|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Jeitinho" atrapalha economia, diz livro
País é obrigado a se enquadrar nas regras de boa governança para acelerar sua integração ao processo de globalização
Obra foi escrita por consultores e aliados do governo FHC; sem conotação política, os autores apontam saídas
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo do Banco Mundial revela que as empresas
brasileiras declaram apenas
dois terços de seu volume de
vendas para escapar do fisco.
Levantamento do instituto Latinobarómetro mostra que o
Brasil está em 16º entre os 18
países que mais descumprem
as leis. Indicadores como esses
são reflexos do famoso "jeitinho brasileiro" que, segundo o
livro "Cultura das Transgressões, Lições do Brasil", está
com os dias contados.
O livro, que será lançado hoje
em São Paulo, foi coordenado
por Fernando Henrique Cardoso e Marcílio Marques Moreira, e escrito por André Franco Montoro Filho, Bolívar Lamounier, Joaquim Falcão, José
Murilo de Carvalho e Roberto
DaMatta.
Segundo os autores, o Brasil
está sendo obrigado a lidar com
a "malandragem" e com os custos que ela traz ao país devido
às pressões internacionais.
"A integração da economia
brasileira com a das nações
mais globalizadas está forçando o país a avançar nessa questão", afirma Montoro Filho.
"No mundo global, China, Índia e Brasil são pressionados a
cumprir regras de boa governança e isso acaba refletindo
internamente."
O recente embargo europeu
à carne brasileira pode ser citado como exemplo. Para não
perder o prazo dado pelos europeus, o Ministério da Agricultura enviou uma lista com mais
de 2.600 nomes de propriedades, quando a União Européia
esperava no máximo 300.
Para os autores do livro, há
outras barreiras. A primeira delas é a extensão geográfica do
Brasil e as diversidades regionais. "Existe uma legislação comum que contempla pessoas
que vivem em realidades totalmente diferentes", afirma
Montoro Filho. "Elas acabam
se distanciando do governo e
buscando soluções próprias,"
diz. "Como as leis têm brechas
enormes para interpretações,
cria-se uma insegurança jurídica enorme," diz.
O problema é que essa prática se arraigou de tal forma na
sociedade brasileira que afetou
sua economia. Segundo os autores, a sonegação tornou-se
prática coletiva, acarretando
aumentos sucessivos da carga
tributária. A pirataria e a informalidade desequilibraram a
concorrência e afetaram os
postos formais de trabalho.
Para piorar, ainda segundo os
autores, tudo pode ser questionado na Justiça. Um levantamento da pesquisadora Maria
Tereza Sadek revela que, em
2007, as empresas brasileiras
estavam entre as que mais gastaram tempo para cumprir suas
obrigações tributárias. Elas
perderam, em média, 108 dias e
9 horas encontrando formas de
não apenas se adequarem às regras, mas também de burlá-las.
Para Roberto DaMatta, pela
primeira vez na história, o país
começa a lidar com essas barreiras históricas. Antes, dizia-se que a inflação jamais seria
domada. "Os fatores decisivos
para a mudança foram as negociações políticas e econômicas,
não os contextos sociais."
Por isso, Montoro Filho defende a descentralização política como forma de avançar contra a cultura do "jeitinho". "A
União perderia um pouco de
sua força, permitindo que, nos
Estados, as pessoas se aproximassem mais de seus governantes", diz.
(JULIO WIZIACK)
Texto Anterior: EDP cria unidade para energia renovável no país Próximo Texto: Passagem aérea à América do Sul pode cair com tarifa livre Índice
|