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BENJAMIN STEINBRUCH
Mais músculos nacionais
A chave da economia do país se chama investimento, algo que o Ipiranga passou a ter em braços mais musculosos
A COMPRA DO grupo Ipiranga
por um consórcio formado
por Petrobras, Brakem e Ultra foi o tema dominante na área de
negócios nos últimos dias. A boa notícia é que essa operação bilionária
permitiu que um dos maiores grupos privados nacionais seguisse sob
o controle de capitais brasileiros.
Não fossem as suspeitas de vazamento de informações privilegiadas,
que teriam proporcionado ganhos
indevidos a alguns investidores, o
que exige investigação rigorosa, a
venda poderia ser aplaudida de pé.
Negócios como esse ajudam-nos a
lembrar que, apesar da onda globalizante que anestesia cérebros esquerdistas e direitistas, ainda continua indispensável para um país que
se diz emergente cuidar do controle
de setores estratégicos de sua economia.
Sabemos que os longos anos de
crise vividos pelo país levaram a
uma desnacionalização em massa.
Sem condições de manter seus negócios por conta de deficiências de
capital e expostos a taxas de juros altíssimas e à tributação exorbitante,
muitos empresários brasileiros foram levados a vender suas empresas
ao capital estrangeiro.
Qualquer pessoa, com mínimo esforço de memória ou com pesquisas
simples, pode levantar os nomes de
alguns grandes empresários nacionais que dominavam a cena nos
anos 70, década de exuberância econômica. Onde estão? Que fim tiveram suas empresas? É público que
um grande número deles sucumbiu
a tentadoras ofertas de montanhas
de dólares oferecidas pelo controle
de seus negócios.
Nada contra o capital estrangeiro.
Como sempre, ele é bem-vindo, traz
tecnologia, cria empregos e ajuda a
aumentar a produção e a exportação. Mas não se pode permitir que,
em nome da globalização, ele tome
conta de setores estratégicos como
petróleo e petroquímica, siderurgia,
mineração, logística e geração de
energia.
É ingênuo achar que se pode entregar unicamente ao capital estrangeiro a tarefa de expandir a produção nesses setores de importância
fundamental para o desenvolvimento do país. O apagão de 2001 foi um
exemplo de como reagem algumas
empresas estrangeiras em momentos de crise aguda: cancelam investimentos e tiram o time de campo.
O meganegócio da semana passada se deu exatamente numa dessas
áreas estratégicas, petróleo e petroquímica. O Ipiranga, com 70 anos de
existência e faturamento anual de
R$ 31 bilhões, é o maior grupo nacional privado do setor, com refinaria,
20% da distribuição dos combustíveis do país, para 4.240 postos, e unidades petroquímicas.
Sofrendo das dificuldades crônicas citadas e sem condições de investir em expansão, o Ipiranga poderia ser presa fácil para grupos estrangeiros beneficiados por generosa liquidez internacional. Entre os
pretendentes, a Repsol espanhola e
a estatal venezuelana PDVSA.
Não é segredo para ninguém que o
presidente da Venezuela, Hugo
Chávez, sonha em penetrar no Brasil nesse setor estratégico, cobiçando principalmente o mercado mais
próximo de seu território, nas regiões Norte e Nordeste.
Com a aquisição da semana passada, os ativos incorporados a esses
três grandes grupos nacionais ganham musculatura financeira, tecnologia e condições de investir e
competir internacionalmente. Petrobras e Braskem já anunciaram,
por exemplo, que vão investir R$
780 milhões na modernização e na
ampliação da central petroquímica
de Triunfo (RS).
A questão-chave da economia do
país se chama investimento, algo
que o grupo Ipiranga passou a ter
em braços mais musculosos. Em
meio à euforia da revisão do PIB,
que mostrou uma economia quase
11% maior do que se imaginava, aflorou uma questão dramática: a falta
de investimentos é também muito
maior do que se pensava. Calculava-se que o país havia investido cerca de
20% do PIB em 2005. Agora, sabe-se
que o investimento real foi de só
16,3%, muito pouco para os padrões
internacionais -emergentes investem em média 25%- e insuficiente
para sustentar um crescimento desejável, da ordem de 6% ao ano.
Desde que o limite da livre concorrência seja respeitado, a consolidação dos setores de petróleo e petroquímica representa um fato positivo, capaz de elevar os investimentos
do capital nacional, que ganhou
musculatura. Para o bem do país, é
desejável que seja só o começo.
BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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