São Paulo, terça-feira, 27 de maio de 2008

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País deve usar petróleo para se industrializar, diz Lula

Para ele, descoberta no pré-sal não deve servir apenas para agigantar Petrobras

Industrialização do país consolidaria um modelo de desenvolvimento baseado numa indústria nacional forte, afirma o presidente

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Num discurso pontuado pela defesa da indústria naval brasileira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o país tem de aproveitar as descobertas de petróleo na camada pré-sal para se "industrializar", e não apenas para converter a Petrobras numa "grande exportadora de petróleo".
"Eu não quero que a Petrobras, porque descobriu o pré-sal, vire apenas uma grande exportadora de petróleo, não. Vamos exportar, mas não quero que o presidente do Brasil coloque aquele pano na cabeça como se fosse um xeique do petróleo, não. Eu quero que a gente aproveite esse petróleo para industrializar este país, para consolidar um modelo de desenvolvimento baseado numa indústria nacional forte", disse Lula.
O presidente ressaltou também o papel da estatal como instrumento de política industrial. "É preciso ter consciência de que uma empresa como a Petrobras não pode existir apenas para ser a sexta maior empresa do mundo, a terceira maior empresa das Américas [em valor de mercado]. Ela existe também para ser alavancadora do desenvolvimento deste país e a geradora de oportunidades para outros setores da sociedade."
Para o presidente, a Petrobras não pode se pautar exclusivamente por decisões empresariais -ainda que perca, no curto prazo, com tal posição.
"Se a gente deixasse a nossa querida Petrobras trabalhar apenas pela cabeça empresarial, se ela apenas pensasse em perdas e ganhos de curto prazo, obviamente que ficaria mais fácil para a Petrobras comprar lá fora. Isso é verdade, mas a visão não pode ser apenas a de curto prazo."

Encomendas nacionais
Mesmo mais caras, o presidente ressaltou a importância das encomendas da estatal à indústria nacional como forma de irradiar o crescimento a outros setores -foi o governo Lula que introduziu, em 2003, regras de conteúdo nacional mínimo (inicialmente de 60%) nas licitações da companhia.
"A imbecilidade chega a tal ponto que as pessoas não se lembram que se a gente investir vai contratar trabalhadores, que vão ganhar um salário, que vão virar consumidores, que vão cuidar da família. Portanto, vão gerar emprego no comércio, que vai gerar trabalho na fábrica, que vai ter mais um trabalhador, que vai ter mais um consumidor."

"Homens produtivos"
Segundo Lula, desse modo se constrói "uma nação de homens produtivos", mesmo que à custa de despesas maiores nas encomendas da Petrobras. "É mais fácil ir à Correia, a Cingapura, à Noruega e comprar um navio pronto. Dá menos trabalho. Não tem nenhum problema. Quem sabe saísse um pouco mais baratinho do que construir aqui."
A uma platéia de trabalhadores e executivos da indústria naval e políticos, o presidente afirmou que, "nas duas últimas décadas, se vendeu a idéia de que nós não precisaríamos produzir nada" -pensamento responsável pelo sucateamento do setor naval. "Era mais fácil a política do prato feito: comprar tudo pronto."
Tal política, disse Lula, empurrou "um exército de adolescentes" sem oportunidades para a criminalidade. "É esse o papel que o Estado brasileiro tem de jogar [o de indutor do crescimento] porque, se não for o orgulho de vocês estarem de macacão cuidando dos filhos de vocês, o crime organizado está aí à espera dos deserdados deste país."


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