São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

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Hoje vedetes, agricultura e exportação sofreram no início

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Principais motores da economia brasileira, o agronegócio e o setor exportador foram segmentos sacrificados nos primeiros cinco anos de adoção do real.
No ano seguinte à implementação da nova moeda, em 1995, a balança comercial registrou um déficit de US$ 3,4 bilhões. O saldo de trocas comerciais do Brasil com o exterior continuou deficitário até 2001, quando registrou um superávit de US$ 2,6 bilhões.
Para criar a chamada "âncora verde", como é chamada a estabilização dos preços dos alimentos em patamares mais baixos, a renda do produtor agrícola foi enxugada, ao mesmo tempo em que a política monetária de elevação de taxas de juros encareceu o crédito.
"Em 1995, a taxa de correção das dívidas ficou em torno de 80%, e a queda dos preços agropecuários ficou em torno de 20% em termos reais. Esse aumento de encargos financeiros para o crédito, que passou a ser corrigido pela TR [Taxa Referencial] e pela TJLP [Taxa de Juros de Longo Prazo], foi problemático no início do real", diz Getúlio Pernambuco, do Departamento Econômico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Os percalços da agropecuária nos primeiros anos do real podem ser vistos nas taxas de elevação do PIB (Produto Interno Bruto) do período. Em 1995, houve crescimento de 1,8% no segmento agrícola, contra 4,2% do PIB nacional. No ano seguinte, a agropecuária teve uma retração de 3,2%, ante expansão de 2,7% do desempenho total brasileiro. A recuperação da agropecuária só veio em 1998, com uma taxa de 6,2%.
Mas segundo Carlos Bacha, professor da USP, ao contrário de alguns outros setores, as exportações agrícolas no período entre 1994 e 1998 não foram prejudicadas pela valorização cambial por causa da Lei Kandir. Criada em 1996, a lei isentava as exportações de produtos agropecuários "in natura" do pagamento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Dados da CNA revelam que o superávit das exportações do setor agrícola chegou a US$ 6,3 bilhões.

Estabilidade
"A agricultura viveu dois períodos no Plano Real. Um mais complicado, que durou até 1998, e um outro, de expansão, a partir de 1999, com a desvalorização cambial", diz Glauco Carvalho, da consultoria MB Associados.
A virada do setor agrícola também foi propiciada pelo surgimento de linhas de crédito para o setor mais baratas, como o Moderfrota, do BNDES.
Na avaliação de Mauro de Rezende Lopes, professor da FGV-RJ, esse tipo de financiamento é um legado da estabilidade monetária do Plano Real.
O maior grau de previsibilidade do cenário econômico, fruto de índices mais baixos da inflação pós-real, também foi considerado pelo presidente da Abag (Associação Brasileira de Agribusiness), Carlo Lovatelli, como um fator-chave para o agronegócio.
Nos últimos dez anos, o índice de mecanização rural cresceu. O número de trator de rodas por hectare plantado subiu de 107, em 1995, para 148, em 2003. Para este ano, a estimativa do Deral (Departamento de Economia Rural) do Estado do Paraná é que o número chegue a 159. "Com mais investimento e tecnologia, passamos a ser um dos maiores provedores [de bens agrícolas] do mundo", diz Lovatelli.


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