São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

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Juro cai menos que custo de captação dos bancos

Já o "spread" subiu de 27,4 pontos percentuais para 27,6 de janeiro a fevereiro

Aumento da inadimplência é citado como motivo que impede queda maior nos juros dos empréstimos da rede bancária


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A queda dos juros bancários nos últimos meses teria sido maior se os bancos tivessem repassado totalmente aos devedores o alívio proporcionado pela redução da taxa Selic. Mas, em fevereiro, pelo segundo mês seguido, isso não ocorreu.
Segundo pesquisa do Banco Central, o custo de captação dos bancos caiu de 12,5% ao ano para 12,1% entre janeiro e fevereiro. Ou seja, o custo para captar recursos no mercado caiu 0,4 ponto percentual, e, se não fosse a influência de nenhum outro fator, seria de esperar que os juros cobrados nos empréstimos caíssem na mesma magnitude.
Mas, no mês passado, os juros bancários caíram somente 0,2 ponto percentual. Isso porque parte dos ganhos com o menor custo de captação não foi repassada aos clientes, e sim apropriada pelos bancos, por meio do chamado "spread".
O "spread" serve para reforçar o lucro dos bancos e cobrir despesas como administrar suas carteiras de crédito -pagamento de funcionários, manutenção de agências e gastos com impostos, por exemplo.
Entre janeiro e fevereiro, o "spread" médio praticado no mercado subiu de 27,4 pontos percentuais para 27,6 pontos. Isso significa que, mesmo que os bancos tivessem um custo de captação igual a zero, ainda assim seriam cobrados juros de 27,6% ao ano daqueles que quisessem contrair uma dívida.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, não se deve esperar que a redução da taxa Selic favoreça uma queda mais acelerada do "spread" bancário. "Com tudo mais constante, o "spread" nem deveria cair", diz Lopes.
Segundo o funcionário do BC, não existe relação entre o nível da taxa Selic e o "spread", pois o "spread" é influenciado somente pelos custos arcados pelos bancos. Entre setembro de 2005 e o mês passado, a Selic caiu de 19,75% ao ano para 13%. No mesmo período, o "spread" bancário passou de 29,4 pontos para 27,6 pontos.

Lei de Falências
Nesse período, o governo tomou várias iniciativas para tentar reduzir o "spread", como a nova Lei de Falências, de 2005. Na época, argumentava-se que ela facilitaria a cobrança de dívidas por parte dos bancos e poderia ajudar a baratear o crédito. Entre setembro de 2005 e fevereiro deste ano, o "spread" caiu de 29,4 para 27,6 pontos.
Para Lopes, o efeito de medidas como essa ainda devem ser sentidas com o tempo. Ele reconhece que "o "spread" não caiu com a intensidade que se imaginava", mas credita o fenômeno às características da recente de expansão do crédito.
Segundo esse raciocínio, a maior procura por empréstimos tem ocorrido, de forma mais forte, entre micro e pequenas empresas e consumidores que não tinham o hábito de contrair dívidas. E, para emprestar a quem não tem cadastro que possa atestar sua capacidade de pagar suas contas em dia, os bancos estariam cobrando "spreads" mais elevados, para compensar o risco.
Uma maneira de medir esse maior risco seria o nível de inadimplência. Em setembro de 2005, segundo o BC, 4,1% dos financiamentos liberados pelos bancos estavam com parcelas atrasadas por ao menos 90 dias. No mês passado, eram 4,9%.


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