|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Na contramão do setor, lucro do BB cai 16%
Enquanto bancos privados têm avanço expressivo no ganho, instituição estatal perde fôlego com gastos com funcionários
Presidente diz que banco está "um momento atrás" do mercado; ações recuam 5% com resultado visto
como "decepcionante"
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A estrutura de banco público
e o custo de políticas de governo pesaram no resultado do
Banco do Brasil em 2007.
O maior banco do país teve
lucro líquido de R$ 5,058 bilhões, 16,3% menor do que os
R$ 6,044 bilhões de 2006. O desempenho foi ainda pior quando comparado com os principais concorrentes privados. O
BB lucrou, no ano passado,
40% a menos do que os R$
8,474 bilhões do Itaú e 37% do
que os R$ 8,01 bilhões do Bradesco. Itaú e Unibanco praticamente dobraram seu lucro em
2007 na comparação com
2006, enquanto o Bradesco teve elevação de 58%.
O resultado do BB teve impacto direto nas ações do banco, que encerrou no mês passado processo de oferta pública.
Ontem, suas ações caíram
4,96%, enquanto as do Bradesco se valorizaram em 4% e o índice Ibovespa subiu 0,28%.
"Foi um resultado decepcionante. Ficou muito aquém do
que esperava o mercado. As
pessoas esquecem que o BB é
uma estatal e, às vezes, vem um
resultado desse para relembrar
que está sujeito a ingerências
publicas", destaca Demétrius
Borel Lucindo, da Fator Corretora, para explicar o pessimismo que tomou conta do mercado após o resultado.
A cúpula do BB justificou
parte da queda por causa de
gastos extraordinários com a
injeção de recursos no plano de
saúde dos funcionários (R$ 325
milhões) e com um programa
de demissão antecipada de
7.000 servidores antigos (R$
604 milhões). Isso anulou integralmente o ganho de R$ 239
milhões com a venda de ações
que o banco tinha em carteira,
como da BM&F e da Bovespa.
Descontando as despesas extraordinárias, o lucro do BB em
2007 seria de R$ 5,748 bilhões,
ainda bastante inferior ao dos
principais concorrentes.
"Mesmo descontando esses
gastos, o lucro é baixo para um
banco do porte do BB", argumenta Alexandre Marques Filho, analista da corretora Elite.
"O BB vinha em linha com os
principais bancos privados e,
em 2007, eles quase dobraram
o lucro de 2006."
O presidente do BB, Antônio
Francisco de Lima Neto, reconheceu algumas dificuldades
do banco quando comparado
com a concorrência privada
que vem, sobretudo, da composição da carteira de crédito. O
BB elevou em 20% o volume total de créditos concedidos, enquanto o mercado teve um índice em torno de 30%.
O problema, segundo executivos do banco, é que, enquanto
as instituições privadas têm
50% do crédito voltado para
pessoas físicas, com remuneração mais elevada, o Banco do
Brasil tem apenas 20%. Os outros 80% são de crédito rural
(50%) e empresas (30%) que
têm uma margem menor de lucro para os bancos.
"Estamos um momento atrás
[do mercado]. O BB está tentando recuperar mercado",
afirmou Lima Neto, ressaltando que o BB tenta "amadurecer" a carteira com pessoas físicas. O crescimento desse segmento em 2007 foi de 33%.
A carteira de crédito do BB,
segundo o presidente, também
sofreu o impacto das operações
no exterior, que tiveram queda
de 6,6% no ano por causa da valorização do real ante o dólar.
Além disso, os financiamentos
rurais foram suspensos por um
período em razão da renegociação das dívidas dos agricultores
com o governo, o que fez a carteira agrícola subir apenas 15%.
Lima Neto ressaltou também
que, apesar de terem reduzido
o lucro do banco, as despesas
extraordinárias de 2007 foram
importantes para o BB ganhar
mais eficiência. "2008 será um
ano de maior pressão no resultado do setor, com regulamentação das tarifas e aumento da
carga tributária", disse, referindo-se à elevação da CSLL.
"Fizemos o ajuste enquanto
tínhamos gordura. Cumprimos
uma agenda para ter ganhos futuros", completou.
As receitas com operações de
crédito do BB subiram 16,9%
em 2007, alcançando R$ 25,3
bilhões. Os ganhos com tarifas
foram 11,4% maiores do que no
ano anterior, totalizando R$
9,9 bilhões. Já as despesas administrativas cresceram 15,7%,
alcançando R$ 15,9 bilhões.
Texto Anterior: Subsídio ao Norte deixa conta de luz mais cara
Próximo Texto: BB Popular tem prejuízo pelo quarto ano Índice
|