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Sob suspeita, gerente da Petrobras é afastado
Executivo teve dinheiro bloqueado por suspeita de lucrar com uso de informação privilegiada sobre compra do grupo Ipiranga
Presidente da estatal não comenta o caso; gerente lucrou 70% com operação de compra e venda de papéis, segundo a CVM
DA REDAÇÃO
Um gerente da Petrobras é
suspeito de ser um dos responsáveis pelo vazamento de informações privilegiadas na compra do grupo Ipiranga pela estatal, pela Braskem e pelo Grupo Ultra, segundo a Folha apurou. Ele foi afastado das funções pela empresa e teve seu
dinheiro bloqueado por liminar da Justiça do Rio na semana passada.
Questionado sobre o assunto
ontem à noite no "Roda Viva",
da TV Cultura, o presidente da
Petrobras, José Sergio Gabrielli, não confirmou a informação. Disse que a empresa criou
uma comissão na sexta para investigar a denúncia e que não
falaria mais nada sobre caso.
Em nota divulgada na sexta,
a CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) havia informado
que o gerente de uma das compradoras do grupo Ipiranga teve bloqueados R$ 295 mil que
seriam depositados em sua
conta pela Bovespa, mas não
revelou de que empresa ele era.
Ele é suspeito de uso indevido de informações privilegiadas por ter comprado ações ordinárias da Refinaria de Petróleo Ipiranga, nos dias 13 e 14, e
revendido os papéis com lucro
de 70% no dia 19, mesmo dia
em que foi feito o anúncio oficial da venda.
Em fevereiro, ele havia comprado ações preferenciais da
Refinaria Ipiranga no mercado
a termo da Bovespa. A partir do
dia 13, desfez-se de todas as
ações preferenciais e comprou
ordinárias, que foram valorizadas com a venda da Ipiranga.
Segundo a CVM, o nome do
gerente não estava nas listas
dos que tinham conhecimento
da venda da Ipiranga, que foram informadas pelas empresas envolvidas na negociação.
Mais de cem pessoas sabiam
da operação, entre executivos,
banqueiros, consultores, advogados e auditores.
Além do gerente do estatal,
duas pessoas físicas e um fundo
de investimento de Delaware
(EUA) tiveram suas contas bloqueadas por suspeita de envolvimento no caso. Ao todo, 26
investidores, entre pessoas físicas e jurídicas, estão sendo investigados pela comissão.
Foram bloqueados R$ 3,3
milhões entre lucros e investimentos do fundo estrangeiro.
Caso a operação tivesse sido
concluída, ele teria lucrado
40%. Uma das pessoas físicas
teve bloqueados R$ 970 mil,
que teria lucrado 69%.
Outra pessoa física teve R$
860 mil bloqueados. Segundo o
órgão regulador, ele se tornou
cliente de uma corretora no dia
14, cinco dias antes de as empresas anunciarem oficialmente a compra da Ipiranga.
No dia seguinte ao anúncio
da transação, ele se desfez de
todas ações, obtendo lucro de
38%. A própria corretora informou o fato à CVM.
Questão jurídica
O bloqueio dos ganhos obtidos é o primeiro passo para
uma ação civil pública de indenização por perdas no mercado
de capitais, que será proposta
pelo Ministério Público Federal em até 30 dias.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, disse na semana
passada que as investigações
seriam finalizadas no prazo de
90 dias. Depois, será aberto inquérito administrativo. Se forem comprovadas as suspeitas,
será aberto também processo
criminal contra os acusados. A
lei 10.303/2001 prevê prisão de
um a cinco anos e multa de até
três vezes o montante da vantagem ilícita obtida.
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