|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"ESPETÁCULO DO CRÉDITO"
Direcionamento é criticado
Para Febraban, decisão do governo significa "intervenção nos bancos"
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos),
Gabriel Jorge Ferreira, criticou a
decisão do governo de obrigar os
bancos a destinar 2% dos depósitos à vista em conta corrente para
operações de microcrédito.
"Direcionamentos de crédito
são formas de intervir no setor",
disse ele à Folha. Ele fez uma analogia à indústria automotiva. Disse que o direcionamento de crédito seria como se o governo obrigasse as montadoras a produzir
determinado tipo de carro.
"O crédito já é escasso no Brasil.
Quase tudo é desviado para o Estado [financiamento da dívida interna]. Do que sobra, grande parte é recolhida no compulsório.
Resta pouco para o banco emprestar", disse.
Segundo Ferreira, o direcionamento de crédito, como a obrigação de repasse de 60% do dinheiro depositado na poupança para
o crédito imobiliário, é um dos
componentes da formação do alto "spread" (diferença entre o
custo de captação de recursos dos
bancos e as taxas cobradas dos
clientes) embutido nos juros.
Ele entende que o novo mecanismo deve gerar algum impacto
no "spread" embutido nas operações de crédito com recursos livres. Ferreira acredita que o efeito, no entanto, não terá maiores
proporções porque o Banco Central deve reduzir, em breve, as alíquotas do compulsório, que "estão em níveis já muito elevados".
"O governo jamais adotaria o
direcionamento como política de
crédito. Essa medida foi adotada
em caráter emergencial, para estimular o crescimento", disse.
Apesar das críticas ao novo mecanismo, o presidente da Febraban elogiou a iniciativa do governo de anunciar medidas para
"bancarizar" a população de baixa renda. Um dos pontos do pacote é a criação das chamadas
"contas sociais", que poderão ser
abertas nos bancos pelos interessados somente com a apresentação de CPF e identidade.
Na opinião de Ferreira, as instituições financeiras terão como
atender essa demanda do governo, de oferecer serviço bancário
aos mais pobres, sobretudo por
meio dos correspondentes bancários (supermercados, farmácias,
lotéricas etc.)
Ontem, o "Diário Oficial" da
União trouxe a medida provisória
assinada pelo presidente Lula autorizando o Conselho Monetário
Nacional a regulamentar a destinação dos 2% ao microcrédito.
Texto Anterior: País está no limiar de uma recessão, diz Piva Próximo Texto: Presidente da Seade se demite após conflito com Dieese por pesquisa Índice
|