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OPINIÃO ECONÔMICA
A responsabilidade do CMN
BENJAMIN STEINBRUCH
Vamos direto ao assunto: o
senador Aloizio Mercadante
(PT-SP) está certo em sua pregação para que o governo altere a
meta de inflação de 2005 de 4,5%
para 5,5%. Não faz sentido, diante das mudanças previstas no cenário externo, manter essa meta
exageradamente rigorosa, que
exigirá enorme sacrifício para ser
alcançada. Mais sensato é substituí-la por outra um pouco mais
realista, também difícil de alcançar, mas que ofereça melhores
condições para o crescimento da
economia.
Retomar o crescimento é fundamental não só para criar empregos -demanda número um dos
brasileiros- mas também para
melhorar a credibilidade internacional do Brasil. Há duas semanas, quando o JP Morgan rebaixou a recomendação sobre os papéis da dívida brasileira, incluiu
pelo menos uma frase sensata em
suas justificativas para a desastrada decisão: "As perspectivas de
crescimento [da economia brasileira] continuam incertas".
Traduzindo, isso quer dizer que,
para os olhos gulosos dos credores
externos, nada valem a política
monetária conservadora e a política fiscal restritiva quando a economia não cresce. Quem duvidar
disso pode perguntar a qualquer
executivo de empresa estrangeira
qual é a principal razão que leva
uma multinacional a fazer investimentos diretos em um país. A
resposta invariavelmente será: a
perspectiva de crescimento do
mercado. Não é por outra razão
que a China atrai bilhões e bilhões de dólares de capital estrangeiro de risco. A despeito das complicações burocrático-regulatórias do regime político comunista,
a estabilidade da economia e seu
crescimento contínuo são garantias de que haverá expansão de
demanda. E isso basta.
O raciocínio que fundamenta a
proposta de redução da meta de
inflação é simples. Para perseguir
a meta de 4,5% prevista para
2005, o Banco Central terá espaço
muito limitado para reduzir a taxa de juros, e isso vai acentuar a
tendência de estagnação da economia.
O senador Mercadante tem
usado freqüentemente o exemplo
do Chile para mostrar a importância da flexibilização das metas
de inflação e seu impacto no crescimento. O Chile adotou o sistema de metas em 1989, quando a
inflação atingia 26% ao ano, e levou oito anos para reduzi-la para
6,1%. Esse tratamento gradual
permitiu ao país desfrutar de altas taxas de crescimento -de
8,2%, em média, no período.
De 1998 a 2003, a inflação continuou em queda (até 2,5%), mas o
crescimento médio anual do PIB
chileno caiu para 2,5%. O exemplo consagra evidências de que os
picos de expansão econômica em
países emergentes ocorrem quando a inflação oscila entre 5% e
10% ao ano. Fora desses limites,
tanto para baixo quanto para cima, a inflação em geral prejudica
o crescimento.
Cabe ao CMN (Conselho Monetário Nacional) a responsabilidade de alterar a meta da inflação.
Aí começam os problemas. O
CMN, um órgão criado em dezembro de 1964 para ser o formulador das políticas econômicas, é
formado hoje apenas por três pessoas: o ministro da Fazenda, o
ministro do Planejamento e o
presidente do Banco Central.
Com essa formação, a decisão representa apenas a opinião do governo, sem nenhuma influência
direta daquilo que pensam os diferentes setores da economia brasileira. Seria útil discutir a idéia
de que o CMN, dada a sua importante função, pudesse ter também
outros ministros mais ligados ao
setor real da economia, como o do
Desenvolvimento e o da Agricultura. E por que não incluir ainda
representantes de trabalhadores,
empresários e do meio acadêmico, de modo que suas decisões
possam espelhar melhor as prioridades escolhidas pela sociedade?
É custoso admitir que, em tempos
menos democráticos da história
recente, o CMN já foi muito mais
transparente e representativo do
que é hoje.
Ao ser indagado sobre a proposta de Mercadante, o ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
disse estar aberto ao debate do tema, mas acrescentou que o assunto "não está na pauta" do governo. Com todo o respeito, acho que
é hora, então, de colocá-lo na
pauta. Nada é mais importante
do que a adoção de medidas que
possam acelerar o crescimento,
para combater o desemprego,
principal angústia brasileira.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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