São Paulo, domingo, 27 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Produtos líderes perdem espaço no mercado

Explosão de consumo verificada no início da nova moeda não se manteve, devido à redução da renda do trabalhador brasileiro

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apoiado no bom humor do início do Plano Real, o brasileiro comprou requeijão, amaciante de roupas e cremes e loções -produtos até então restritos aos mais ricos. Mas a curva mudou de direção: nos últimos cinco anos, houve uma forte inversão na tendência de expansão na demanda.
As perdas se espalharam por diversas categorias de produtos. Dados da consultoria LatinPanel mostram que 52% dos produtos líderes de mercado no país perderam espaço na segunda metade dos anos de real.
Em 1995, o consumo de 95% das categorias de produtos, como sabão em pó e geléia, por exemplo, aumentava mais de 3% ao ano.
Em 2003, apenas 28% deles repetiam o resultado e 40% registravam queda nas vendas, de acordo com estudo da AC Nielsen.
Três anos após o lançamento do real, 44% das donas-de-casa compravam sorvete, e 72%, achocolatados, segundo a consultoria Ipsos-Marplan. Já em 2002, a taxa caiu para 35% e 65%, respectivamente.
A explicação para as mudanças na lista de compras do consumidor estava na redução da renda e na piora dos indicadores sociais. A renda do brasileiro em 1997, segundo a Ipsos-Marplan, corrigida pelo IPCA, estava em R$ 2.272. Em 2003, caiu para R$ 1.540.

Inflação
As variações da inflação também prejudicaram o desempenho. Em 1999, a disparada do câmbio pressionou a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) para o maior patamar em cinco anos. Em 2000, a taxa ficou em 4,6%, mas voltou a subir em 2002 e 2003.
"Nós caímos na real e percebemos que os ganhos passados eram ilusórios. E o problema foi que mantivemos a moeda valorizada artificialmente e, quando não foi mais possível sustentar aquele câmbio, ficamos pobres", afirma Nelson Barrizelli, professor de economia da USP (Universidade de São Paulo).

Recuperação
Apenas nos primeiros meses de 2004 as grandes fabricantes do país começaram a sentir uma melhora mais forte na demanda por suas mercadorias.
Informações obtidas pela Folha mostram que, no primeiro quadrimestre de 2004, 4% mais domicílios entraram na lista de famílias em consumo ativo em relação a igual período do ano passado. No caso das classes de renda mais baixa, essa alta foi de 7%. Os dados são da LatinPanel, que faz a pesquisa nas casas das famílias.
Na avaliação de Maria Andrea Murati, analista da LatinPanel, "os ganhos obtidos, com a inclusão de uma nova massa de consumidores no mercado, não serão facilmente perdidos", afirmou.
"O tombo na demanda após 1997 reduziu drasticamente o poder de consumo, mas não "apagou" os avanços obtidos naquele movimento de inclusão social", declara a analista.
Entre as mercadorias que ampliaram a participação nas vendas estão os refrigerados "petit suisse" (pequenos iogurtes), com aumento de 362% no volume comercializado de 1992 a 2001. A expansão se concentrou em três anos -de 1995 a 1998. No caso dos amaciantes, a alta foi de 374% -vedete do plano econômico, segundo relatório da LatinPanel, que verifica os hábitos de compra de 6.000 famílias no país.
A demanda por itens como o frango, carne símbolo do programa econômico, aumentou 20% em 1994. O quilo do produto chegou a custar R$ 1.
Segundo Fernanda Della Rosa, diretora da assessoria econômica da Fecomercio SP, houve aumentos pontuais nas vendas de algumas mercadorias.
Della Rosa diz que o crescimento médio do faturamento real do comércio em São Paulo foi tímido nos dez anos do plano.
"Pelas nossas contas, a expansão foi de 1,75% ao ano apenas", afirma.


Texto Anterior: Erros
Próximo Texto: Análise: Política vence economia no gasto social
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.