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São Paulo, quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

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ANÁLISE

"Choque de credibilidade" do PT não dá resultado previsto

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo Luiz Inácio Lula da Silva promoveu duas altas dos juros, anunciou uma forte elevação das metas fiscais, cortou R$ 14 bilhões em gastos e estabeleceu como prioridades no Congresso a autonomia do Banco Central e a reforma da Previdência.
Esse conjunto de medidas, sabe-se agora, deveria ter sido o "choque de credibilidade" muito prometido pelos petistas após a eleição de Lula. O objetivo era ganhar a confiança do mercado e conseguir, pela ordem, uma rápida queda do dólar, expectativas menores de inflação e a chance de baixar os juros em alguns meses.
Como os tempos verbais indicam, as coisas não saíram como o planejado.
No início de janeiro, as projeções médias do mercado apontavam uma inflação de 11% em 2003. Na semana passada, a despeito de todos os esforços do governo, já se previa um IPCA de 12,06% neste ano.
Em dezembro, foram elevados os limites para a inflação fixados no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional); ontem, foi anunciada uma nova revisão desses mesmos limites. Em janeiro, o Banco Central anunciou que buscaria uma inflação de 8,5% em 2003; um mês depois, quase todo o mercado aposta no enterro dessa meta.
A explicação mais imediata é que, devido à iminência de uma guerra entre EUA e Iraque, o dólar interrompeu a tendência de queda inicial e voltou ao patamar entre R$ 3,50 e R$ 3,60. Mas há outros pontos a considerar.
O temor da guerra já fazia o dólar subir quando o BC fixou a nova meta de inflação, em 21 de janeiro. Naquele dia mesmo, o presidente da instituição, Henrique Meirelles, mencionou a possibilidade de nova elevação da meta.
Contribuiu para a desconfiança do mercado a notícia, publicada pela Folha quatro dias depois, de que a alta dos juros de 25% para 25,5% ao ano havia sido discutida com Lula, que resistia à medida. Em nota oficial, o BC não chegou a negar diretamente a informação, limitando-se a afirmar que seguira "critérios técnicos".
O aumento do superávit primário (a parcela das receitas destinada a pagar os juros da dívida pública) não chegou a surpreender os investidores, que contavam com a providência desde o ano passado. Devido a resistências do PT, o governo adiou para o segundo semestre o projeto de autonomia do BC.
Sem muito de novo a oferecer a partir de agora, Lula tende a ser mais pressionado a aprovar o quanto antes uma reforma ambiciosa da Previdência -ou a pedir a ajuda da sociedade no controle das remarcações de preços.


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