São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FRAUDES DO CAPITAL

Bolsas da Ásia e da Europa e teles sofrem perdas pesadas; fraude contábil pode levar WorldCom à concordata

Nova megafraude nos EUA abala mercados

DA REDAÇÃO

A revelação da fraude contábil de US$ 3,8 bilhões na WorldCom, a empresa norte-americana de telecomunicações que controla a Embratel, deu um duro golpe no já reduzido apetite por negócios de risco (Brasil entre eles) dos investidores internacionais.
As Bolsas de todo o planeta enfrentaram um dia de pânico. As empresas de telecomunicações lideraram as perdas. O dólar se desvalorizou ainda mais, e o euro chegou a quase US$ 1, num sinal de descrédito em relação à economia dos EUA.
Depois do colapso da Enron, até o ano passado a maior empresa energética do planeta, agora uma das maiores teles está prestes a pedir concordata. O preço de cada ação da WorldCom, que chegou a valer US$ 90 em 1999, no auge da bolha das empresas tecnológicas, desabou ontem para US$ 0,09, antes de os negócios com os papéis serem suspensos.
O escândalo deixa a WorldCom, que já enfrentava problemas de caixa, numa situação ainda mais delicada. A companhia vinha tentando levantar US$ 5 bilhões em novos recursos com os bancos norte-americanos, mas o acordo já estaria morto, de acordo com uma pessoa familiar às negociações. Sem o empréstimo, necessário para saldar os serviços da dívida de US$ 30 bilhões, a concordata seria inevitável.

Efeito dominó
A Nasdaq, Bolsa em que as ações da WorldCom eram negociadas, desabou para o seu menor nível em três anos e meio no início do pregão. Mas, ao longo do dia, recuperou as perdas e fechou com ligeira alta, devido à compra de papéis tidos como baratos.
"O mercado de ações se transformou em uma experiência semelhante a fazer uma aposta com um trapaceiro", disse Charles White, diretor de investimentos da corretora Avatar Associates. "Quando as pessoas não acreditam na lisura do jogo, elas não apostam. Essa é a crise de confiança com a qual nos debatemos."
Os mercados asiáticos e europeus se anteciparam aos efeitos que o escândalo teria no mercado norte-americano e tiveram grandes perdas, descendo aos menores níveis em oito meses.
O índice Nikkei, da Bolsa de Tóquio, caiu 4% e sofreu o maior tombo desde setembro, quando os mercados foram afetados pelos ataques terroristas a Nova York e Washington. A Bolsa de Londres chegou a cair até 4%, antes de fechar com retração de 2,16%.
As ações da Alcatel, uma das maiores empresas de equipamentos de telecomunicações, caíram 16,5% na Bolsa de Paris. Os papéis da France Telecom caíram 8% ontem e já perderam 70% de seu valor nos últimos três meses. A norte-americana Qwest, cuja contabilidade passar por investigações, desabou 57% no dia.
O novo escândalo corporativo norte-americano atingiu também os papéis dos bancos credores da WorldCom e de vários fornecedores de equipamentos de telecomunicações. As ações do banco JP Morgan caíram 5,5% e as do Citigroup, 6%. Já a Lucent, fabricante de equipamentos, perdeu 18,7%.
Depois de o escândalo vir à tona, as principais agências de classificação de crédito rebaixaram a WorldCom. Mas a ação teve pouco efeito, porque os papéis da companhia já eram considerados "junk bonds" (de elevado risco).
Até a noite de ontem, a WorldCom não havia informado se irá pedir concordata, a fim de evitar a falência. Mas a empresa já anunciou que cortará 17 mil funcionários (20% do pessoal).


Com agências internacionais


Texto Anterior: Bush se diz "indignado" com escândalo
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.