São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 2002

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DOSE DE CALMANTE

Fundo não cita Lula, mas vê positivamente "recentes demonstrações de apoio a políticas responsáveis"

FMI diz que trabalha com qualquer eleito

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O FMI (Fundo Monetária Internacional) tomou ontem uma atitude ousada para tentar reduzir o fator político da turbulência financeira no Brasil e desfazer o estrago causado por declaração da semana passada do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Paul O'Neill.
Em nota divulgada pelo porta-voz da instituição, Thomas Dawson, o Fundo comunica que, depois das eleições, pretende trabalhar com "qualquer nova administração comprometida com a implementação de políticas econômicas sólidas".
Embora não mencione o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, a nota faz referência indireta ao candidato do PT ao dizer que o FMI recebe positivamente "as recentes demonstrações de amplo apoio dentro do Brasil à manutenção de políticas econômicas responsáveis até a eleição presidencial e depois, já numa nova administração."
No sábado, Lula divulgou uma carta de intenções sobre o que seriam as linhas gerais do seu programa econômico. O candidato que lidera as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de outubro prometeu manter os equilíbrios fiscal e orçamentário e honrar a dívida pública do país. Lula quis reduzir o temor de investidores que esperam, com sua eventual vitória, uma mudança substancial da política econômica atual.

O'Neill
Na sexta-feira passada, O'Neill colocou-se contra uma nova ajuda do FMI ao Brasil ao afirmar que "despejar dinheiro de contribuintes norte-americanos em uma incerteza política no Brasil não parece inteligente."
A declaração derrubou os mercados brasileiros e irritou o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro da Fazenda, Pedro Malan. Ambos telefonaram para a cúpula do governo norte-americano para pedir uma retratação de O'Neill, que veio mais tarde na forma de um esclarecimento.
Embora os EUA também tenham autorizado o FMI a divulgar uma nota ontem, para compensar o deslize de O'Neill, a Casa Branca realmente acredita que a crise financeira brasileira tem somente uma causa: política.
A equipe econômica brasileira entende que O'Neill não só cometeu um equívoco - porque o Brasil não teria pedido qualquer aumento no valor do empréstimo do FMI- como também foi inábil, já que esse tipo de declaração limita projeto de investimento externos no Brasil.



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