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ANO DO DRAGÃO
Para ministro, efeito dos juros sobre a inflação ainda demora
Meta é frear "bola de neve" da indexação, diz Palocci
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Com o segundo aumento dos
juros em menos de dois meses de
gestão, o governo Lula mira na indexação, mais do que na inflação
pura e simplesmente.
"Se houver indexação, vira bola
de neve e escapa do controle", diz
o ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho.
A inflação transformou-se rapidamente no "grande problema"
do governo, avalia Palocci, a ponto de ele ter invertido o discurso
tradicional do PT, no diálogo de
anteontem com a cúpula da CUT.
Disse aos dirigentes sindicais que
cabe a eles escolher entre reivindicar aumentos salariais indexados
à inflação ou ajudar a combatê-la,
sabendo que a inflação é sempre o
maior inimigo dos salários.
O fantasma que levou ao segundo aumento dos juros (o primeiro
havia sido em janeiro) foi idêntico: a avaliação, baseada em uma
série histórica, de que a inflação
fica fora de controle sempre que
ultrapassa os dois dígitos.
Foi esse argumento que venceu
a resistência de Lula ao primeiro
aumento dos juros, conforme a
Folha informou na época.
Agora, essa preocupação amparada pelas estatísticas foi de novo
esgrimida pelo BC para elevar os
juros de 25,5% para 26,5%. O efeito sobre os preços, no entanto,
não será sentido de imediato, admite Palocci. "Só dentro de quatro, cinco ou seis meses."
Se é assim, fica forte a hipótese
de que o governo Lula siga uma
política macroeconômica contracionista durante todo o seu primeiro ano, similar, a rigor, ao que
foi o segundo mandato de FHC.
"Me dá desespero supor que a
política macroeconômica será
igual", responde Palocci.
Desfazer essa impressão, no entanto, depende de políticas de
apoio ao crescimento, que, conforme o ministro admite, "ainda
estão em fase de preparação".
Uma delas: setores que estão exportando muito (com a ajuda de
um real muito desvalorizado) já
chegam perto do limite, não têm
mais para quem vender. O esforço do governo, coordenado com a
iniciativa privada, será ampliar o
mercado internacional para produtos brasileiros e ao mesmo
tempo planejar investimentos em
setores que exportam bastante.
Trata-se de "preparar a oportunidade de o Brasil crescer", política que, segundo Palocci, o governo anterior desprezou.
De todo modo, são políticas de
efeito a médio prazo. O ministro
não dá garantia nenhuma de resultados imediatos. No máximo,
acha "possível" que as "oportunidades de o Brasil crescer" comecem a surgir "ainda neste ano".
Antes, no entanto, a preocupação do governo é superar o que
Palocci chama de "choque de credibilidade" sofrido pelo país a
partir de meados de 2002 (ele não
diz, mas é o período em que o
mercado começou a apostar contra o Brasil, na certeza de que Lula
ganharia a eleição). Faz parte desse esforço o aumento do superávit
primário dos 3,75% do PIB combinados com o FMI por FHC para
4,25%. Palocci admite que não
haveria pressão forte do Fundo
para elevar o superávit, embora o
FMI o considerasse pequeno.
O governo Lula tomou, ele próprio, a iniciativa de fazer um aumento considerável como forma de "pôr a casa em ordem no primeiro ano", diz o ministro.
Seria outra forma de diferenciar-se da gestão anterior, ainda
que pelo lado da ortodoxia. Palocci diz que FHC passou seu segundo período de governo ajustando o Orçamento ano a ano.
O PT pretende fazer o ajuste de
uma só vez, no primeiro ano.
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