São Paulo, terça-feira, 27 de março de 2007

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Sob suspeita, gerente da Petrobras é afastado

Executivo teve dinheiro bloqueado por suspeita de lucrar com uso de informação privilegiada sobre compra do grupo Ipiranga

Presidente da estatal não comenta o caso; gerente lucrou 70% com operação de compra e venda de papéis, segundo a CVM


DA REDAÇÃO

Um gerente da Petrobras é suspeito de ser um dos responsáveis pelo vazamento de informações privilegiadas na compra do grupo Ipiranga pela estatal, pela Braskem e pelo Grupo Ultra, segundo a Folha apurou. Ele foi afastado das funções pela empresa e teve seu dinheiro bloqueado por liminar da Justiça do Rio na semana passada.
Questionado sobre o assunto ontem à noite no "Roda Viva", da TV Cultura, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, não confirmou a informação. Disse que a empresa criou uma comissão na sexta para investigar a denúncia e que não falaria mais nada sobre caso.
Em nota divulgada na sexta, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) havia informado que o gerente de uma das compradoras do grupo Ipiranga teve bloqueados R$ 295 mil que seriam depositados em sua conta pela Bovespa, mas não revelou de que empresa ele era.
Ele é suspeito de uso indevido de informações privilegiadas por ter comprado ações ordinárias da Refinaria de Petróleo Ipiranga, nos dias 13 e 14, e revendido os papéis com lucro de 70% no dia 19, mesmo dia em que foi feito o anúncio oficial da venda.
Em fevereiro, ele havia comprado ações preferenciais da Refinaria Ipiranga no mercado a termo da Bovespa. A partir do dia 13, desfez-se de todas as ações preferenciais e comprou ordinárias, que foram valorizadas com a venda da Ipiranga.
Segundo a CVM, o nome do gerente não estava nas listas dos que tinham conhecimento da venda da Ipiranga, que foram informadas pelas empresas envolvidas na negociação.
Mais de cem pessoas sabiam da operação, entre executivos, banqueiros, consultores, advogados e auditores.
Além do gerente do estatal, duas pessoas físicas e um fundo de investimento de Delaware (EUA) tiveram suas contas bloqueadas por suspeita de envolvimento no caso. Ao todo, 26 investidores, entre pessoas físicas e jurídicas, estão sendo investigados pela comissão.
Foram bloqueados R$ 3,3 milhões entre lucros e investimentos do fundo estrangeiro. Caso a operação tivesse sido concluída, ele teria lucrado 40%. Uma das pessoas físicas teve bloqueados R$ 970 mil, que teria lucrado 69%.
Outra pessoa física teve R$ 860 mil bloqueados. Segundo o órgão regulador, ele se tornou cliente de uma corretora no dia 14, cinco dias antes de as empresas anunciarem oficialmente a compra da Ipiranga.
No dia seguinte ao anúncio da transação, ele se desfez de todas ações, obtendo lucro de 38%. A própria corretora informou o fato à CVM.

Questão jurídica
O bloqueio dos ganhos obtidos é o primeiro passo para uma ação civil pública de indenização por perdas no mercado de capitais, que será proposta pelo Ministério Público Federal em até 30 dias.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, disse na semana passada que as investigações seriam finalizadas no prazo de 90 dias. Depois, será aberto inquérito administrativo. Se forem comprovadas as suspeitas, será aberto também processo criminal contra os acusados. A lei 10.303/2001 prevê prisão de um a cinco anos e multa de até três vezes o montante da vantagem ilícita obtida.


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