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Edemar é preso pela Polícia Federal em SP
Ex-controlador do Banco Santos é acusado de obstrução da Justiça e de ocultar obras de arte; ele nega e questiona o juiz
Policiais entram na casa de ex-banqueiro fingindo que estavam conferindo a presença de obras da coleção de Cid Ferreira
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O ex-banqueiro Edemar Cid
Ferreira, antigo controlador do
Banco Santos, foi preso pela
Polícia Federal sob acusação de
ocultar o destino de obras de
arte suas que estão fora do país,
de tentar obstruir a Justiça e de
ocultar peças de sua coleção.
Edemar nega (leia na pág. B3).
O juiz Fausto Martin de
Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal, decretou anteontem a
prisão preventiva. Esse tipo de
prisão, diferentemente da prisão temporária, tem prazo indeterminado -pode durar dias
ou meses. Ele diz na sentença
que Edemar age de "má-fé" ao
esconder informações.
Outro motivo apresentado
pelo juiz para decretar a prisão
está baseado em e-mails trocados por advogados de Edemar.
Para Martin de Sanctis, os advogados contribuíram para que
o governo de Antígua não enviasse informações ao Brasil
sobre uma "offshore" (a Alsace)
e um banco (o Bank of Europe)
que Edemar tinha no Caribe.
Edemar foi levado às 11h45
de sua casa de 8.000 m2 para fazer exame de corpo delito e depois foi recolhido numa cela de
12 m2.
Para evitar eventual fuga, a
PF fez uma encenação ao chegar à casa do banqueiro, no
Morumbi, zona sul de São Paulo. Inicialmente, um oficial de
Justiça apresentou uma ordem
judicial para conferir algumas
obras de arte. Edemar recebeu-o cordialmente. Depois da conferência de que as obras não estavam lá, agentes da PF que estavam com o oficial deram voz
de prisão ao ex-banqueiro.
Havia o temor de que Edemar se escondesse em algum
compartimento secreto da
mansão, caso fosse anunciada a
ordem de prisão de imediato.
Reportagens da Folha publicadas em maio do ano passado
e em janeiro deste ano revelaram que Edemar havia tirado
do país pelo menos dez obras
de arte. Algumas delas eram as
mais caras de sua coleção: uma
escultura de Henry Moore
(1898-1986) comprada por US$
1,475 milhão, uma tela de Jean-Michel Basquiat (1960-1988)
de US$ 825 mil e um trabalho
de Roy Lichtenstein (1923-1997) de US$ 590.400. Dez das
obras que deixaram o país foram adquiridas por US$ 5,5 milhões, segundo banco de dados
da coleção obtido pela Folha.
Uma testemunha de defesa
de Edemar, Emílio Kalil, confirmou à Justiça ter visto "com
certeza" os trabalhos de Moore, Lichtenstein, Anish Kapoor,
Rauschenberg, Dubuffet e Fernand Léger na casa de Edemar
em outubro de 2004. Em 12 de
novembro daquele ano, o Banco Central decretou a intervenção no Banco Santos. Durante
o seqüestro judicial, realizado
em 1º de março de 2005, nenhuma dessas obras estava
com o banqueiro.
Ao comparar o banco de dados da Cid Collection, empresa
que detinha a coleção, e as
obras que a Justiça determinara que fossem seqüestradas, o
procurador Silvio Luís Martins
de Oliveira contabilizou a falta
de 38 obras. Foi por essa conta
que Martins de Oliveira concluiu que o ex-banqueiro desaparecera com obras que deveriam estar seqüestradas.
Edemar confirmou ao juiz
que as obras de Moore, Léger,
Basquiat e Anish Kapoor estavam na Suíça e que as vendeu
posteriormente. A revelação
dos compradores, segundo o
ex-banqueiro, significaria violar a confidencialidade de negócios realizados no exterior.
O juiz diz na sentença que a
evidência de que Edemar não
apresentou à Justiça todas as
obras que tinha à época do seqüestro é o fato de ter apresentado agora um trabalho de Henri Matisse (1869-1954).
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