" comecem a surgir "ainda neste ano".
Antes, no entanto, a preocupação do governo é superar o que Palocci chama de "choque de credibilidade" sofrido pelo país a partir de meados de 2002 (ele não diz, mas é o período em que o mercado começou a apostar contra o Brasil, na certeza de que Lula ganharia a eleição). Faz parte desse esforço o aumento do superávit primário dos 3,75% do PIB combinados com o FMI por FHC para 4,25%. Palocci admite que não haveria pressão forte do Fundo para elevar o superávit, embora o FMI o considerasse pequeno.
O governo Lula tomou, ele próprio, a iniciativa de fazer um aumento considerável como forma de "pôr a casa em ordem no primeiro ano", diz o ministro.
Seria outra forma de diferenciar-se da gestão anterior, ainda que pelo lado da ortodoxia. Palocci diz que FHC passou seu segundo período de governo ajustando o Orçamento ano a ano.
O PT pretende fazer o ajuste de uma só vez, no primeiro ano.


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