São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Aumento reflete demanda por crédito e pouca concorrência, afirma especialista

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bancos têm uma série de argumentos para justificar o aumento em janeiro das taxas de juros ao consumidor -a crise nos mercados, o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) maiores, a taxa Selic congelada e o controle das tarifas bancárias a partir de abril-, mas o repasse desses custos só acontece se o tomador final aceita absorvê-los.
E o consumidor aceita porque não tem outra opção, segundo especialistas.
Ou seja: as taxas ao consumidor subiram em janeiro por conta de uma equação econômica simples: há muita demanda por crédito e são poucas as instituições que podem atendê-la. E nenhuma por taxas consideravelmente menores.
"O aumento dos juros reflete o aquecimento da demanda por crédito e uma estrutura de baixa concorrência no setor bancário. Há muita gente querendo um produto que poucos oferecem. O aumento dos juros acontece em modalidades como o financiamento de automóveis, que é o mais aquecido. A população não sabe fazer conta. Vê apenas se cabe no bolso a prestação", diz Jairo Saddi, professor do Ibmec-SP.
Para Saddi, há um entusiasmo generalizado pelo crédito ao consumo no país. Ele afirma que o consumidor utilizou o crédito no final do ano passado para fazer as compras de Natal e já emendou em janeiro com as liquidações.
Saddi avalia que os juros só vão diminuir se cair a demanda pelo financiamento ou aumentar a concorrência dos bancos pelo mesmo cliente.
Para Erivelto Rodrigues, sócio da consultoria Austin Ratings, os juros e o chamado "spread" [diferença entre taxas captadas e repassadas] devem seguir altos nos próximos meses, mesmo se os fatores que justificaram o repasse de custos não confirmarem o potencial de estrago calculado inicialmente pelos bancos.

Impacto
"Banco é um setor que repassa seus custos. Os juros e o "spread" devem aumentar ainda mais. A concorrência não vai nem reduzir as taxas [atuais] nem conter novos aumentos."
Na avaliação do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), o aumento dos juros e do "spread" mostra que a crise internacional teve impacto sobre o mercado de crédito doméstico. "A elevação foi a primeira reação dos bancos ao contexto de maior incerteza no cenário exterior."
Saddi reconhece o papel do mau humor nos mercados na formação de expectativas, mas afirma que a crise não elevou os custos do crédito doméstico. "A crise é mais pretexto. Os banqueiros sabem que está ligada ao crédito nos EUA e não aqui."


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