São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

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WOLFGANG MÜNCHAU

Crise no leste pode devastar a zona do euro


A resposta mais inteligente à perspectiva de um colapso na Europa seria a adoção do euro pelos novos países da UE


A CRISE começou nos EUA, mas é na Europa que ela pode se transformar em catástrofe.
Um dirigente econômico me disse que a situação atual o fazia lembrar da crise do mecanismo europeu de taxas de câmbio, em 1992, quando países caíram vítimas de ataques especulativos, que resultaram na expulsão do Reino Unido e da Itália do sistema. Em uma união monetária, já não é possível apostar em taxas de câmbio. Mas, graças aos "credit default swaps" (CDS), continua possível apostar quanto à dissolução da zona do euro.
Há um perigo iminente na Europa central e oriental. A possibilidade de um colapso financeiro na região é a mais urgente questão de política que a União Europeia precisa enfrentar. Caso a reação seja ineficiente, a zona do euro pode terminar destruída.
A crise atingiu os europeus orientais e centrais de maneira tão desproporcionalmente intensa devido a dois erros políticos de seus governos. O primeiro foi encorajar os domicílios a tomar empréstimos hipotecários em moeda estrangeira. Na Hungria, quase todas as hipotecas estão denominadas em moeda estrangeira, principalmente francos suíços. O dinheiro que os domicílios economizaram com os baixos juros da Suíça foi mais que compensado pela alta do franco suíço.
O segundo erro político está diretamente relacionado ao primeiro. Os novos membros da UE trataram a adesão à zona do euro como uma decisão política voluntária. Isso representa interpretação equivocada de seus tratados de admissão. Quando assinaram para ganhar acesso à UE, também assinaram pela adoção do euro. Só Reino Unido e Dinamarca dispõem de cláusulas de salvaguarda que permitem optar pela exclusão. É claro que, por se tratar de economias recentemente industrializadas, esses países não têm obrigação de aderir imediatamente, mas tinham a obrigação de adotar políticas compatíveis com futura adesão. Caso as tivessem adotado, quase todos já estariam integrados à zona do euro. Eslovênia e Eslováquia demonstraram que, com as políticas corretas, é possível aderir cedo. Os dois países estão seguros, agora.
Mas os europeus centrais e orientais fizeram uma coisa de certo. Garantiram que seus bancos estivessem sob o controle de estrangeiros. Os bancos austríacos estão entre os mais ativos nesse sentido. A exposição da Áustria à Europa oriental equivale a 80% de seu PIB. Caso os domicílios húngaros deixem de pagar suas hipotecas, não é a Hungria que cairá, mas a Áustria. Itália e Suécia estão igualmente expostas. Uma crise na Europa central e oriental, portanto, representa evento sistêmico também para a zona do euro.
Quais são as opções políticas? Naturalmente, a UE poderia oferecer assistência financeira -via FMI-, mas não se sabe se isso bastaria para impedir uma crise contagiosa nos balanços de pagamentos da região.
A resposta mais inteligente à perspectiva de um colapso seria a adoção do euro, o mais rápido possível. A transição não precisa acontecer amanhã. Tudo de que precisamos amanhã é de uma estratégia firme e confiável de adesão -que incluiria uma data de admissão e uma taxa de câmbio para a conversão, ambas sustentadas por políticas confiáveis.
Isso requereria o abandono dos critérios de admissão à zona do euro. Deles, o mais absurdo é a taxa de referência de inflação, calculada como a média das três marcas nacionais mais baixas. Assim, um país que aspire a aderir à zona do euro estaria na posição de ter de conduzir uma deflação para ser admitido.
Caso surja uma calamidade, a UE intervirá. Isso é louvável, mas provavelmente não resolverá o problema, especialmente se a crise se espalhar. Conceder assistência financeira sem compromisso firme de adesão à zona do euro seria irresponsável. Adotar o euro é o caminho.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

WOLFGANG MÜNCHAU é colunista do "Financial Times", jornal no qual este artigo foi publicado originalmente.

Excepcionalmente, hoje, a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS não é publicada.



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