São Paulo, quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

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Importações devem aumentar medidas protecionistas, diz governo

Nova responsável pela defesa comercial do Brasil também prevê que exportadores brasileiros enfrentarão mais resistência e investigações em outros países

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nova responsável pela defesa comercial do país, a advogada Miriam Barroca avalia que os exportadores brasileiros enfrentarão mais resistência e um número maior de investigações em outros países.
"A expansão das exportações torna mais comuns as investigações contra nossas empresas, de forma que o ministério atua em apoio à defesa das exportações brasileiras", afirmou a nova diretora de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento.
Ao mesmo tempo, o crescimento expressivo das importações deve continuar exigindo a aplicação de tarifas antidumping provisórias para proteger a indústria nacional.
Em sua primeira entrevista desde a nomeação para o cargo, no mês passado, Barroca assinala que a entrada dos produtos chineses no país não merecerá atenção especial sua.
Ela não descarta, porém, que as vendas chinesas ao Brasil tornem-se alvo de um número maior de investigações. Leia abaixo trechos da entrevista, concedida por e-mail, a pedido de Barroca.

 

FOLHA - Quais os principais desafios da defesa comercial com exportações mais complexas e maior número de destinos?
MIRIAM BARROCA -
Com o aumento contínuo do fluxo comercial brasileiro, a atuação na área de defesa comercial intensifica-se nas suas duas principais vertentes: aplicação dos mecanismos de defesa comercial e apoio ao exportador brasileiro. Isso porque, com o aumento das importações, maior é a probabilidade de ocorrência de práticas desleais de comércio que provoquem dano à indústria nacional e que mereçam a atenção do governo para a aplicação de medidas de defesa comercial para resguardar nossa indústria.
Por outro lado, a expansão das exportações brasileiras torna mais comuns as investigações contra nossas empresas, de forma que o ministério atua em apoio à defesa das exportações brasileiras. Já no que se refere aos destinos das exportações brasileiras, o desafio do ministério está na atuação em apoio aos exportadores brasileiros em países de idiomas, culturas e ordenamentos jurídicos em muito diferentes do brasileiro, o que demanda um estudo da legislação do país de destino para que possamos auxiliar de forma adequada os exportadores.

FOLHA - As importações da China terão atenção especial?
BARROCA -
Não há dúvidas de que a China está em destaque no cenário mundial, não somente pelas exportações mas pelo seu crescimento e desenvolvimento, que aumentam a cada ano.
É importante destacar que a simples existência de importação não permite concluir pela ocorrência de dano à produção brasileira.
O ministério realiza o acompanhamento das importações brasileiras, originárias de todos os países, por meio do sistema de acompanhamento Aliceweb, de acesso público.
Ressalto que todos os setores que se sentirem prejudicados pelas importações, de qualquer origem, e que tenham indícios de que os preços do produto importado são artificialmente menores, em razão de práticas desleais de comércio, poderão entrar em contato, a fim de que seja analisada a viabilidade de aplicação de uma medida de defesa comercial.
A China não será alvo de acompanhamento ou atenção especial. O que poderá acontecer, na prática, é que, em razão do aumento das importações de produto chinês, os pedidos de investigação contra as importações chinesas poderão ser mais freqüentes.

FOLHA - O prazo das investigações, cuja média hoje gira em torno de oito meses, é satisfatório para a sra.?
BARROCA -
A legislação brasileira, a exemplo da internacional, prevê que as investigações antidumping devem ser encerradas em 12 meses e, em casos excepcionais, em 18 meses. A diminuição do prazo das investigações para oito meses demonstra grande eficiência do ministério, que atuou em duas frentes: otimização das práticas internas e colaboração da indústria peticionária, apresentando as informações necessárias para a instrução do processo sem a solicitação de prazos adicionais. Ressalte-se que, a depender da complexidade da investigação, esse prazo pode ser maior. Em relação à continuidade das aplicações de medidas antidumping provisórias, o ministério continuará mantendo sua política de recomendar a aplicação sempre que se demonstrar necessário e forem cumpridos os requisitos legais.

FOLHA - A sra. vê algum setor ou setores mais ameaçados pelo aumento de importações?
BARROCA -
Tradicionalmente, o setor mais demandante, na área de defesa comercial, é o setor químico, apesar de todos os setores estarem sujeitos à prática de dumping e de subsídios.

FOLHA - Os mecanismos em vigor hoje são suficientes para defender a indústria nacional?
BARROCA -
Acredito que os instrumentos de defesa comercial disponíveis são adequados para a proteção da indústria. No entanto, mesmo que não fossem, a necessidade de o Estado aumentar sua capacidade de agir em casos mais graves nessa área não seria de competência interna, mas, sim, proveniente de negociação internacional.
De qualquer maneira, existem outras formas de defender o setor produtivo das importações desleais que não a defesa comercial. Por exemplo: o acordo sobre procedimentos para licenciamento de importações e o acordo de valoração aduaneira [acordo que fixa regras para o cálculo do valor dos produtos no comércio exterior].

FOLHA - Como a sra. vê o subfaturamento das importações de alguns países?
BARROCA -
O governo reconhece a importância do combate às práticas fraudulentas no comércio internacional, e a Camex está coordenando ações específicas para reprimir eficientemente essas práticas.


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