São Paulo, sexta-feira, 27 de junho de 2008

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Ipea suspende divulgação trimestral de previsões

Dados serão divulgados uma vez por ano; revisão só em caso de erro comprovado

Decisão baseia-se em orientação da Presidência de tornar o Ipea um órgão que vise o desenvolvimento do país no longo prazo

Marcello Casal Jr. - 7.nov.07/Agência Brasil
Marcio Pochmann, que preside o Ipea; instituto não divulgará mais suas previsões trimestrais

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado à Secretaria de Planejamento de Longo Prazo, anunciou ontem o fim de uma tradição iniciada há mais de uma década. Ele não fará mais revisões trimestrais nas previsões de desempenho da economia.
A decisão foi tomada pela diretoria colegiada do instituto e leva em conta a orientação da Presidência de tornar o Ipea um órgão voltado ao desenvolvimento do país no longo prazo. A mudança foi alvo de críticas entre os economistas ouvidos pela Folha e apontada como um sinal de "esvaziamento" do Ipea.
O instituto costumava divulgar um Boletim de Conjuntura a cada trimestre, com análises das principais variáveis macroeconômicas e projeções para o ano. Com a mudança na diretoria no ano passado, o documento foi substituído por uma Carta de Conjuntura, que mantinha a análise de indicadores como emprego, inflação, comportamento do setor externo, entre outros.
Em março, a metodologia das projeções já havia mudado com a adoção de intervalos. O desempenho do PIB (Produto Interno Bruto), por exemplo, foi estimado na faixa de 4,2% a 5,2% para este ano.

Apenas em março
O instituto informou que só divulgará projeções em março e que elas somente serão revistas caso seja comprovado que elas estão erradas. Segundo o diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, João Sicsú, a necessidade de revisões no curto prazo só se aplica para órgãos responsáveis pela política monetária ou por instituições do mercado financeiro.
"Nossa idéia é não só reconhecer que economistas erram, mas explicar o erro. Todas as vezes que essas previsões forem confirmadas pela realidade ou a realidade desmenti-las, vamos apresentar justificativas do acerto ou do erro."
No caso da inflação, por exemplo, o Ipea havia previsto em março que o índice oficial encerraria o ano com taxa de 4% a 5%. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses até maio está em 5,58%. De acordo com Sicsú, no entanto, as previsões só serão revistas caso a inflação acumulada no ano a partir de janeiro ultrapasse o teto de 5%.
Durante a divulgação da Carta de Conjuntura, técnicos do instituto disseram que já haviam revisto suas projeções e que trabalhavam a partir de novos dados, mas que o instituto havia optado por não divulgá-los. Sicsú afirmou que se trata de projeções individuais dos técnicos, e não de números oficiais do instituto.

Juros
Mesmo sem revisões, o Ipea ressaltou no documento que o cenário de inflação para o ano continua delicado, embora avalie que a alta de preços ainda está bastante concentrada nos alimentos.
O instituto mostra preocupação com a possibilidade de novas altas dos juros e os impactos que elas poderão ter no balanço de pagamentos, na apreciação do real e no mercado de trabalho.
"Como a política monetária necessita de um tempo para surtir efeito, o impacto desse aperto monetário sobre a inflação corrente deve acontecer apenas na margem, sendo realmente mais eficaz a partir de 2009, quando provocará desaceleração do ritmo de crescimento", afirma a carta.


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