São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2008

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Alta da inflação afeta renda do trabalhador

Rendimento médio recua 1% em maio sob reflexo da alta de preços, especialmente dos alimentos, segundo o IBGE

Entre as categorias analisadas, só os que têm carteira assinada viram sua renda subir; analista diz que tendência é de piora

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O trabalhador já começa a sentir no bolso o repique da inflação: o rendimento médio caiu 1% nas seis principais regiões metropolitanas do país de abril para maio, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística). Na comparação com maio de 2007, a renda se desacelerou e subiu 1,5%, num ritmo mais moderado -a alta média de janeiro a abril ficou em 2,7%.
Se a renda já dá sinais de deterioração, a taxa de desemprego, por sua vez, cedeu com força em maio. Ficou em 7,9%, a mais baixa desde dezembro de 2007 (7,4%) e a segunda menor de toda a série histórica, iniciada em março de 2002. Em abril, havia sido de 8,5%.
Único destaque negativo do mercado de trabalho em maio, a renda caiu na esteira da inflação mais alta, pressionada pelo choque dos preços dos alimentos. O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) subiu 0,97% nas seis regiões metropolitanas em maio, acima da variação de abril (0,59%).
"A inflação mais elevada já começa a deteriorar o rendimento do trabalhador. Essa tendência já foi observada em algumas regiões no mês passado [abril], mas se intensificou em maio", diz Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
Se não fosse o efeito da inflação, o rendimento teria crescido ligeiramente de abril para maio, segundo Azeredo Pereira. Em abril, a renda subiu 1%.
Das 6 áreas pesquisadas, a renda recuou em 4: Recife (-5,7%), Rio de Janeiro (-1,7%), São Paulo (-1,1%) e Porto Alegre (-2,6%). Cresceu apenas em Salvador (3,9%) e em Belo Horizonte (1,2%).
Entre as categorias de ocupação, só os trabalhadores com carteira assinada viram o rendimento subir -0,5% de abril para maio. Os por conta própria tiveram a maior perda -1,3%.
"O mercado de trabalho foi bem em maio, mas o lado negativo ficou com a queda da renda real, corroída pela inflação. Já era de esperar um resultado ruim porque a inflação veio muito alta em maio. A expectativa é que a renda real recue mais nos próximos meses, já que não se espera um arrefecimento da inflação", afirma Lygia Cesar, economista da MCM Consultoria.

Reajustes
Segundo Fábio Romão, da LCA, a queda da renda não surpreende e reflete a dificuldade de as categorias profissionais conseguirem reajustes melhores num ambiente de inflação elevada. Ele também acredita que o rendimento se manterá em queda nos próximos meses.
Romão afirma ainda que a queda da renda já rebateu na massa salarial, que só não teve um desempenho pior porque a ocupação continuou em alta. A massa de rendimentos caiu 0,3% em maio, após expansão de 1,3% em abril.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), além do efeito da inflação, outro fator que influenciou negativamente o rendimento foi o perfil de crescimento do emprego, liderado pelo setor da construção civil, cujos salários são mais baixos.
Com o recrudescimento da inflação, a renda não recuperou ainda as perdas do final de 2002, de 2003 e do início de 2004, períodos nos quais o país ainda vivia os efeitos da crise com a eleição presidencial. Estimado em R$ 1.208 em maio, o rendimento ficou 5,1% menor do que no mesmo mês de 2002. Diante das previsões negativas, a recomposição parece agora estar mais distante, diz Romão.


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