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CRISE NO AR
Estatal envia notificação em que cobra R$ 134 mi e exige pagamento diário de R$ 900 mil; empresa pode recorrer
Infraero cobra Varig, que diz não poder pagar
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Infraero (estatal que administra os principais aeroportos do
país) iniciou ontem, por meio de
envio de notificação, o processo
de cobrança de uma dívida de
aproximadamente R$ 134 milhões da Varig. A estatal poderá
também exigir o pagamento diário de R$ 900 mil em taxas aeroportuárias da empresa. A Varig
disse que não tem como pagar.
"Estamos hoje [ontem] encaminhando à Varig uma notificação
extrajudicial e vamos aguardar
resposta da Varig até amanhã
[hoje]. Se não tiver resposta, vamos cumprir a lei", disse o presidente da Infraero, tenente-brigadeiro José Carlos Pereira.
Em seguida, sugeriu que, sem
interferência de algum superior
ou de decisão judicial, a companhia aérea corre sério risco. "Alguém tem que me deter para que
eu não cobre amanhã da Varig e
coloque a Varig em colapso."
O presidente da Varig, Marcelo
Bottini, disse que a empresa não
tem como pagar as taxas. "Neste
momento, não temos condições,
vamos negociar com a Infraero."
As propostas feitas pela Varig,
no entanto, terão que ter respaldo
jurídico e político, informou o
presidente da Infraero. "A questão Varig é política também. É necessário respaldo jurídico e político", disse Pereira. "A intenção é
ajudar a Varig no limite da lei.
Não vamos transgredir a lei."
O presidente da Infraero disse
ainda que a cobrança das taxas
pode não significar colapso para a
Varig se algumas medidas forem
adotadas. "Isso [a cobrança] não
significa necessariamente um colapso da empresa. Pode provavelmente significar para ela um remanejamento de linhas, melhorar
a malha aérea dela, talvez cancelar
um vôo, outro vôo, disse Pereira.
O montante de taxas aeroportuárias (permanência, navegação,
pouso e decolagem) é proporcional ao tamanho da malha (quantidade de linhas e número de vôos)
da empresa. Uma malha menor
significa menos taxas a serem pagas, diariamente, à Infraero. Outra proposta em estudo é repassar
a dívida de R$ 134 milhões para o
processo de recuperação judicial.
Para que a Infraero não faça a
cobrança, a Varig ainda pode recorrer à Justiça, como lembrou o
próprio presidente da estatal. "Isso [a legalidade da cobrança] não
é transitado em julgado. A Varig
tem todo o direito, a capacidade e
a competência para entrar com
uma ação judicial. Pode recorrer
até o limite. Não estamos em
guerra com a Varig. O nosso interesse é ajudar", disse Pereira.
A dívida total aproximada da
Varig com a Infraero é de R$ 515
milhões. A maior parte está alongada dentro das regras do plano
de recuperação judicial. Uma parcela de aproximadamente R$ 134
milhões se refere a tarifas aeroportuárias que não foram recolhidas enquanto vigorou uma liminar da Justiça que permitia que a
Varig não pagasse essas tarifas.
A liminar vigorou do final de
agosto do ano passado até março,
quando foi cassada pelo Tribunal
Regional Federal da 2ª Região
(Rio de Janeiro e Espírito Santo).
Desde então, a Infraero aguardava a publicação no "Diário da Justiça" da decisão para iniciar o procedimento de cobrança. A decisão
foi publicada na segunda-feira.
Dilma
Ontem a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse que o governo espera que investidor privado
assuma o controle da Varig e que
o BNDES está disposto a financiá-lo. Segundo ela, o governo não
pretende e não vai dar recursos
públicos para Fundação Ruben
Berta, que detém o controle acionário da empresa.
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