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ANÁLISE
"Choque de credibilidade" do PT não dá resultado previsto
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula
da Silva promoveu duas altas dos juros, anunciou uma forte
elevação das metas fiscais, cortou
R$ 14 bilhões em gastos e estabeleceu como prioridades no Congresso a autonomia do Banco
Central e a reforma da Previdência.
Esse conjunto de medidas, sabe-se agora, deveria ter sido o
"choque de credibilidade" muito
prometido pelos petistas após a
eleição de Lula. O objetivo era ganhar a confiança do mercado e
conseguir, pela ordem, uma rápida queda do dólar, expectativas
menores de inflação e a chance de
baixar os juros em alguns meses.
Como os tempos verbais indicam, as coisas não saíram como o
planejado.
No início de janeiro, as projeções médias do mercado apontavam uma inflação de 11% em
2003. Na semana passada, a despeito de todos os esforços do governo, já se previa um IPCA de
12,06% neste ano.
Em dezembro, foram elevados
os limites para a inflação fixados
no acordo com o FMI (Fundo
Monetário Internacional); ontem,
foi anunciada uma nova revisão
desses mesmos limites. Em janeiro, o Banco Central anunciou que
buscaria uma inflação de 8,5% em
2003; um mês depois, quase todo
o mercado aposta no enterro dessa meta.
A explicação mais imediata é
que, devido à iminência de uma
guerra entre EUA e Iraque, o dólar interrompeu a tendência de
queda inicial e voltou ao patamar
entre R$ 3,50 e R$ 3,60. Mas há
outros pontos a considerar.
O temor da guerra já fazia o dólar subir quando o BC fixou a nova meta de inflação, em 21 de janeiro. Naquele dia mesmo, o presidente da instituição, Henrique
Meirelles, mencionou a possibilidade de nova elevação da meta.
Contribuiu para a desconfiança
do mercado a notícia, publicada
pela Folha quatro dias depois, de
que a alta dos juros de 25% para
25,5% ao ano havia sido discutida
com Lula, que resistia à medida.
Em nota oficial, o BC não chegou
a negar diretamente a informação, limitando-se a afirmar que
seguira "critérios técnicos".
O aumento do superávit primário (a parcela das receitas destinada a pagar os juros da dívida pública) não chegou a surpreender
os investidores, que contavam
com a providência desde o ano
passado. Devido a resistências do
PT, o governo adiou para o segundo semestre o projeto de autonomia do BC.
Sem muito de novo a oferecer a
partir de agora, Lula tende a ser
mais pressionado a aprovar o
quanto antes uma reforma ambiciosa da Previdência -ou a pedir
a ajuda da sociedade no controle
das remarcações de preços.
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