São Paulo, quinta-feira, 27 de março de 2008

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Ipea prevê alta de no máximo 5,2% no PIB

Instituto ligado ao governo estima crescimento menor da economia neste ano e aponta riscos com crise financeira global

Projeção para a inflação é de um aumento de até 5% neste ano, sem considerar um eventual reajuste da gasolina, segundo o Ipea

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao governo, estima que a economia crescerá menos neste ano do que no ano passado. Na Carta de Conjuntura divulgada ontem, o instituto avalia que o PIB (Produto Interno Bruto) crescerá entre 4,2% e 5,2% em 2008. O teto da projeção é inferior ao crescimento do ano passado, de 5,4%.
Segundo o instituto, o ponto médio na faixa de crescimento prevista é uma expansão de 4,7%. Para Marcelo Nonnenberg, coordenador do grupo de análises e projeções, a contribuição negativa do setor externo, estimada em média em -2,6% seria o principal fator a frear o crescimento.
Na prática, seria intensificado o movimento de alta das importações superior à das exportações, em um cenário de real apreciado e commodities com avanços mais moderados de preços. O Ipea projeta o dólar com cotação de R$ 1,61 a R$ 1,90. A taxa de juros ficaria em 11,25%.
A expectativa é que a demanda interna continue aquecida. O instituto estima que o consumo das famílias crescerá de 6,1% a 6,7% neste ano. Este seria o fator responsável pelo aumento dos investimentos, estimado de 12,4% a 14,1%. Na carta divulgada ontem, o Ipea afirma que mais da metade do crescimento da economia neste ano é resultado de um efeito de "carry over" de 2,5%. Isto significa a herança estatística de crescimento do ano passado para cá.
As projeções estão condicionadas a dois aspectos que podem influenciar o rumo da economia brasileira: desdobramentos da crise americana e eventual excesso de demanda interna. O Ipea avalia que a recessão americana durará pelo menos um ano, com intensidade moderada, o que terá impacto sobre o crescimento da economia mundial, estimado em média em 3,5%.
Além disso, a taxa menor de crescimento dos preços de commodities reduz o espaço ocupado pelas exportações no crescimento da economia.
O instituto ressalta que o aumento do uso da capacidade instalada na indústria, que atingiu patamar de 83% nos últimos meses, ainda não teve impactos significativos na inflação, mas que o indicador deve continuar a ser acompanhado de perto por conta das pressões de alimentos e de um eventual aumento da gasolina.
O Ipea estima que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) terá alta de 4% a 5% neste ano. As projeções não incluem um eventual aumento da gasolina. Desde setembro de 2005, a Petrobras não reajusta o combustível.
Apesar da cautela em relação ao comportamento dos preços, Miguel Bruno, coordenador do grupo de análises e projeções, afirmou que avaliaria como "precipitada" uma alta dos juros pelo Banco Central porque poderia inibir o investimento no setor produtivo num momento em que o governo se empenha para que as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deslanchem.

Indústria
O Ipea também divulgou ontem estimativa para a produção industrial, que deverá cair 0,4% em fevereiro na comparação com janeiro. Apesar da leve retração, o instituto avalia que o setor continua forte, com expansão de 9,7% em relação a fevereiro do ano passado.


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