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São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2003

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"ESPETÁCULO DO CRÉDITO"

Direcionamento é criticado

Para Febraban, decisão do governo significa "intervenção nos bancos"

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Gabriel Jorge Ferreira, criticou a decisão do governo de obrigar os bancos a destinar 2% dos depósitos à vista em conta corrente para operações de microcrédito.
"Direcionamentos de crédito são formas de intervir no setor", disse ele à Folha. Ele fez uma analogia à indústria automotiva. Disse que o direcionamento de crédito seria como se o governo obrigasse as montadoras a produzir determinado tipo de carro.
"O crédito já é escasso no Brasil. Quase tudo é desviado para o Estado [financiamento da dívida interna]. Do que sobra, grande parte é recolhida no compulsório. Resta pouco para o banco emprestar", disse.
Segundo Ferreira, o direcionamento de crédito, como a obrigação de repasse de 60% do dinheiro depositado na poupança para o crédito imobiliário, é um dos componentes da formação do alto "spread" (diferença entre o custo de captação de recursos dos bancos e as taxas cobradas dos clientes) embutido nos juros.
Ele entende que o novo mecanismo deve gerar algum impacto no "spread" embutido nas operações de crédito com recursos livres. Ferreira acredita que o efeito, no entanto, não terá maiores proporções porque o Banco Central deve reduzir, em breve, as alíquotas do compulsório, que "estão em níveis já muito elevados".
"O governo jamais adotaria o direcionamento como política de crédito. Essa medida foi adotada em caráter emergencial, para estimular o crescimento", disse.
Apesar das críticas ao novo mecanismo, o presidente da Febraban elogiou a iniciativa do governo de anunciar medidas para "bancarizar" a população de baixa renda. Um dos pontos do pacote é a criação das chamadas "contas sociais", que poderão ser abertas nos bancos pelos interessados somente com a apresentação de CPF e identidade.
Na opinião de Ferreira, as instituições financeiras terão como atender essa demanda do governo, de oferecer serviço bancário aos mais pobres, sobretudo por meio dos correspondentes bancários (supermercados, farmácias, lotéricas etc.)
Ontem, o "Diário Oficial" da União trouxe a medida provisória assinada pelo presidente Lula autorizando o Conselho Monetário Nacional a regulamentar a destinação dos 2% ao microcrédito.


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