São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006

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Edemar é preso pela Polícia Federal em SP

Ex-controlador do Banco Santos é acusado de obstrução da Justiça e de ocultar obras de arte; ele nega e questiona o juiz

Policiais entram na casa de ex-banqueiro fingindo que estavam conferindo a presença de obras da coleção de Cid Ferreira

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, antigo controlador do Banco Santos, foi preso pela Polícia Federal sob acusação de ocultar o destino de obras de arte suas que estão fora do país, de tentar obstruir a Justiça e de ocultar peças de sua coleção. Edemar nega (leia na pág. B3).
O juiz Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal, decretou anteontem a prisão preventiva. Esse tipo de prisão, diferentemente da prisão temporária, tem prazo indeterminado -pode durar dias ou meses. Ele diz na sentença que Edemar age de "má-fé" ao esconder informações.
Outro motivo apresentado pelo juiz para decretar a prisão está baseado em e-mails trocados por advogados de Edemar. Para Martin de Sanctis, os advogados contribuíram para que o governo de Antígua não enviasse informações ao Brasil sobre uma "offshore" (a Alsace) e um banco (o Bank of Europe) que Edemar tinha no Caribe.
Edemar foi levado às 11h45 de sua casa de 8.000 m2 para fazer exame de corpo delito e depois foi recolhido numa cela de 12 m2.
Para evitar eventual fuga, a PF fez uma encenação ao chegar à casa do banqueiro, no Morumbi, zona sul de São Paulo. Inicialmente, um oficial de Justiça apresentou uma ordem judicial para conferir algumas obras de arte. Edemar recebeu-o cordialmente. Depois da conferência de que as obras não estavam lá, agentes da PF que estavam com o oficial deram voz de prisão ao ex-banqueiro.
Havia o temor de que Edemar se escondesse em algum compartimento secreto da mansão, caso fosse anunciada a ordem de prisão de imediato.
Reportagens da Folha publicadas em maio do ano passado e em janeiro deste ano revelaram que Edemar havia tirado do país pelo menos dez obras de arte. Algumas delas eram as mais caras de sua coleção: uma escultura de Henry Moore (1898-1986) comprada por US$ 1,475 milhão, uma tela de Jean-Michel Basquiat (1960-1988) de US$ 825 mil e um trabalho de Roy Lichtenstein (1923-1997) de US$ 590.400. Dez das obras que deixaram o país foram adquiridas por US$ 5,5 milhões, segundo banco de dados da coleção obtido pela Folha.
Uma testemunha de defesa de Edemar, Emílio Kalil, confirmou à Justiça ter visto "com certeza" os trabalhos de Moore, Lichtenstein, Anish Kapoor, Rauschenberg, Dubuffet e Fernand Léger na casa de Edemar em outubro de 2004. Em 12 de novembro daquele ano, o Banco Central decretou a intervenção no Banco Santos. Durante o seqüestro judicial, realizado em 1º de março de 2005, nenhuma dessas obras estava com o banqueiro.
Ao comparar o banco de dados da Cid Collection, empresa que detinha a coleção, e as obras que a Justiça determinara que fossem seqüestradas, o procurador Silvio Luís Martins de Oliveira contabilizou a falta de 38 obras. Foi por essa conta que Martins de Oliveira concluiu que o ex-banqueiro desaparecera com obras que deveriam estar seqüestradas.
Edemar confirmou ao juiz que as obras de Moore, Léger, Basquiat e Anish Kapoor estavam na Suíça e que as vendeu posteriormente. A revelação dos compradores, segundo o ex-banqueiro, significaria violar a confidencialidade de negócios realizados no exterior.
O juiz diz na sentença que a evidência de que Edemar não apresentou à Justiça todas as obras que tinha à época do seqüestro é o fato de ter apresentado agora um trabalho de Henri Matisse (1869-1954).


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