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País deve usar petróleo para se industrializar, diz Lula
Para ele, descoberta no pré-sal não deve servir apenas para agigantar Petrobras
Industrialização do país consolidaria um modelo de desenvolvimento baseado numa indústria nacional forte, afirma o presidente
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Num discurso pontuado pela
defesa da indústria naval brasileira, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva disse ontem que o
país tem de aproveitar as descobertas de petróleo na camada
pré-sal para se "industrializar",
e não apenas para converter a
Petrobras numa "grande exportadora de petróleo".
"Eu não quero que a Petrobras, porque descobriu o pré-sal, vire apenas uma grande exportadora de petróleo, não. Vamos exportar, mas não quero
que o presidente do Brasil coloque aquele pano na cabeça como se fosse um xeique do petróleo, não. Eu quero que a gente aproveite esse petróleo para
industrializar este país, para
consolidar um modelo de desenvolvimento baseado numa
indústria nacional forte", disse
Lula.
O presidente ressaltou também o papel da estatal como
instrumento de política industrial. "É preciso ter consciência
de que uma empresa como a
Petrobras não pode existir apenas para ser a sexta maior empresa do mundo, a terceira
maior empresa das Américas
[em valor de mercado]. Ela
existe também para ser alavancadora do desenvolvimento
deste país e a geradora de oportunidades para outros setores
da sociedade."
Para o presidente, a Petrobras não pode se pautar exclusivamente por decisões empresariais -ainda que perca, no
curto prazo, com tal posição.
"Se a gente deixasse a nossa
querida Petrobras trabalhar
apenas pela cabeça empresarial, se ela apenas pensasse em
perdas e ganhos de curto prazo,
obviamente que ficaria mais fácil para a Petrobras comprar lá
fora. Isso é verdade, mas a visão
não pode ser apenas a de curto
prazo."
Encomendas nacionais
Mesmo mais caras, o presidente ressaltou a importância
das encomendas da estatal à indústria nacional como forma
de irradiar o crescimento a outros setores -foi o governo Lula que introduziu, em 2003, regras de conteúdo nacional mínimo (inicialmente de 60%)
nas licitações da companhia.
"A imbecilidade chega a tal
ponto que as pessoas não se
lembram que se a gente investir
vai contratar trabalhadores,
que vão ganhar um salário, que
vão virar consumidores, que
vão cuidar da família. Portanto,
vão gerar emprego no comércio, que vai gerar trabalho na
fábrica, que vai ter mais um trabalhador, que vai ter mais um
consumidor."
"Homens produtivos"
Segundo Lula, desse modo se
constrói "uma nação de homens produtivos", mesmo que
à custa de despesas maiores nas
encomendas da Petrobras. "É
mais fácil ir à Correia, a Cingapura, à Noruega e comprar um
navio pronto. Dá menos trabalho. Não tem nenhum problema. Quem sabe saísse um pouco mais baratinho do que construir aqui."
A uma platéia de trabalhadores e executivos da indústria
naval e políticos, o presidente
afirmou que, "nas duas últimas
décadas, se vendeu a idéia de
que nós não precisaríamos produzir nada" -pensamento responsável pelo sucateamento do
setor naval. "Era mais fácil a
política do prato feito: comprar
tudo pronto."
Tal política, disse Lula, empurrou "um exército de adolescentes" sem oportunidades para a criminalidade. "É esse o papel que o Estado brasileiro tem
de jogar [o de indutor do crescimento] porque, se não for o orgulho de vocês estarem de macacão cuidando dos filhos de
vocês, o crime organizado está
aí à espera dos deserdados deste país."
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