São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Na contramão do setor, lucro do BB cai 16%

Enquanto bancos privados têm avanço expressivo no ganho, instituição estatal perde fôlego com gastos com funcionários

Presidente diz que banco está "um momento atrás" do mercado; ações recuam 5% com resultado visto como "decepcionante"

SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A estrutura de banco público e o custo de políticas de governo pesaram no resultado do Banco do Brasil em 2007.
O maior banco do país teve lucro líquido de R$ 5,058 bilhões, 16,3% menor do que os R$ 6,044 bilhões de 2006. O desempenho foi ainda pior quando comparado com os principais concorrentes privados. O BB lucrou, no ano passado, 40% a menos do que os R$ 8,474 bilhões do Itaú e 37% do que os R$ 8,01 bilhões do Bradesco. Itaú e Unibanco praticamente dobraram seu lucro em 2007 na comparação com 2006, enquanto o Bradesco teve elevação de 58%.
O resultado do BB teve impacto direto nas ações do banco, que encerrou no mês passado processo de oferta pública. Ontem, suas ações caíram 4,96%, enquanto as do Bradesco se valorizaram em 4% e o índice Ibovespa subiu 0,28%.
"Foi um resultado decepcionante. Ficou muito aquém do que esperava o mercado. As pessoas esquecem que o BB é uma estatal e, às vezes, vem um resultado desse para relembrar que está sujeito a ingerências publicas", destaca Demétrius Borel Lucindo, da Fator Corretora, para explicar o pessimismo que tomou conta do mercado após o resultado.
A cúpula do BB justificou parte da queda por causa de gastos extraordinários com a injeção de recursos no plano de saúde dos funcionários (R$ 325 milhões) e com um programa de demissão antecipada de 7.000 servidores antigos (R$ 604 milhões). Isso anulou integralmente o ganho de R$ 239 milhões com a venda de ações que o banco tinha em carteira, como da BM&F e da Bovespa.
Descontando as despesas extraordinárias, o lucro do BB em 2007 seria de R$ 5,748 bilhões, ainda bastante inferior ao dos principais concorrentes.
"Mesmo descontando esses gastos, o lucro é baixo para um banco do porte do BB", argumenta Alexandre Marques Filho, analista da corretora Elite. "O BB vinha em linha com os principais bancos privados e, em 2007, eles quase dobraram o lucro de 2006."
O presidente do BB, Antônio Francisco de Lima Neto, reconheceu algumas dificuldades do banco quando comparado com a concorrência privada que vem, sobretudo, da composição da carteira de crédito. O BB elevou em 20% o volume total de créditos concedidos, enquanto o mercado teve um índice em torno de 30%.
O problema, segundo executivos do banco, é que, enquanto as instituições privadas têm 50% do crédito voltado para pessoas físicas, com remuneração mais elevada, o Banco do Brasil tem apenas 20%. Os outros 80% são de crédito rural (50%) e empresas (30%) que têm uma margem menor de lucro para os bancos.
"Estamos um momento atrás [do mercado]. O BB está tentando recuperar mercado", afirmou Lima Neto, ressaltando que o BB tenta "amadurecer" a carteira com pessoas físicas. O crescimento desse segmento em 2007 foi de 33%.
A carteira de crédito do BB, segundo o presidente, também sofreu o impacto das operações no exterior, que tiveram queda de 6,6% no ano por causa da valorização do real ante o dólar. Além disso, os financiamentos rurais foram suspensos por um período em razão da renegociação das dívidas dos agricultores com o governo, o que fez a carteira agrícola subir apenas 15%.
Lima Neto ressaltou também que, apesar de terem reduzido o lucro do banco, as despesas extraordinárias de 2007 foram importantes para o BB ganhar mais eficiência. "2008 será um ano de maior pressão no resultado do setor, com regulamentação das tarifas e aumento da carga tributária", disse, referindo-se à elevação da CSLL.
"Fizemos o ajuste enquanto tínhamos gordura. Cumprimos uma agenda para ter ganhos futuros", completou.
As receitas com operações de crédito do BB subiram 16,9% em 2007, alcançando R$ 25,3 bilhões. Os ganhos com tarifas foram 11,4% maiores do que no ano anterior, totalizando R$ 9,9 bilhões. Já as despesas administrativas cresceram 15,7%, alcançando R$ 15,9 bilhões.


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