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Alta da inflação afeta renda do trabalhador
Rendimento médio recua 1% em maio sob reflexo da alta de preços, especialmente dos alimentos, segundo o IBGE
Entre as categorias
analisadas, só os que têm
carteira assinada viram sua
renda subir; analista diz
que tendência é de piora
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O trabalhador já começa a
sentir no bolso o repique da inflação: o rendimento médio
caiu 1% nas seis principais regiões metropolitanas do país de
abril para maio, de acordo com
o IBGE (Instituto Brasileira de
Geografia e Estatística). Na
comparação com maio de 2007,
a renda se desacelerou e subiu
1,5%, num ritmo mais moderado -a alta média de janeiro a
abril ficou em 2,7%.
Se a renda já dá sinais de deterioração, a taxa de desemprego, por sua vez, cedeu com força
em maio. Ficou em 7,9%, a mais
baixa desde dezembro de 2007
(7,4%) e a segunda menor de
toda a série histórica, iniciada
em março de 2002. Em abril,
havia sido de 8,5%.
Único destaque negativo do
mercado de trabalho em maio,
a renda caiu na esteira da inflação mais alta, pressionada pelo
choque dos preços dos alimentos. O INPC (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor) subiu 0,97% nas seis regiões metropolitanas em maio, acima da
variação de abril (0,59%).
"A inflação mais elevada já
começa a deteriorar o rendimento do trabalhador. Essa
tendência já foi observada em
algumas regiões no mês passado [abril], mas se intensificou
em maio", diz Cimar Azeredo
Pereira, gerente da Pesquisa
Mensal de Emprego do IBGE.
Se não fosse o efeito da inflação, o rendimento teria crescido ligeiramente de abril para
maio, segundo Azeredo Pereira. Em abril, a renda subiu 1%.
Das 6 áreas pesquisadas, a
renda recuou em 4: Recife
(-5,7%), Rio de Janeiro (-1,7%),
São Paulo (-1,1%) e Porto Alegre (-2,6%). Cresceu apenas em
Salvador (3,9%) e em Belo Horizonte (1,2%).
Entre as categorias de ocupação, só os trabalhadores com
carteira assinada viram o rendimento subir -0,5% de abril
para maio. Os por conta própria
tiveram a maior perda -1,3%.
"O mercado de trabalho foi
bem em maio, mas o lado negativo ficou com a queda da renda
real, corroída pela inflação. Já
era de esperar um resultado
ruim porque a inflação veio
muito alta em maio. A expectativa é que a renda real recue
mais nos próximos meses, já
que não se espera um arrefecimento da inflação", afirma
Lygia Cesar, economista da
MCM Consultoria.
Reajustes
Segundo Fábio Romão, da
LCA, a queda da renda não surpreende e reflete a dificuldade
de as categorias profissionais
conseguirem reajustes melhores num ambiente de inflação
elevada. Ele também acredita
que o rendimento se manterá
em queda nos próximos meses.
Romão afirma ainda que a
queda da renda já rebateu na
massa salarial, que só não teve
um desempenho pior porque a
ocupação continuou em alta. A
massa de rendimentos caiu
0,3% em maio, após expansão
de 1,3% em abril.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), além do efeito da
inflação, outro fator que influenciou negativamente o rendimento foi o perfil de crescimento do emprego, liderado
pelo setor da construção civil,
cujos salários são mais baixos.
Com o recrudescimento da
inflação, a renda não recuperou
ainda as perdas do final de
2002, de 2003 e do início de
2004, períodos nos quais o país
ainda vivia os efeitos da crise
com a eleição presidencial. Estimado em R$ 1.208 em maio, o
rendimento ficou 5,1% menor
do que no mesmo mês de 2002.
Diante das previsões negativas,
a recomposição parece agora
estar mais distante, diz Romão.
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