São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Furlan pede que Argentina reduza restrições

Ministro diz que a recuperação do vizinho tornou sem sentido as restrições aos produtos do Brasil

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

Em Buenos Aires para anunciar o novo acordo automotivo com a Argentina, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, aproveitou o encontro com o presidente Néstor Kirchner para enviar um recado incômodo: o Brasil quer eliminar as restrições às exportações brasileiras ao vizinho.
Há cerca de dois anos, no auge das "guerras comerciais" bilaterais, e depois de medidas unilaterais tomadas pela Argentina para barrar a compra de produtos brasileiros, setores como o de geladeiras e fogões, sapatos e móveis acertaram cotas máximas de importação.
Segundo Furlan, com a recuperação da economia argentina, os limites perdem o sentido. "Levantei a questão com o presidente Kirchner e com a ministra Miceli [Economia] e com De Vido [Planejamento]. É chegado o momento adequado. Depois de dois anos e meio os motivos que existiam para limitar as importações, como a de calçados, provavelmente desapareceram", disse Furlan.
Para o ministro, agora é a indústria brasileira que se encontra em desvantagem por causa da diferencia cambial (um dólar equivale a cerca de 3,10 pesos, cerca de 40% de desvalorização em relação ao real).
Furlan afirmou que a boa relação entre os governos Kirchner e Lula "abre espaços" para a negociação das salvaguardas.
Para justificar o pedido, o ministro citou o caso da indústria brasileira de eletrodomésticos da linha branca (refrigeradores e fogões), que reduziu em 3% a produção em 2005. "Foi um dos únicos casos de redução. O mercado argentino representa mais de 40% das nossas exportações".
O pedido de Furlan foi rechaçado por uma associação de fabricantes de eletrodomésticos argentinos. "As cotas seguem sendo necessárias. O setor argentino conta com elas para executar seus planos de investimentos e se consolidar. Hoje,o Brasil tem 40% do mercado, mais do os 25% que tinha em 1997, que era a média histórica", disse à Folha Carlos Chantré, da Cariaa (Câmara Argentina de Indústrias de Refrigeração e Ar Condicionado).
A Argentina acumula déficit comercial com o Brasil há pelo menos 36 meses.
O ministro brasileiro anunciou ao lado de Kirchner o novo acordo automotivo bilateral que valerá por dois anos. Prevê que a cada US$ 100 exportado pela Argentina, o país poderá comprar do Brasil até US$ 195. Até agora, era US$ 260.


Texto Anterior: Reajuste de aposentadorias aumenta o déficit do INSS
Próximo Texto: Cresce peso das exportações na indústria
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.